terça-feira, 5 de novembro de 2024

Preços de Alimentos são sensíveis à Geopolítica

Outros preços, como o do petróleo e das commodities, também são vulneráveis - contaminando preços nacionais 

guerra, covid, seca


Nesta semana atingi minha 12ª publicação acadêmica do ano, com o artigo Geopolitical Risk and Food Price Inflation: A GVAR Analysis of BRICS and the G7 (Risco geopolítico e inflação de preços de alimentos: uma análise GVAR do BRICS e do G7), publicado na revista The International Trade Journal. O ano tem sido produtivo leitor, pelo menos em termos de publicações. O artigo pode ser visto aqui

O artigo analisou o efeito do risco geopolítico sobre a inflação de preços de alimentos. Eventos como a Guerra entre a Rússia e Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio e recentemente a eleição presidencial dos Estados Unidos elevam o risco geopolítico. O planeta passa a conviver com maior dose de incerteza em relação ao futuro. Eu utilizei um índice que incorpora esses eventos. A figura abaixo apresenta esse índice: 


Note que há vários picos e quedas no índice. No final do período, por volta de 2022M4 (abril de 2022), há enorme alta no índice, refletindo o início da Guerra entre a Rússia e a Ucrânia - a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022; possivelmente o aumento do risco geopolítico perdurou nos meses subsequentes. 

Eu simulei altas no risco geopolítico e verifiquei como os preços de alimentos reagiam. Inicialmente, eu verifiquei como o preço do petróleo (WTI), o preço de bens agrícolas (agri) e preço das commodities (commo) respondiam a esse aumento. Como pode ser visto na figura abaixo, todos esses preços sobem em decorrência do choque geopolítico. Portanto, o risco geopolítico é associado com aumentos nos preços do petróleo, de bens agrícolas e de commodities. Como esses 3 preços influenciam os preços nacionais, é muito provável que os preços domésticos também seriam afetados.


Embora eu não apresente aqui por causa do tamanho das figuras e tabelas (que são muito grandes), os resultados mostraram que tanto os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) quanto do G7 (Estados Unidos, Canada, França, Itália, Alemanha, Japão e Reino Unido) são afetados pelo risco geopolítico. As inflações doméstica são sensíveis aos ventos externos, especialmente os decorrentes de eventos que elevam o risco geopolítico. As estimativas sugeriram que os preços do petróleo, de bens agrícolas e de commodities afetam de forma relevante os preços nacionais. 

Eu encontrei algumas diferenças, como o fato de que os preços nacionais do BRICS são os principais fatores para explicar as variações nos preços de seus alimentos, enquanto que no G7, isso é verdade apenas por 12 meses - depois desse período, preços externos afetam mais os seus preços de alimentos. Uma explicação é que entre o BRICS há muitos produtores de commodities e de bens agrícolas, no sentido de que eles internalizam as variações de preços desses bens. 

Por fim, o artigo teve o mérito de simular a disseminação do risco geopolítico em preços internacionais e nas inflações de preços de alimentos do BRICS e G7, apontando semelhanças e diferenças nestes dois blocos. Por fim, como temos testemunhado desde o choque da Covid-19, a exacerbação do risco geopolítico sempre respinga nos preços de alimentos.









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