Se Acabou, o Que Vem Depois?
O domínio dos Estados Unidos (EUA) vai terminar? Ou está em declínio? Decadência? Essas perguntas são relevantes e voltaram a ser feitas desde a ascensão de Donald Trump como presidente do país. Na verdade, o próprio Trump usou essa dúvida para avançar o seu slogan de campanha: "Make America Great Again" (MAGA). Tradução: Faça a América Grande Novamente.
Em outras palavras, para Trump, o país tem enfrentado uma queda no seu domínio internacional.
Será que é isso mesmo?
Essa é a pergunta do livro de Joseph Nye. Nye tem credenciais para escrever sobre o tópico: foi um cientista político e trabalhou em altos cargos da administração dos EUA. Nye reúne conhecimento acadêmico com prática.
O livro inicia definindo o que é o poder para o país. Poder é a habilidade do país influenciar outros para obter o que deseja por meio de 3 formas: coerção, pagamento e persuasão.
Vamos usar os EUA como exemplo para entender esses pontos. Coerção ocorre quando os EUA impõem tarifas ou sanções financeiras para obter determinado objetivo.
Pagamento é a ajuda financeira de Trump à Argentina de Javier Milei.
Persuasão é a cultura dos EUA que nos afeta e influencia, seja por filmes, produtos e propaganda. Inclui também instituições, como o equilíbrio democrático nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a produção em massa e o consumo em massa.
Podemos perceber que, esteja em declínio ou não, os EUA têm muito poder geopolítico. Isso é, a meu ver, inegável.
Como nos informa o autor, parte desse poder advém de algo sem precedentes que os EUA possuem: uma preponderância militar jamais vista na história. Armas e bombas são importantes na relação entre países.
Os EUA tem várias bases militares espalhadas no planeta, moderno armamento militar, bombas nucleares e alto investimento em inovações militares. É difícil rivalizar com o país.
Todavia, isso não é o suficiente.
O livro nos mostra que países hegemônicos dominam em outras 3 áreas. A militar, como afirmei, juntamente com a econômica e o soft power.
O soft power é o poder de persuasão de um país. Ele é composto pela influência cultural, política e externa. A cultura dos EUA está espalhada entre nós. Politicamente, o país vende ideias democráticas, direitos civis, liberdade individual, economia de mercado e consumismo (nem tudo que é exportado politicamente é bom). No tocante à política externa, vejo como misto a postura dos EUA.
Ela é positiva em apaziguar países, como Trump procedeu com Israel e o grupo terrorista Hamas, mas também gera problemas, como a imposição de tarifas altíssimas sobre diversos países sem uma razão clara (continuo achando uma péssima política econômica).
Esse soft power é importante porque o país que o exerce consegue benefícios sem realmente "entrar em campo".
E a resposta para o título do livro? Nye nos diz que o século americano não acabou, e que provavelmente irá durar algumas décadas ainda.
Por quê?
Há falta de rivais. O livro discute vários possíveis candidatos a substituírem os EUA. Ele cita até mesmo o Brasil!
Claro, ele aponta problemas que explicam porque não iremos dominar a geopolítica. Entre os problemas, temos corrupção, falta de investimento em infraestrutura, baixa inovação tecnológica e alta violência (o que vimos no Rio de Janeiro, na operação contra o Comando Vermelho, reforça esse ponto).
Nada de Brasil dominando o planeta.
O candidato óbvio é a China, com forte crescimento econômico, forte e alto investimento militar, bombas nucleares (aprendi que é bom o país ter armas nucleares, ainda que seja apenas para "assustar" possíveis rivais) e avanços nas áreas espaciais e cibernética.
Parêntese: cresci ouvindo que o Brasil acertou em não possuir armas nucleares. Hoje eu discordo. Deveríamos ter. Países como os EUA pensariam duas vezes antes de lidar com o Brasil.
Enfrentaríamos uma tarifa de 50% se tivéssemos armas nucleares?
Talvez não. Talvez sim.
Uma ideia interessante, que nos mostra uma analogia, é que o futuro pode ser como um teatro com vários temas e peças ocorrendo simultaneamente. Países deveriam escolher onde se alinhar e cooperar. Neste sentido, teríamos o planeta não com a hegemonia de apenas um país, mas com blocos de influência.
Países deveriam escolher com quem cooperar.
Finalmente, na parte final, o autor mostra os problemas que os EUA enfrentam, como a alta desigualdade de renda, uma dívida crescente, problemas educacionais e impasses políticos.
Mas há vantagens relevantes, como a demografia (em comparação com países europeus, os americanos são muito mais jovens), tecnológica (principais empresas de inovação estão por lá), energética (o país é um grande produtor de petróleo), geográfica (não há rivais que dividem fronteiras) e cultura empreendedora aberta, no sentido de incentivar o empreendedorismo e a abertura de empresas.
Vale dizer, empresários ajudam na prosperidade do país. Enquanto aqui no Brasil ainda há muitas críticas e ironias a esses indivíduos, nos EUA eles são mais valorizados.
E deveriam ser valorizados - empresas geram emprego e renda.
Em suma, eu concordo com a avaliação do livro. Os EUA continuam líderes do planeta, mas irão enfrentar uma concorrência crescente. Políticas equivocadas, como as tarifas e as restrições à imigração podem acelerar essa transição para uma ordem com blocos de influência.
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