E depois criticar o resto do mundo
Os atritos entre os Estados Unidos (EUA) e o Brasil continuam. Além da tarifa de 50% sobre o Brasil, mais atos punitivos ao país podem ser implementados por Donald Trump.
Corretamente, o país tem estreitado laços com outros países, como a Índia e a China. É uma forma de mitigar os efeitos negativos advindos de uma tarifa tão elevada.
Por que Trump mirou o Brasil? É uma discussão imensa. Na minha opinião, ocorreu provocação desnecessária por parte do nosso país. O encontro do BRICS foi no Brasil, o nosso presidente criticou abertamente os EUA e o dólar, acolhemos ditaduras inimigas dos EUA, como a China e a Rússia (você acredita que as eleições presidenciais da Rússia são democracia?), e vez ou outra Lula e o seu governo cutucam Trump.
Isso tudo é errado?
Não, não é. Mas é provocação. Como Trump é errático, impulsivo e gosta de atos chamativos, como uma tarifa de 50%, estamos pagando o preço pela provocação.
Trump está certo então? Também não. Como critiquei há um tempo (veja aqui), a política comercial de Trump é bizarramente ruim e grotesca. Algo mercantilista, sistema que morreu no século XVIII - por boas razões.
Amigos e conhecidos que gostavam de criticar o governo Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pararam de fazer analogias com impostos. As tarifas de Trump, tributando praticamente todo o planeta, faz dele o maior propagador de impostos.
Quem diria que um presidente Republicano faria tal coisa.
Quem diria que um sujeito com viés empresarial e de empreendedor colocaria tributos tão extensos no planeta.
A tendência é que todas essas tarifas irão elevar o custo de vida dos EUA, elevar sua inflação e reduzir a criação de empregos. Medidas impopulares para quaisquer presidentes. É um grande tiro no pé - à lá Bolsonaro se colocando contrário às vacinas em plena pandemia.
É difícil racionalizar esse tipo de postura - posturas que prejudicam os seus proponentes. Bolsonaro vem pagando o preço até hoje por seu governo pouco pragmático. Tivesse seguido o feijão com arroz, provavelmente estaria em seu segundo mandato.
Voltando a falar novamente do BRICS e do Brasil, eu não considero prudente a atitude do país em criticar abertamente o dólar.
Somos um país pouco relevante na geopolítica e no sistema financeiro.
A melhor estratégia seria dialogar, sem criticar, tanto com os EUA quanto com a China. Dependemos, financeiramente e economicamente, dos dois países.
Nos tempos de Bolsonaro presidente, ele e sua equipe criticavam abertamente a China. Bastou os chineses ameaçarem em parar de comprar nossas exportações que tudo mudou - a bancada do agronegócio pressionou o governo para melhorar sua postura.
Agora estamos pagando o preço com os EUA por conta dos ataques de Lula e de seu governo.
Imagino que tais ataques são para inflar a base política e mostrar soberania. Mas são pouco funcionais de um ponto de vista pragmático.
A harmonia com os demais países continua sendo a melhor política internacional a ser seguida.
Finalmente, para encerrar o texto, eu não concordo com a criação de pacotes fiscais para proteger empresas e setores expostos às tarifas de 50% de Trump. Se toda adversidade exigir a interferência do governo, viveremos em uma economia com ainda mais ingerência pública.
Embora o atrito com os EUA tenha colocado o debate fiscal em segundo plano, ainda precisamos de um ajuste fiscal. Nossa economia continua pouco funcional. Temos dívida pública crescente.
Mas estamos criticando o dólar!
E esquecendo dos nossos problemas internos.
Que inversão de prioridades!
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