Conjuntura externa desfavorável prejudica desempenho doméstico
Minha mais recente publicação é o artigo Impact of Oil and Agricultural Shocks on the Financial Markets of Emerging Market Economies, na revista International Economic Journal. Em português, o título seria O Impacto de Choques Agrícolas e de Petróleo nos Mercados Financeiros de Economias de Mercado Emergentes. Analisei como o mercado de ações, o mercado de câmbio, e o mercado de crédito de 6 economias emergentes (Brasil, Chile, México, Índia, África do Sul e Turquia) reagem quando esses choques acontecem.
Inicialmente eu simulei um choque positivo no preço do petróleo - algo similar com o que experimentamos após o fim da Covid-19, com a eclosão da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, e com o corte na produção de petróleo pela OPEP. Esses eventos ajudaram a elevar o preço internacional do petróleo. Intuitivamente, sabemos que esse aumento de preço causa várias consequências em outras localidades, entre elas o Brasil. A dificuldade, entretanto, e aqui entra a contribuição da ciência, é mostrar estatisticamente e matematicamente que isso de fato ocorre. Eu conectei o choque do petróleo aos 3 mercados financeiros acima mencionados.
O aumento do preço do petróleo afeta de forma mais forte os mercados de ações, e em seguida o mercado de câmbio. Há respostas negativas nestes dois mercados, com quedas nos preços das ações e desvalorização da moeda nacional. No mercado de crédito, por outro lado, eu obtive pouquíssima evidência de influência do preço do petróleo. Desta forma, parte da desvalorização do real em relação ao dólar, segundo esses resultados, poderia ser compreendida pelos preços crescentes do petróleo.
Outra simulação que fiz foi o aumento do preço de commodities agrícolas (soja, café, trigo, açúcar, entre outras). Será que há diferença entre o aumento do preço do petróleo e o de commodities agrícolas nos 3 mercados financeiros? Essa pergunta é interessante porque a maioria das economias emergentes que analisei são exportadoras de commodities, portanto, em tese, elas poderiam se beneficiar de preços internacionais mais elevados; o setor exportador conseguiria maior receita com suas vendas.
Os resultados mostraram que há diferenças e semelhanças. A principal diferença é que as moedas nacionais se valorizam com o aumento do preço de commodities agrícolas. A explicação seria pelo aumento de receitas do setor exportador: maior fluxo de dólares entraria no país, pressionando o câmbio no sentido de se valorizar. No tocante às semelhanças, o mercado de ações perdeu valor (assim como ocorreu com o choque de petróleo) e o mercado de crédito pouco respondeu a esse choque (como anteriormente). Veja que tanto o choque de petróleo quanto o choque agrícola jogam as ações para baixo - novamente podemos conectar esses resultados empíricos com a realidade, na qual o mercado de ações brasileiro tem mostrado dificuldade em ganhar valor frente a conjuntura marcada pelos choques que analisei.
Em resumo, o artigo mostra que choques de petróleo e agrícola causam fortes consequências nos mercados financeiros, com quedas nos preços das ações e, dependendo do choque, desvalorizações/valorizações da moeda nacional. Para economias emergentes, a conjuntura internacional é relevante para entender como a economia nacional irá se comportar. Os formuladores de política econômica deveriam se manter atentos tanto ao que acontece dentro de seus países quanto ao que ocorre fora de suas fronteiras.
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