Quais fatores explicam expressivo número de inadimplentes?
Informações recentes do Serasa fornecem quadro importante para se compreender a população brasileira - pelo menos no tocante às finanças pessoais. As principais contas em atraso são as relacionadas às despesas com água, luz e gás. Em porcentagem, isso representa 46,5% da população com mais de 18 anos. Em outras palavras, 71 milhões de brasileiros estão com contas atrasadas e, portanto, inadimplentes.
É um número expressivo de inadimplentes. Como o país tem mais ou menos 210 milhões de habitantes, temos a proporção de que a cada 3 brasileiros, 1 está com dívidas atrasadas. Analise o seu grupo social. Se não há inadimplentes, você vive em uma bolha - é o meu caso.
Os dados do Serasa indicam enorme dificuldade da população no gerenciamento financeiro. As dívidas em atraso variam de 3500 a 7500 reais. E não confunda inadimplência com endividamento. Inadimplente é o indivíduo que tem dívida e a deixou vencer. O endividado apenas possui dívidas. Eu, por exemplo, sou endividado, pois tenho parcelas no cartão de crédito (meus familiares nunca aceitam quando afirmo que sou endividado, pois relacionam esse termo com dívidas em atraso ou dívidas superiores ao meu salário). Não é o caso. Tudo normal em ser endividado, o problema chega quando essas dívidas não são quitadas em suas datas. Economias de mercado utilizam dívidas para trocarem consumo presente com consumo futuro. Indivíduos seguem a mesma dinâmica: utilizamos crédito para antecipar compras.
Recentemente conversei com uma colega de trabalho sobre poupança, investimento e objetivos financeiros de longo prazo. Em um momento, concluímos que há carência na população a respeito de planejamento financeiro. Variadas razões podem explicar essa lacuna, como rendimento baixo, falta de educação financeira ou mesmo pressão do contexto social. Há pessoas que simplesmente não se importam com o futuro econômico. Priorizam o desfrute do presente em detrimento da segurança financeira no futuro.
São exceções as pessoas que poupam de forma contundente ao longo de meses, investem esse capital em alguns ativos financeiros, e têm disciplina e paciência para esperar anos para recolhê-lo e utilizá-lo. Mesmo em círculos de profissionais de remuneração mais elevada eu não percebo esse padrão. Precisamos de educação financeira.
Gosto de me atualizar com essas informações porque, como já disse, vivo em uma bolha. A análise de dados permite perceber essa bolha. Quando algum amigo (a) me mostra insatisfação com sua renda e padrão de consumo, sempre jogo números mostrando que ele (a) não deveria se sentir assim, pois estão muito acima da renda média nacional (dependendo da fonte, a renda mensal média do brasileiro é de 2900 reais). Conheço pessoas que ganham mais de 6 vezes o valor da renda média nacional, e continuam insatisfeitos com o consumo que possuem; pior, alguns estão com dificuldades financeiras. Novamente, apenas uma minoria das pessoas do meu círculo social se comporta como o esperado em modelos econômicos: poupam, investem e irão recolher maior capital no futuro.
Minha hipótese é que, além da ausência de educação financeira e baixo rendimento salarial, nós brasileiros (talvez a maior parte do mundo) relacionamos uma vida satisfatória e momentos prazerosos com crescentes níveis de consumo. Adicionalmente, o consumo de bens duráveis ajuda (ou melhor dizendo, nos ilude) a superar inseguranças pessoais. Aqui o exemplo padrão e clássico é a aquisição de carros. Possivelmente todos esses fatores contribuem para explicar o elevado nível de brasileiros inadimplentes, e tantos outros, embora não inadimplentes, insatisfeitos com suas rendas e consumo.
PS1.: recentemente escrevi um texto incentivando a poupar. Aos interessados, clique aqui.
PS2: tenho regras de poupança e investimento. Compartilharei elas no futuro. Quem sabe pode ajudar.
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