Estão estreitamente conectados
Minha mais recente publicação é o artigo "Spillover effects from oil markets on international ethanol markets and Chinese electricity production" (Tradução: Efeitos de transbordamento dos mercados de petróleo sobre os mercados internacionais de etanol e sobre a produção de eletricidade chinesa).
Escrevi o artigo com a contribuição de 3 professores e pesquisadores: João Ricardo Faria, Mauro Rodrigues (meu orientador de doutorado na USP) e Emilson Silva. Sem eles, eu não teria conseguido publicar na revista Energy Policy, revista que tinha rejeitado 11 dos meus artigos. A décima segunda tentativa foi bem sucedida. Mais do que isso, essa publicação é o 6º A1 do ano.
Sou grato a esses 3 professores porque, sem a ajuda deles, o material desse blog seria inferior, pois minha pesquisa teria nível inferior. Eles são verdadeiros mestres e professores que ganhei ao longo de minha carreira. Mesmo tendo terminado o doutorado, Mauro tem me ajudado continuamente com os seus ensinamentos e dicas. João e Emilson chegaram depois, mas mantemos uma agenda ativa de pesquisa, escrita, discussão e aprendizado.
É uma parceria que tem me agregado muito.
Nossa proposta no artigo é mostrar que o que ocorre no mercado de petróleo afeta mercados de energia renovável, como o etanol e a produção de eletricidade chinesa. Trabalhos anteriores mostraram que existe um efeito do mercado de petróleo sobre o mercado de etanol. Nós estendemos esse resultado para mercados internacionais de etanol. Esse é o efeito transbordamento do estudo.
Outra contribuição é mostrar que a produção de eletricidade da China é sensível a esses mercados. Como tenho defendido, em publicações anteriores, a estratégia energética chinesa segue o que ocorre em mercados internacionais de energia. Nós aprofundamos essa ideia incorporando os mercados de etanol.
No estudo, nós usamos a Índia, o Brasil, a China e os Estados Unidos (EUA). Veja a figura abaixo, que mostra a produção de energia desses países em proporção com o total de energia mundial. É nítido o avanço da produção de energia chinesa, expandindo para algo em torno de 30% nos últimos anos. Isso significa que, de toda a energia mundial produzida, 30% advém somente da China.
Sim, caros leitores. Nesse ritmo, a China ganhará enorme poder de barganha em negociações internacionais.
A próxima figura mostra os preços do petróleo (oil) e do etanol. Aparentemente, esses preços são muito correlacionados. Não é surpreendente. Por exemplo, aqui no Brasil, os preços do petróleo e do etanol são próximos por determinações da lei, com percentuais de etanol usado na gasolina.
O gráfico abaixo mostra a produção de etanol de cada país em proporção com a produção mundial. Veja que, no início dos anos de 1990, o Brasil era o grande produtor mundial, com 80% de toda a produção do planeta. Perdemos essa posição, sendo ultrapassados pelos EUA. Não obstante, o Brasil ainda abastece 20% de todo o mercado mundial de etanol.
Essas figuras mostram o cenário energético que motivou o artigo. Há clara ascensão da China como um importante player no mercado energético, há esforço de todos os 4 países em produzirem mais etanol e há correlação entre os mercados de petróleo e de etanol.
Bom, feitas essas considerações, a próxima figura mostra uma das simulações realizadas.
A figura abaixo mostra o impacto de um boom econômico puxado pela demanda (lembrando que a demanda agregada reúne o consumo das famílias, investimento, gasto do governo, exportações e importações). A demanda representa a busca de bens e serviços por pessoas, empresas e o governo.
A primeira parte da figura mostra que a produção de etanol sobe no Brasil, na Índia e nos EUA. A segunda parte mostra que o consumo de etanol também sobe nesses países. Portanto, há claro efeito expansivo nos mercados internacionais de etanol.
A última parte mostra que a produção elétrica da China sobe (electricity). Os preços do petróleo e do etanol também mostram subidas.
Além dessa figura, há tantas outras simulações que fizemos, reforçando o ponto de que esses mercados estão conectados, e que a China observa as mudanças que ocorrem envolvendo o petróleo e o etanol.
Enfim, nós contribuímos para a compreensão do cenário energético mundial ao reunir países que estão buscando a proeminência geopolítica (EUA e China) e a independência energética (Índia e Brasil), reduzindo a dependência com o petróleo.
Sem dúvidas, políticas energéticas são um dos componentes que países empregam para se tornarem ricos e desenvolvidos - e talvez hegemônicos.
Aos interessados, o artigo pode ser visto aqui.
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