Dificuldade de avaliar os efeitos da transição energética envolve estratégias empíricas
Meu texto no Boletim Informações Fipe levanta a pergunta: a mudança climática é prejudicial para o crescimento econômico? Eu adiciono: e a transição energética? Nos fará mais ricos?
As tragédias causadas pela mudança climática, como a inundação no Rio Grande do Sul em 2024, mostra que o efeito pode ser negativo. Todavia, a mudança climática, ao elevar a temperatura global, fará com que áreas pouco propícias para a produção agrícola se tornem produtivas - gerando um efeito positivo.
A transição energética, por outro lado, apesar de ser a solução da mudança climática, pode elevar o custo de vida, como tenho argumentado em alguns artigos e publicações científicas. Portanto, não é claro o efeito final sobre o PIB.
No tocante à mudança climática, meu texto diz que depende.
Se modelos empíricos ignorarem o chamado efeito transbordamento da mudança climática, então o efeito é positivo sobre o PIB.
(lembrando que efeito transbordamento é o fato de que as emissões de um país afetam outros países - não é trivial incluir esse efeito em modelos matemáticos)
Eu argumento que a inclusão de efeitos de transbordamento fazem com que a produção de várias economias se reduza com o aquecimento global.
No caso da transição energética, como mostrado na figura abaixo (me desculpem a baixa resolução, problemas na conversão do excel para o PDF), o aumento da produção de energia renovável dos Estados Unidos gera impacto positivo sobre a produção industrial de vários países, como pode ser visto com a subida das linhas tracejadas e sólidas.
Então a transição energética irá gerar maior crescimento econômico? Não, não é tão conclusiva a minha análise.
Uma das maiores limitações dos modelos empíricos que eu utilizo é que eles podem confundir crescimento econômico com aumento de energia renovável.
Eu explico.
Imagine que os Estados Unidos passem a crescer fortemente. Neste cenário, é comum que outras variáveis também se elevem, como o consumo das famílias e o investimento das empresas. O consumo de energia também iria subir.
Podemos imaginar que a produção de energia também iria subir como consequência desse boom econômico. Na prática, é o que costuma ocorrer.
Aí está o problema. O aumento da produção de energia renovável dos EUA pode ser uma consequência de seu maior crescimento econômico. Neste caso, outros países estão produzindo mais energia renovável não por conta da maior produção de renovável dos EUA, mas pelo maior crescimento econômico.
É um dos dilemas de estudos de macroeconomia: muitas coisas acontecem simultaneamente, sendo difícil separar os efeitos.
O meu texto e análise é somente uma das tantas evidências empíricas que devem ser contrastadas com outros trabalhos.
Sim, a ciência trabalha a passos lentos e cautelosos.
O meu texto no Boletim Fipe está aqui, na página 23.
Publiquei um vídeo sobre esse texto:
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