segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Perda de confiança é elemento adicional na piora da economia

Queda da confiança reforça efeitos negativos da ausência de reformas 

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Gestores se esforçam em adquirir a confiança do público. Pouco importa o ramo da atividade. Com confiança, o público tenderá a adquirir os bens e/ou serviços fornecidos pela empresa. No âmbito de Estados ocorre o mesmo esforço. Todo ministro da economia sonha com a confiança da população.

O entrave que esses gestores enfrentam é o de que a confiança não é algo que pode ser controlado ou alterado unilateralmente. A forma de obtê-la, no caso da economia, é entregando resultados esperados ou surpreendendo positivamente os agentes envolvidos. Tome o caso do banco central. Quando ele consegue colocar a taxa de inflação próxima da meta, isso mostra que ele está comprometido com sua função principal, portanto, a expectativa de que essa instituição não deixará os preços se descontrolarem ganha credibilidade, ou seja, ganhou confiança. No arcabouço dos bancos centrais, essa confiança permite ajustar a economia com menores alterações na taxa de juros.

Para o governo, a confiança estaria relacionada com o comportamento de consumidores e investidores - livro de Blanchard reforça esse assunto de forma excelente.  Se ambos aumentarem os seus gastos, a demanda se elevará, empurrando a produção para níveis superiores. Há também efeitos sobre a oferta, pois o investimento de hoje irá maturar em aumento da produção no futuro, elevando a quantidade de bens e serviços da economia. Portanto, são efeitos desejáveis. 

Todavia, a perda de confiança, por exemplo com a informação de que brasileiros estão mais pessimistas quanto ao futuro, tem potencial para prolongar recessões e retardar recuperações. A transmissão de expectativas pessimistas sobre o PIB ocorre pelos canais do consumo privado e pelo investimento.

O pessimismo joga tanto o consumo quanto o investimento para níveis mais baixos. Consumidores postergam compras e viagens, enquanto investidores se sentem pouco confiantes em imobilizar grande quantia de capital em uma economia com baixo dinamismo. Modelos de economia preveem que essa ação conjugada jogaria a taxa de juros para baixo. Entretanto, contextualizando com o Brasil, vemos que a taxa de juros na verdade está crescendo, sem perspectivas de estabilização no futuro próximo. Por quê?

Pense no país como um devedor que não arrumou as contas. Pelo contrário, esse devedor está preocupado em expandir o gasto já elevado, sem realizar nenhuma reforma. Esse comportamento se refletirá em credores mais receosos de emprestarem capital. Para convencê-los de aceitar maior risco de calote, esse devedor oferecerá maiores taxas de juros. E é justamente essa narrativa que tem permeado a economia brasileira nos últimos meses. Replicarei abaixo o gráfico de risco-país, medida que mensura a percepção de investidores ao alocarem seus capitais no país. Quanto maior o risco, maior a necessidade de aumento da taxa de juros para convencê-los a permanecerem no mercado.

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O aumento do risco-país era algo esperado, dada a ausência de reformas fiscais para melhorar a evolução da dívida pública, e o deslocamento da discussão econômica para criar formas de comportar aumento do gasto público. Nos comportamos como um devedor teimoso, renitente a fazer corte de gasto. O preço é o aumento da taxa de juros.

Desta forma, apesar das quedas do consumo e do investimento ativadas pela perda de confiança, a taxa de juros se elevou. Resultado indubitavelmente ruim, pois a redução da taxa de juros contribuiria para reativar tanto o consumo quanto o investimento (baratearia o crédito). 

Outro resultado ruim é o de que os preços se elevaram. Em conjunturas normais, a queda da demanda impulsionada pelos decréscimos do consumo e do investimento faria com que a taxa de inflação se reduzisse, dada a perda de força da economia. Todavia, temos uma taxa de câmbio significativamente desvalorizada e escassez de insumos na indústria, gerando preços crescentes. Perde-se, consequentemente, outra válvula que poderia amenizar a perda de confiança.

Em uma palavra, o cenário é pouco promissor. O pior é que a emergência desse quadro desolador estava prevista. Ele foi criado pela inaptidão das autoridades responsáveis em realizar reformas e políticas que poderiam amenizá-lo. A eclosão da pandemia acelerou a sua deterioração. Não a causou, pois ela estava em gestação muito antes da chegada do vírus.

Há solução? Sim, e continua sendo a mesma de décadas passadas: reformas. Reformas que reduzam o hiato entre receitas e despesas públicas, que ampliem a produtividade da economia e que coloquem o país mais próximo das práticas internacionais recomendadas (indústria voltada para cadeias de valor, mercado de trabalho flexível, abertura financeira, abertura comercial, redução do protecionismo, eliminação de subsídios com baixo retorno social...). 





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