quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Metas Financeiras para 2024. Por que não?

Negligência com consumo, capital humano e investimento gera preço elevado de ser pago

renda endividamento


O ano se aproxima do fim juntamente com reflexões do que fizemos e deixamos de fazer ao longo de seus meses, bem como de metas e promessas para serem seguidas em 2024. Há sempre um componente de aprendizado que carregamos conosco, em parte pelos erros que cometemos. Idealmente, usaremos esses erros e aprendizados para melhorarmos no futuro. Idealmente... 

É um chumbo que somos destinados a carregar enquanto vivermos, os erros passados, lamentações, chances desperdiçadas. De alguma forma, e isso varia de pessoa para pessoa, temos de aprender a carregá-lo, não deixando-o nos sufocar. Aqui pode ocorrer uma interação entre a reflexão e metas futuras. Quem sabe o aprendizado que esse chumbo nos propiciou possa ser usado para atingirmos objetivos em 2024. A esperança sempre ajuda a amaciar o fardo. 

Tenho visto reportagens sobre perspectivas de renda futura e de padrão de consumo. Neste 2023, escrevi um pouco sobre o consumo. Um texto legal é esse aqui. Também escrevi sobre poupar, tentando conciliar investimentos com algum nível razoável de consumo no presente. Texto aqui. De toda forma, a ansiedade (ou nervosismo) com as finanças é sempre um tema relevante, pois temos de utilizar a moeda em nossas vidas. Somos obrigados a planejar nossos gastos, pois nossa sociedade e o mundo sempre olham para a frente. O termo elegante para o dilema entre o presente e o futuro é escolhas intertemporais

Em relação à renda, minha recomendação é sempre se esforçar para poupar parte dela, investir visando o longo prazo, e lutar para fazê-la crescer. Se fosse fácil todos conseguiriam fazer. E as estatísticas mostram que esse não é o caso. Pelo contrário, ampla parte dos brasileiros segue endividada

Uma dica para fazer a renda crescer, e utilizando a evidência empírica, é investir no seu capital humano. Capital humano é o seu nível de conhecimento técnico, títulos educacionais e qualificação profissional. Alguns trabalhos reportam que 1 ano adicional de educação formal equivalente ao aumento da renda futura em 10%. Além disso, há os benefícios secundários (não monetários), como a melhora na capacidade argumentativa, inteligência, raciocínio, vocabulário, e por aí vai. Sem dúvidas, é uma meta legal para perseguir em 2024: melhorar o seu capital humano. Mas lembre-se que os efeitos monetários da melhora do capital humano levam tempo para se concretizar. Portanto, pode ser que o esforço de estudar e se qualificar, e a subsequente recompensa financeira não chegue de imediato. 

O consumo é geralmente o vilão para nossa capacidade de poupar e investir. Como nos lembra o simpático Zygmunt Bauman, a corrida de ampliar o consumo sempre irá perder para nossa capacidade de pagá-lo. Em outras palavras, se sua renda se elevar, tome cuidado para não aumentar muito o seu consumo. Caso contrário, você entrará no time daquelas pessoas que nunca conseguem ajustar suas finanças pessoais, mesmo quando a renda sobe. O consumo continuará sendo incentivado nas ruas, nos celulares, por nossos círculos sociais. Enfim, empresas precisam vender para sobreviverem. Então o marketing é agressivo. 

Agora, caso você consiga racionalizar (e possivelmente frear e desacelerar) o seu consumo, investir no seu capital humano, e criar um plano de poupança e investimento, talvez não em 2024, mas nos próximos anos sua situação financeira tenderá a se tornar fonte de novos recursos. Considerando os elevados níveis de endividamento da população brasileira, atingir uma posição próxima ao discutido nesse texto se torna meritório (e digno de ser perseguido).

Veja o cenário alternativo: consumo além de sua capacidade, endividamento (ou não endividamento, mas sem poupança), e ausência de investimento. Possivelmente alguma ansiedade relacionada ao dinheiro surgirá nessa dinâmica. Você irá desejar comprar alguma coisa legal (e sim, apesar de minha defesa pelo consumo racionalizado, eu sou completamente a favor de pequenos agrados pessoais, inclusive com o consumo de supérfluos), mas irá se deparar com a famosa (e irritante) restrição orçamentária. Quem gosta disso? Portanto, ainda que a meta de poupar, investir em ativos financeiros e investir no seu capital humano possa parecer monótona e sem graça, o cenário alternativo é demasiadamente ruim de ser vivido por muito tempo. 

Esse é meu último texto de 2023. Irei entrar de férias acadêmicas na próxima sexta feira (mas trabalharei em um artigo em fase final de conclusão com um coautor no sábado e talvez no domingo). Depois disso, férias. 

Nos vemos em janeiro de 2024.









Nenhum comentário:

Postar um comentário