domingo, 17 de março de 2024

Crescimento Fraco do PIB é Consequência

De uma baixa taxa de investimento

taxa de investimento


Um dos problemas da economia brasileira é o baixo nível da taxa de investimento. A taxa de investimento é a proporção de novos investimentos em capacidade produtiva dividida pelo PIB. Quanto maior a taxa de investimento, mais o país está criando espaço para expandir sua produção no futuro. Efeitos secundários é a maior probabilidade de elevar sua produtividade e inovação, pois novas máquinas e equipamentos substituem os antigos - o próprio processo de inovar o maquinário pode ser benéfico para a economia. 

Coletei a taxa de investimento de algumas economias no Banco Mundial. Construí o gráfico abaixo.



Note que duas economias que têm crescido fortemente nas últimas décadas estão no topo da figura: China e Índia. A China tem taxa de investimento por volta de 40% e a Índia por volta de 30%. O Japão, na década de 1970, tinha taxa de investimento próxima de 45%, a qual foi decrescendo ao longo do tempo, até chegar ao valor atual de 25% - não é por acaso que o Japão, no passado, era dado como país que iria superar os Estados Unidos e se tornar a potência econômica. A linha azul mostra a taxa de investimento de todos os países do mundo. A média mundial é de 26%. O Brasil é a linha cinza, com taxa de investimento oscilando entre 15 a 20%. Somos o lanterna na figura. 

O fato da China e da Índia crescerem muito não está dissociado das elevadas taxas de investimento que possuem. O mesmo para o Japão no passado. Parte do sucesso japonês, saindo do estágio de economia virtualmente quebrada, após a Segunda Guerra Mundial, e atingindo uma rápida recuperação, se deve a sua elevadíssima taxa de investimento. No caso do Brasil, temos crescido menos do que a média mundial por vários anos. Não por acaso, nossa taxa de investimento também está em patamar inferior à média mundial. Há uma relação entre essas afirmações. Patinamos na área de investimento. 

A discussão na mídia e nas redes sociais se concentra no crescimento do PIB no ano corrente. É uma visão muito limitada. Melhor seria se todo o foco recaísse na taxa de investimento, pois é ela que indica se o país irá crescer fortemente nos próximos anos; até mesmo no longo prazo. Quando afirmo que não acredito que o Brasil irá se tornar um país rico e desenvolvimento no futuro próximo é por causa, em parte, de nossa taxa de investimento. A ambição de se tornar potência econômica é incompatível com essa taxa de investimento. 

Uma das formas de elevar a taxa de investimento é reduzindo o gasto público. Conforme a proporção do gasto público com o PIB aumente, há menor espaço para o investimento como proporção do PIB. A consequência é o aumento da taxa de juros. Todavia, governos, brasileiros e a sociedade em geral apoiam o aumento do gasto público. Então fica difícil melhorar o investimento por esse canal. 

Há outras formas, como as reformas estruturais (reforma da previdência, tributária, do gasto, abertura comercial). Elas podem elevar a produtividade do país e facilitar a realização de investimentos. Mas o efeito que elas gerariam é lento. E infelizmente, no Brasil, reformas estruturais sempre enfrentam enorme resistência para avançar. 

Uma terceira linha para aumentar o investimento é reduzir o consumo, tanto privado quanto público. O consumo público (ou gasto público) é difícil de reduzir por conta do elemento estrutural (ou cultural) no país que vê o gasto público como fundamental para o bem estar da população. No caso do consumo privado, há evidência de que o brasileiro prioriza o consumo presente em detrimento do consumo maior no futuro. Em outras palavras, entre poupar e consumir, a população opta por consumir. Os elevados níveis de endividamento e inadimplência reforçam essa conclusão. A cada 4 brasileiros, 1 não está conseguindo pagar suas contas. Logo, também não vejo como o investimento subir por essa via.

Portanto, dadas essas considerações, tudo indica que continuaremos apresentando crescimento econômico fraco. E também que a discussão econômica mira o efeito e não a sua causa. A causa de estarmos estagnados é o baixo nível de investimento (além de outros fatores que tenho discutido em textos passados), o efeito é o PIB que aumenta pouco. Outras consequências são os salários e o poder de compra que não crescem muito. Tais desdobramentos decorrem, em parte, da baixa taxa de investimento.






2 comentários:

  1. Olá professor, tudo bem?
    Ótimo texto como sempre!
    Pode me ajudar a entender como funciona no caso chinês o investimento? Ja que tem esse trade off entre investimento e gasto público.

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    1. Muito obrigado. Como ocorre com outros países asiáticos, os chineses poupam muito, a nível individual. Isso se dá por alguns fatores como a ausência de um estado de bem estar social e cultura. Como o Estado não financia alguns serviços de saúde e de complemento de renda, os cidadãos chineses têm de formar poupança ao longo de suas vidas. Logo, a poupança tem que existir. O fator cultural pode ser relacionado com uma sociedade menos propensa ao consumismo (se comparada com o Ocidente). Tanto é que o governo chinês está enfrentando problemas para fazer com que sua população consuma mais e poupe menos - algo parecido ocorre com o Japão.

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