quinta-feira, 21 de março de 2024

Resenha: A Triste (Saad) Verdade sobre a Felicidade: 8 Segredos para Levar uma Vida Boa (Gad Saad)

Há formas de elevar a probabilidade para termos uma vida mais feliz


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Com tantos livros mostrando e argumentando como atingir a felicidade, este me chamou a atenção por ter sido escrito por um respeitado cientista, o professor Gad Saad. Ao longo do livro, Saad mostra sua inclinação para a ciência, com afirmações sendo embasadas em dados e resultados empíricos. O seu sobrenome, Saad, em inglês, se aproxima da palavra triste, sad. Gad utiliza o seu sobrenome para fazer esse trocadilho no título da obra. No original, o título é  The Saad Truth about Happiness: 8 Secrets for Leading the Good Life (Gad Saad). O trocadilho mostra o bom humor do autor - característica constante ao longo do texto. 

Não existe fórmula mágica para a felicidade, mas há ingredientes que aumentam nossa probabilidade de termos uma vida boa - ou mesmo atingir pontos de felicidade. Esses ingredientes são os 8 fatores que Gad nos revela em sua obra. 

Os dois principais são a escolha do cônjuge e nossa profissão/emprego. A justificativa é a de que iremos passar a maior parte de nossas vidas com essas duas escolhas. Normalmente, empregos exigem dedicação de pelo menos 8 horas diárias; nosso (a) parceiro (a), supondo moradia compartilhada, também pegaria expressivo número de horas diárias. Dessa forma, ambas as escolhas deveriam ser feitas com cuidado. 

No caso da escolha do parceiro, Gad dá algumas dicas como a de procurar uma pessoa com características próximas às nossas - estudos derrubaram aquela noção de que pessoas diferentes se atraem; o que ocorre é o oposto: buscamos semelhanças com os demais. Em relação ao emprego, a recomendação é procurar e trocá-lo se a ocupação atual não for adequada - há relatos de indivíduos que fizeram isso no decorrer de suas vidas, com resultados positivos em relação aos ganhos de bem estar e sensação de realização pessoal. 

Uma das armadilhas na escolha da profissão é priorizar o ganho monetário em detrimento do gosto/aptidão/paixão. Uma forma de nos auxiliar nessa escolha é refletirmos em nossas vidas até o presente momento. O trabalho atual seria um arrependimento? Evidência empírica mostra que, conforme envelhecemos, o arrependimento não ocorre em relação ao carro que não compramos ou a casa que não adquirimos, mas em relação a bens intangíveis, como o tempo gasto com familiares e amigos, viagens, hobbies, e sonhos de carreira. 

O terceiro "segredo" é buscar a moderação, conselho com origens nos antigos, nos gregos. E não é coincidência. Como o próprio autor nos informa, grande parte do passo a passo para atingirmos uma vida boa se baseia na sabedoria dos antigos. Desta forma, parte da pesquisa sobre felicidade confirma os ensinamentos de Sócrates, Platão, Aristóteles e os estoicos. A moderação é muito bem vinda, por exemplo, em relação às nossas ambições profissionais e de bens materiais. Se sempre desejarmos adquirir o carro mais novo, iremos perder essa corrida, com o risco de criar dívida (a qual poderá gerar ansiedade financeira) e/ou de frustrarmos, pois como tantos estudos mostram, a satisfação/felicidade de comprar um carro termina antes mesmo de seu cheiro de novo desaparecer. Em outras palavras, bens para comprarmos sempre irão existir e aparecer. Irão nos tentar. Provocar. Mas nossa renda nunca conseguirá manter esse ritmo. O autor nos convida a refletirmos em várias outras situações. Moderação, ou se sentir satisfeito com o que temos, pode nos acalmar. Ou como os estoicos diziam: deveríamos ser gratos com o que temos, pois no passado nossas atuais posses eram cobiçadas por nós. 

A quarta recomendação é levar a vida de forma leve, sorrindo, como se estivéssemos em um parque de diversão. Por que tanta seriedade? Embora Gad não tenha citado, nas obras de Nietzsche é possível ler, em mais de uma vez, a leveza como diretriz para vivermos, principalmente nas dificuldades. Em momentos adversos, uma atitude positiva, e mesmo cômica, pode aliviar um pouco a tensão. E até mesmo nos ajudar a encontrar uma saída. 

Experimentar novos desafios e aventuras é a quinta dica. Colocar variedade em nossas vidas. Não ficar restrito à mesma rotina. Há o ditado de que a "variedade é o tempero da vida". E no quesito felicidade ele pode nos ajudar. Praticar novos exercícios, aceitar convites e se integrar em outros grupos podem ampliar nossa experiência mundana e trazer satisfação pessoal. O jeito é arriscar e sair da zona de conforto. 

As dicas de número 6 e 7 são o ponto forte da obra. Devemos ser resilientes, persistentes e anti-frágeis. As duas primeiras características mostram que deveríamos insistir em objetivos e metas, ainda que insucessos abundem, ou seja, ao mesmo tempo que lutamos para atingir algo, temos de vestir uma armadura para os fracassos que irão surgir - é o anti-frágil. Aqui o escopo é amplo, como a dificuldade de encontrar um parceiro romântico, conseguir aprovações em provas/concursos/entrevistas e subir na carreira. A regra é o fracasso, mas nossas chances crescem se continuarmos a insistir com disciplina e persistência. Essa jornada pode dar um significado para nossas vidas - na minha foi este o caso (ainda escreverei a suada - e sofrida - vida de quem tenta publicar internacionalmente em revistas científicas famosas). Reproduzo uma mensagem inspiradora de Michael Jordan para aqueles que lutam para atingir alturas elevadas:
"Perdi mais de 9.000 arremessos em minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Vinte e seis vezes fui confiável para dar o lance da vitória e errei. Eu falhei repetidas vezes em minha vida. E é por isso que tenho sucesso."
(o livro é recheado de frases desse tipo; outro ponto forte).

Por fim, a última dica é o arrependimento. Seguindo as principais dicas, como a da persistência, anti-frágil e moderação, possivelmente reduziremos as chances de vivermos em arrependimento. A mensagem de Gad é positiva: muito do arrependimento que temos pode ser superado. Teremos, todavia, de enfrentarmos receios e medos para avançar. Mas é possível. Novamente, auto conhecimento e reflexão podem auxiliar a detectarmos a existência desse arrependimento, e trabalhar em formas para superá-lo. 

A única observação que faço da obra é que, em algumas passagens, me pareceu que o autor tem um ranço muito grande com as feministas militantes - alvo corriqueiro de suas críticas. Outro detalhe é que Gad faz críticas (um pouco fortes, eu acho) a personalidades famosas, como políticos dos Estados Unidos. Isso me lembrou um pouco as obras de Olavo de Carvalho. Esse tipo de desvio de finalidade empobrece a obra - empobreceu a de Olavo de Carvalho. Gad Saad teve problemas ao longo de sua carreira com defensores do politicamente correto. E isso afetou sua obra - talvez até mesmo sua personalidade e humor. Eu prefiro que esse tipo de influência não ocorra nas obras. Mas não estraga o livro, que é bem desenvolvimento, com bom embasamento científico e que certamente ajudará o leitor com reflexões e dicas de conduta. 









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