segunda-feira, 11 de março de 2024

Resenha: Assuma o Seu Passado, Mude o seu Futuro (John Delony)

As estórias que aceitamos e não questionamos

estórias


Prosseguindo com minha jornada de autoaperfeiçoamento e também atendendo a um de meus hobbies (leituras de psicologia, filosofia e romances), eu li a obra de John Delony, Assuma o Seu Passado, Mude o seu Futuro: Uma Abordagem não tão Complicada para Relacionamentos, Saúde Mental e Bem-estar (não encontrei a tradução do título em português; no original, o título é: Own Your Past Change Your Future: A Not-So-Complicated Approach to Relationships, Mental Health & Wellness - como o livro foi publicado em 2022, ainda é relativamente cedo para ter uma versão em português). A obra segue a linha de outros livros como os de Jordan Peterson, Julie Smith, e Brené Brown (basta clicar nos nomes para ir para as respectivas resenhas): utiliza a experiência pessoal e profissional dos autores conjugada com estudos científicos para fornecer diretrizes para nossas vidas. 

A novidade desse livro é que ele se concentra nas estórias de nossas vidas para mostrar como elas moldam a forma como vivemos e enfrentamos situações. Muitas dessas estórias são incorporadas por nós porque elas simplesmente existem; outras são criadas por nós mesmos; e outras de fato ocorreram. Delony defende que devemos escutá-las, examiná-las e enfrentá-las. 

Antes, porém, o livro mostra que todos nós estamos lutando diariamente. As razões são diversas, mas as mais comuns envolvem o lado financeiro, relacionamentos íntimos, perda de pessoas próximas, trabalho e planos futuros (e suas frustrações). Como não conseguimos controlar o ambiente que nos cerca, como apontado há séculos pelos estoicos, a estratégia é sabermos lidar com as situações e desafios que chegam a nós. 

Delony oferece uma estratégia composta por 4 partes. A primeira é a principal, tomando a maior parte das páginas. Assuma suas estórias. Inicialmente, há a apresentação de estórias trazidas pela modernidade, como a de que a tecnologia irá melhorar nossas vidas, que a dívida não é um problema, e que conseguimos viver por nós mesmos, sozinhos. O avanço tecnológico melhorou nossa vida. Nosso padrão de vida é o mais alto da história humana. Entretanto, questiona o autor, por que há crescentes níveis de ansiedade, depressão e solidão? A resposta é a de que embora a tecnologia nos ajude, ela aumentou o nosso individualismo. E nós somos seres sociais, precisamos de conexão com pessoas de carne e osso, não robôs. 

A dívida envolve a perda de autonomia com nossas finanças e a ansiedade de saber que há uma dívida/obrigação nos aguardando - com consequências terríveis caso não seja liquidada. Como o autor teve problemas envolvendo dívidas, ele enfatiza bastante esse ponto. Concordo com a sua argumentação de que a dívida tem um lado no qual reduz nossa liberdade individual. De certa forma, nos tornamos presos ao credor. O livro mostra como a ascensão do cartão de crédito, além de outras formas de financiamento, contribuíram para o aumento do endividamento das famílias. 

A terceira estória, de que conseguimos viver sozinhos, negligencia a importância de comunidades, amigos e pessoas próximas. A evolução do ser humano ocorreu pelo avanço dos grupos. Sempre em grupos. Mas estamos caminhando para formas cada vez mais individualizadas. 

Essas são as estórias que ouvimos e aceitamos. Há as estórias que nós criamos. Fracassos/rejeições/críticas podem virar uma estória e se perpetuar em nossas mentes. O insucesso no passado não significa que teremos novos insucessos, mas e se acreditarmos que somos aquele insucesso? Aqui o livro discute diversas situações, como a ausência de amor paterno, traumas e estigmas. Eles podem grudar em nós e modificar a forma como vivemos. Um exemplo é o protagonista do filme Gênio Indomável, interpretado por Matt Damon. O seu passado fez com que ele evitasse relações íntimas, pois o temor de ser abandonado emergia sempre ao encontrar alguém. 

Há também estórias que criamos porque o fato ocorreu, e que somos responsáveis por ele. O ponto é sabermos distinguir e ponderar essas estórias. Devemos saber que elas existem. Que podem ser irreais. Ou reais. Temos, portanto, de examiná-las. Contrapô-las com a nossa realidade. 

Assim chegamos ao segundo passo: reconheça a realidade. Bobeira é não viver a realidade, cantava Cássia Eller. Delony apenas junta as peças e constrói um sistema que pode nos auxiliar - o mérito de muitos autores é reunir e fornecer coerência para pensamentos e ideias espalhadas. Reconhecer a realidade exige honestidade e coragem de nossa parte. Teremos de refletir sobre aquele medo, receio e incômodo que sentimos. Ao reconhecer a realidade de nossas vidas, pode ser que tenhamos de ter um período de luto. O luto é o espaço entre o que esperávamos com o que aconteceu - gostei dessa definição de luto. 

A terceira etapa é para nos conectar. Fazer amigos, sair da zona de conforto - no sentido de aceitar convites "estranhos", nos tornarmos aventureiros. Conhece o filme Sim Senhor, estrelado por Jim Carrey? A ideia é mais ou menos a aplicada e seguida por Jim durante o filme. O autor fornece dicas para fazermos amizades. Amizade é uma habilidade. Amizades nos colocariam no caminho que nossos ancestrais percorreram: em grupos, conectados, tendo alguém para nos auxiliar e nos ouvir durante as vicissitudes da vida.

A última parte defende que podemos mudar os nossos pensamentos. Na medida em que assumimos algumas estórias, descartamos outras, e refletimos sobre o que ocorreu, teremos a chance de moldar nossos pensamentos. Delony nos diz que nós escolhemos o que nos fere. Os pensamentos podem ser intencionais. 

Aqui eu fiquei um pouco cético. Por exemplo, no livro de Julie Smith, a argumentação é contrária: devemos permitir que os pensamentos jorrem e depois agirmos. Tentar abafar ou controlá-los pode ser pior. Talvez o ideal seja um ponto intermediário entre essas duas abordagens?

No final, o autor recomenda que sejamos pacientes, bondosos, que tenhamos auto controle, disciplina e responsabilidade. Faltou aprofundar um pouco mais nesses pontos, embora eles façam sentido com o todo do livro. Uma dose de paciência com moderação e responsabilidade pode fazer muita diferença para quem está comprometido em melhorar sua vida.

O livro é curto e de fácil leitura. É convidativo para o público geral. Finalmente, John Delony tem um canal famoso no Youtube, aqui















Nenhum comentário:

Postar um comentário