quarta-feira, 13 de março de 2024

Nível de Desenvolvimento Econômico Afeta Duração de Crises

Choques nas Bolsas de Valores são sensíveis ao país de origem

crise choque pib taxa de juros


Nessa semana eu consegui minha quarta publicação científica do ano. Publiquei na revista Central Bank Review, revista especializada no estudo do comportamento e reação de bancos centrais, o artigo Transmission and impact of stock market shocks on the world economy (traduzindo: Transmissão do impacto de choques no mercado de ações na economia mundial). Estou otimista para bater duas metas que coloquei para esse ano de 2024: atingir 10 publicações científicas, sendo 4 delas de ranking A1, o nível mais alto de publicação. Na verdade, pretendo perseguir essa marca todos os anos. 

Eu construí um modelo econométrico com 26 países, variando entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento, correspondendo a algo em torno de 70 a 80% do PIB mundial. Essa é a representação da economia mundial. Eu simulei dois choques: uma queda no mercado de ações de economias ricas e desenvolvidas, e outra queda no mercado de ações de economias emergentes. Essa foi a novidade do meu artigo, pois já existem diversos trabalhos reportando como quedas de valor das ações afetam economias. Eu complementei mostrando uma análise comparativa na queda de mercado de ações de acordo com o nível de desenvolvimento econômico.  

Começando pela queda do mercado de ações de economias ricas, os resultados mostraram que todos os mercados de ações nacionais declinam, com subsequentes desvalorizações cambiais. Uma explicação é que os investidores, receosos de uma possível recessão mundial, resgatam suas aplicações financeiras. A fuga de capitais faz com que as moedas nacionais percam valor em relação ao dólar. Embora não seja o foco do artigo, provavelmente todo esse capital flui para o porto seguro, o ativo mais seguro do mundo, títulos da dívida pública dos Estados Unidos - uma evidência disso é que as desvalorizações das moedas ocorreram em relação ao dólar, ou seja, o dólar ganhou valor (se valorizou) com a queda dos mercados acionários.

Analogamente com a queda dos mercados de ações, o PIB de todos os países também caiu com o choque. Os bancos centrais não ficaram sem reagir frente a esse cenário recessivo: eles acomodaram o choque (linguagem técnica que significa que utilizaram a política monetária para minimizar os efeitos da crise) com reduções das taxas de juros. A queda da taxa de juros é uma forma de reverter a queda do PIB, pois barateia o custo de investimento. Antes de produzir as estimativas, eu pensei que talvez os bancos centrais poderiam subir as taxas de juros, mesmo em uma conjuntura de crise, com o intuito de atrair os capitais que fugiram do país. Mas os resultados não corroboraram essa hipótese. 

O segundo choque foi uma queda dos mercados de ações de economias emergentes. A diferença em relação ao choque anterior é que este gera efeitos transitórios, que se dissipam rapidamente nos primeiros meses. Em outras palavras, embora esse choque acarrete as quedas dos mercados internacionais de ações, desvalorizações cambiais, e quedas da produção, todos esses movimentos cessam em aproximadamente 4 meses. É como se a crise que ocorresse por causa desse choque tivesse curta duração. Por outro lado, quando o choque ocorreu no mercado de ações de nações ricas, os efeitos duraram por 2 anos. E este foi o principal resultado do artigo: choques advindos de economias ricas e desenvolvidas causam oscilações mundiais mais persistentes, duradouras, com efeitos prolongados, do que choques advindos de economias emergentes. 

Há resultados secundários interessantes, por exemplo, após o choque negativo no mercado de ações, algumas moedas nacionais se valorizaram, como são os casos das moedas da Australia (dólar australiano), da China (yuan), da Zona do Euro (euro), da Índia (rupia indiana), do Japão (iene), da Nova Zelândia (dólar neozelandês) e da Suíça (franco suíço). Veja que com exceção da China e da Índia, todas essas moedas têm ampla aceitação internacional - funcionam como meios de pagamentos em transações mundiais. Os casos da China e da Índia podem ser devidos ao tamanho de suas economias, ao potencial de crescimento econômico futuro, ou porque investidores julgaram que esses países poderiam sofrer menos com o choque por conta de características específicas, como a existência de um mercado interno abrangente com milhões de consumidores. 

Em resumo, quedas nos mercados acionários geram efeitos em todo o mundo - a crise financeira de 2007 do subprime, que se iniciou nos Estados Unidos, mas se alastrou no resto do mundo, deixou essa marca indelével em diversos países. O meu artigo reforçou esse resultado, acrescentando outro: há diferenças em relação à duração dos choques, dependendo do nível de desenvolvimento econômico dos países de origem.  











Nenhum comentário:

Postar um comentário