segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Aumento da Temperatura irá Dificultar Nossas Vidas

Efeitos incluem queda no poder de compra, encarecimento do investimento e menor PIB

temperatura


Minha mais recente publicação analisa o efeito do aumento da temperatura do planeta sobre mercados financeiros e sobre a produção. Sabemos que a mudança climática, que envolve o aquecimento global, se relaciona com desastres ambientais, como enchentes, queimadas, secas e alterações no nível da água dos mares.

Também sabemos que, dependendo da intensidade desses desastres, comunidades podem ser devastadas e empobrecidas. A economia local pode parar de funcionar pela perda de infraestrutura, como ocorreu no Rio Grande do Sul no ano passado. 

Mas e os mercados financeiros?

Eu simulei aumentos na temperatura global em 20 países e verifiquei como os mercados financeiros responderiam a esse novo cenário. Por mercados financeiros, eu utilizei o mercado cambial, o mercado de crédito e o mercado acionário.

A figura abaixo mostra as reações das moedas nacionais.

depreciação


Como eu usei a definição de moeda nacional em termos de dólares (no Brasil, usamos reais por dólares, R$/US$), o aumento verificado na figura ilustra depreciações cambiais. Portanto, a primeira resposta ao aumento das temperaturas é a depreciação de moedas. Talvez porque investidores se tornem mais cautelosos com o cenário da mudança climática e retirem os seus capitais para aplicá-los em outras moedas, como o dólar dos EUA.

A próxima figura mostra que os mercados de ações perdem valor, com quedas nas ações. Note que os mercados de ações do Canadá (CAN), Dinamarca (DNK), da Euro Zona (EUR), Hungria (HUN), Noruega (NOR), África do Sul (SOU), Suécia (SWE), Reino Unido (UK) e EUA (US) desabam. É sinal de recessão.

recessão


Pode também ser interpretado como sinal de que o mercado financeiro prevê menor lucratividade das empresas em decorrência do agravamento da mudança climática. Daí a menor projeção de lucros recebe o desconto no presente - dado que o mercado financeiro sempre precifica o futuro. 

Outros resultados foram que as taxas de juros se alteram e que a produção industrial cai em algumas localidades.

Em uma palavra, o artigo mostrou que a mudança climática poderia gerar um cenário econômico desafiador, com aumento do desemprego, queda do PIB e perda de riqueza (pelas quedas das ações). 

Recentemente eu ouvi uma discussão sobre a mudança climática e a incerteza que permeia os seus efeitos econômicos. Esse artigo mostra que os efeitos seriam parecidos com o que vemos em recessões. Portanto, nada promissor. 

Outra contribuição do artigo é que ele mostra que os efeitos da mudança climática, além do efeito direto sobre comunidades, como adiantei, pode ocorrer também por meio dos mercados financeiros. As depreciações das moedas (retirando poder de compra da população e encarecendo o investimento de empresas) e as quedas dos mercados de ações poderiam transmitir o efeito da temperatura indiretamente sobre a produção.

Na medida em que tanto consumidores quanto investidores passam a comprar menos mercadorias e a reduzir o investimento, a economia iria girar mais lentamente, criando menos empregos e desacelerando a produção. Chamamos esse processo de canal de transmissão: a temperatura atinge o PIB ao passar pelos mercados financeiros. Neste sentido, os mercados financeiros transmitiriam o efeito da mudança climática. 

O título do artigo é The impact of temperature anomalies on production and financial markets (O Impacto de Anomalias na Temperatura sobre a Produção e Mercados Financeiros), publicado na Macroeconomic Dynamics. O artigo pode ser visto aqui





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