Assim como Adam Smith e David Ricardo, Say foi fundamental para moldar o pensamento econômico e combater preconceitos mercantilistas
Escrito
em 1803, Tratado de economia política, assim como a obra A riqueza das nações,
de Adam Smith, ajudou a moldar a Ciência Econômica que utilizamos atualmente. Jean-Baptiste Say faz parte dos autores clássicos dos séculos XVIII e XIX, os quais defendiam
uma economia com poucos entraves à produção e argumentavam favoravelmente à
expansão do comércio internacional.
O livro
de Say é dividido em 3 partes, sendo elas a produção, a distribuição e o
consumo. Dessa divisão, a primeira parte é de longe a mais importante e com
mais insights interessantes. A famosa Lei de Say está contida nessa parte, a
qual descreve a forma com que o consumo de uma sociedade é elevado na medida em
que essa mesma sociedade passa a produzir mais, “a compra de um produto só pode
ser feita com o valor de um outro”. Afirmação que desmistifica o papel da moeda
como riqueza.
Em
harmonia com o espírito de sua época, Say defende um papel reduzido para o
governo; este deveria evitar ao máximo intervir no processo produtivo. Todavia,
assim como Adam Smith e David Ricardo, Say não adota um livre mercado levado às
últimas consequências; ao longo do livro ele lista eventos nos quais a
participação do governo é oportuna, como no caso das obras públicas, da manutenção do Estado de direito e o seu correspondente aparato jurídico e do setor
militar.
Tópicos
que seriam trabalhados em detalhes por Mises, Friedman e Hayek no século XX,
como a soberania do consumidor, a propriedade privada e o interesse pessoal são
também objetos de análise. Sobre a soberania do consumidor, Say afirma que “[o]
orgulho nacional que se censura aos ingleses não os impede de serem a mais
flexível das nações quando se trata de curvar-se às necessidades dos
consumidores”. No tocante à propriedade privada, temos a seguinte citação: “de
todos os meios com que contam os governos para favorecer a produção, o mais
poderoso consiste em garantir a segurança das pessoas e das propriedades”. Por
fim, as vantagens do interesse privado variam entre o reduzido custo de errar
para a sociedade (em comparação ao Estado), “embora o interesse pessoal se
engane às vezes, ainda é, afinal de contas, o juiz menos perigoso e aquele
cujos julgamentos custam menos”, e ao fato de que o indivíduo, em comparação ao
Estado, possui maior interesse sobre suas decisões e, portanto, tende a ter
maior perícia nas suas ações, “o interesse privado é o mais hábil dos mestres”.
Não
bastasse essas contribuições, Say ainda mostra como a liberdade econômica
favorece a paz entre as nações, em detrimento ao mercantilismo, na medida em
que o comércio acarreta na maior proximidade diplomática, e torna de interesse
de todas as partes envolvidas o fim de conflitos belicosos: “Tempo virá em que
as pessoas ficarão surpresas ao perceberem que foi preciso tanto esforço para
demonstrar a tolice de um sistema [mercantilismo] tão vazio e pelo qual tantas
guerras foram feitas”.
O livro
é fundamental para compreendermos os fundamentos da Ciência Econômica, e também
é um convite para a análise de eventos históricos, como as guerras Napoleônicas
e o reinado de Luís XIV, ambos fortemente criticados por suas condutas em
sentido contrário ao da prosperidade da França; o primeiro por afligir o
comércio e o segundo pelos gastos irrestritos. Mas Say alivia um pouco o tom
das críticas ao dizer que os dois foram vítimas da ignorância das leis da
Economia Política, matéria até então pouco conhecida e coberta por preconceitos
mercantilistas. Say não somente logrou em desmistificar a economia como também
auxiliou na consolidação do pensamento econômico.
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