quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Resenha: Tratado de Economia Política (Jean-Baptiste Say)


Assim como Adam Smith e David Ricardo, Say foi fundamental para moldar o pensamento econômico e combater preconceitos mercantilistas


tratado de economia política



Escrito em 1803, Tratado de economia política, assim como a obra A riqueza das nações, de Adam Smith, ajudou a moldar a Ciência Econômica que utilizamos atualmente. Jean-Baptiste Say faz parte dos autores clássicos dos séculos XVIII e XIX, os quais defendiam uma economia com poucos entraves à produção e argumentavam favoravelmente à expansão do comércio internacional.
O livro de Say é dividido em 3 partes, sendo elas a produção, a distribuição e o consumo. Dessa divisão, a primeira parte é de longe a mais importante e com mais insights interessantes. A famosa Lei de Say está contida nessa parte, a qual descreve a forma com que o consumo de uma sociedade é elevado na medida em que essa mesma sociedade passa a produzir mais, “a compra de um produto só pode ser feita com o valor de um outro”. Afirmação que desmistifica o papel da moeda como riqueza.
Em harmonia com o espírito de sua época, Say defende um papel reduzido para o governo; este deveria evitar ao máximo intervir no processo produtivo. Todavia, assim como Adam Smith e David Ricardo, Say não adota um livre mercado levado às últimas consequências; ao longo do livro ele lista eventos nos quais a participação do governo é oportuna, como no caso das obras públicas, da manutenção do Estado de direito e o seu correspondente aparato jurídico e do setor militar.
Tópicos que seriam trabalhados em detalhes por Mises, Friedman e Hayek no século XX, como a soberania do consumidor, a propriedade privada e o interesse pessoal são também objetos de análise. Sobre a soberania do consumidor, Say afirma que “[o] orgulho nacional que se censura aos ingleses não os impede de serem a mais flexível das nações quando se trata de curvar-se às necessidades dos consumidores”. No tocante à propriedade privada, temos a seguinte citação: “de todos os meios com que contam os governos para favorecer a produção, o mais poderoso consiste em garantir a segurança das pessoas e das propriedades”. Por fim, as vantagens do interesse privado variam entre o reduzido custo de errar para a sociedade (em comparação ao Estado), “embora o interesse pessoal se engane às vezes, ainda é, afinal de contas, o juiz menos perigoso e aquele cujos julgamentos custam menos”, e ao fato de que o indivíduo, em comparação ao Estado, possui maior interesse sobre suas decisões e, portanto, tende a ter maior perícia nas suas ações, “o interesse privado é o mais hábil dos mestres”.
Não bastasse essas contribuições, Say ainda mostra como a liberdade econômica favorece a paz entre as nações, em detrimento ao mercantilismo, na medida em que o comércio acarreta na maior proximidade diplomática, e torna de interesse de todas as partes envolvidas o fim de conflitos belicosos: “Tempo virá em que as pessoas ficarão surpresas ao perceberem que foi preciso tanto esforço para demonstrar a tolice de um sistema [mercantilismo] tão vazio e pelo qual tantas guerras foram feitas”.
O livro é fundamental para compreendermos os fundamentos da Ciência Econômica, e também é um convite para a análise de eventos históricos, como as guerras Napoleônicas e o reinado de Luís XIV, ambos fortemente criticados por suas condutas em sentido contrário ao da prosperidade da França; o primeiro por afligir o comércio e o segundo pelos gastos irrestritos. Mas Say alivia um pouco o tom das críticas ao dizer que os dois foram vítimas da ignorância das leis da Economia Política, matéria até então pouco conhecida e coberta por preconceitos mercantilistas. Say não somente logrou em desmistificar a economia como também auxiliou na consolidação do pensamento econômico.

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