A mobilidade do capital financeiro torna a tributação sobre os mais ricos uma política pouco efetiva
Na
disputa pela indicação do partido democrata para disputar as eleições
presidenciais dos EUA, a senadora Elizabeth Warren, no ano passado, defendeu
um imposto sobre a fortuna dos bilionários. Esse tipo de política é muito comum
em tempos de eleições – tem o aval do público e a áurea de esforço em tornar a
sociedade mais igualitária. Aqui no Brasil, para as eleições que definiram Jair
Bolsonaro como presidente, o seu rival de segundo turno, Fernando Haddad, defendeu algo
semelhante.
É
preciso lembrar que ao contrário dos fatores de produção consagrados, como os
trabalhadores e o capital produtivo (máquinas e equipamentos), o capital
financeiro (ações, títulos públicos e privados e outros instrumentos
financeiros) tem elevada mobilidade.
Suponha
que o governo decida tributar a força de trabalho em 40%. Isso significa que do
total do salário obtido, apenas 60% dele fica com o trabalhador, o restante é
recolhido para os cofres públicos. É um desincentivo para trabalhar. A teoria
econômica e a vida prática mostram que esse imposto cria o incentivo de
deslocamento. O trabalhador irá optar por trabalhar em lugares nos quais esse
tipo de imposto seja menor. Entretanto, devido a fatores como identificação com
a cultura nacional, família e amigos e dificuldades para morar em outras nações, em geral os
trabalhadores apresentam baixa mobilidade. O mesmo é válido para o capital
produtivo, principalmente se considerar as instalações das empresas (capital imobilizado) nessa conta.
Por
outro lado, o capital financeiro tem fluidez elevadíssima. Basta um simples
clique no celular e uma grande quantidade de dinheiro pode abandonar o país. A
decisão de transferir bilhões de reais em ativos financeiros do Brasil para o
exterior pode ser realizada em segundos. Por isso o famoso dito de que o
“capital financeiro não tem pátria”; este se identifica com maior rentabilidade
e segurança jurídica, não importando a geografia. Sejam por quaisquer motivos,
caso os investidores interpretem que a economia irá piorar, um grande fluxo de
capital financeiro deixará o país – e veja, essa interpretação não precisa
estar correta, basta que muitos indivíduos concordem com ela.
Em um
mundo globalizado, com crescente integração dos mercados financeiros, o fluxo
de capital financeiro é mais intenso ainda. Dessa forma, políticas que mirem os
bilionários tendem a ser pouco efetivas, o capital abandonará o país.
Outro
ponto a considerar é a falta de critério. Por que tributar os bilionários? Se o
motivo for a renda, então uma mensagem de caráter duvidosa estará sendo
passada: o cidadão que conseguir sucesso econômico será punido pelo Estado com
a extração de parte de sua renda.
Um
argumento mais sutil nos diz que esse intervencionismo atinge o princípio de
igualdade de tratamento pelo Estado. Na medida em que alguns indivíduos são
beneficiados ou prejudicados, enquanto outros permanecem à margem, cria-se
oportunidade para queixas de tratamento injusto. O Estado passa a ser visto
como ferramenta para obter maior renda. Alimenta-se o sentimento de que para
ser bem-sucedido, deve-se capturar, fazer parte, ter influência no Estado.
Tributar demasiadamente os mais ricos tende a piorar tanto a economia como a forma de inserção dos
indivíduos no país. No tocante à economia, a fuga de capital financeiro
representa a redução da poupança nacional. Os bancos e demais instituições
financeiras possuirão menos fundos para realizar empréstimos. Consequentemente,
a taxa de juros tenderá a se elevar, encarecendo o investimento. O final é
conhecido: baixo crescimento econômico. No lado da população, ao perpetuar a
cultura de utilização do Estado para ganhos privados, isenção de fardo fiscal
ou como mecanismo de punição na área econômica por diferentes avaliações
subjetivas respaldadas por tonalidades morais, apenas reproduzimos as raízes
dos escândalos da operação Lava-Jato, no conluio criminoso de políticos e
empresários.
Por fim, tributar bilionários não gera receita suficiente para financiar programas do tipo renda universal. Embora esse tipo de imposto crie receita adicional, não é a panaceia para os problemas das sociedades atuais.
Boa tarde professor, recentemente eu li num site de notícias um artigo sobre o sistema tributário brasileiro onde o colunista afirma que atualmente existe um caráter regressivo na forma de arrecadação do governo, onde tributos indiretos beneficiam os mais pobres em detrimento dos mais ricos e propões no final do texto uma tributação mais abrangente sobre patrimônio.
ResponderExcluirApesar da ideia parecer boa fiquei com um pé atrás, o colunista não apresentou nenhum dado que justificasse a viabilidade da tributação sobre patrimônio aqui no Brasil. Em sua opinião, esse tipo de coisa é possível no país, uma vez que segundo os dados 25% da população vive com menos de 420R$ por mês e a carga tributária do Brasil em relação a outros países já é elevada?
A informação está correta Vitor. Nosso sistema tributário é regressivo, penalizando mais o pobre. Entretanto, o debate se perde quando afirma que basta tributar os mais ricos para solucionar nossos problemas fiscais. Não é bem assim.
ExcluirO ideal seria fazer uma reforma tributária ampla, que conseguisse desonerar empresas e trabalhadores e com uma tributação progressiva, isto é, conforme a renda se eleva, a alíquota do imposto também suba (subidas graduais, nada de exagero).
A regra é não tributar trabalho e capital produtivo, enquanto a riqueza pode ser tributada. Exemplo: lucro da empresa e salário dos trabalhadores seriam tributados com baixa alíquota, enquanto riqueza como moradias e aplicações financeiras receberiam maior tributação.