É no mínimo estranho recomendar a poupança e o investimento de longo prazo no caso das famílias, e tornar-se um conselheiro perdulário quando o assunto é o Estado
Foto de Júlio Fugimoto
Todo
consultor de finanças recomendará para qualquer família não gastar mais
dinheiro do que a renda mensal. Se preocupar com o futuro e alocar parte da
renda em algum tipo de poupança. Essa poupança poderá consistir em duas partes:
uma para financiar a aposentadoria e outra para possíveis emergências.
Em
relação ao governo e às contas públicas, a princípio, a história não deveria
ser diferente. Tentar obter maior receita do que despesa primária, apresentando
com isso superávits primários (gastos com educação, saúde, segurança). Utilizar
parte desse excedente para abater o estoque de dívida total e o pagamento de
juros, e se possível apresentar superávit nominal (superávit primário acrescido
com o pagamento de juros). O Brasil sente saudades das palavras superávit
primário, e mais ainda de superávit nominal.
Considerando
a conjuntura da economia brasileira com endividamento ascendente, escassez de
recurso público e elevada carga tributária, torna-se difícil sustentar
argumentos favoráveis à expansão do gasto público – mesmo se esse consistir em
investimento público. Soma-se a isso uma taxa de juros real elevada, a qual
financiaria uma dívida onerosa gerada por esses gastos adicionais.
Presenciaríamos um ciclo vicioso: mais gasto público, aumento da dívida, elevação
da tributação, queda do crescimento econômico, queda da arrecadação, aumento da
dívida...
Dessa
forma, torna-se imperioso atacar a espinha dorsal desse desequilíbrio, o qual
não consiste de medidas paliativas como contingenciamento dos gastos; é necessário
reformar estruturalmente o setor público:
reduzir os gastos com a previdência, melhorar a tributação (no sentido de
simplificar os impostos e torná-los menos regressivos), eliminar subsídios e
tornar mais eficiente o gasto público.
Caso
esse ajuste estrutural ocorra – estrutural porque significaria uma inflexão na
trajetória de gasto e endividamento crescente – o país desfrutará no futuro de
poupança pública, de taxa de juros real baixa e espaço para realizar políticas
sociais com sustentabilidade. Devemos parar de apoiar políticas que onerem,
prejudiquem e tributem gerações que não nasceram e que, por isso mesmo, não são
capazes de opinar sobre a forma como o Estado funciona. O endividamento
corrente será pago com maior inflação e tributação no futuro, e estas escolhas
– realizadas por nós – repercutirão sobre os ausentes do debate público, a geração futura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário