Aristóteles mostra os ensinamentos que aprendeu de seu mestre, questiona alguns deles e fornece valioso conhecimento para compreendermos debates políticos
Apesar
da idade avançada da obra, o livro Política de Aristóteles fornece valiosos
princípios a respeito da forma como uma sociedade pode melhor funcionar. Não
obstante a importância do livro para a formação e consolidação das democracias
ocidentais, é uma leitura que coloca o leitor a refletir sobre pontos
relevantes e atuais, pertinentes ao debate político.
Um
desses tópicos é a questão da desigualdade. Aristóteles demonstra preocupação
com o aumento desigual da distribuição de bens entre os cidadãos. No limite,
quando pouquíssimos conseguem acumular enorme quantidade de riqueza, estes passam
a ameaçar a estabilidade do governo, pois o poder adquirido por poucos pode
subverter o Estado – episódio não raro na história grega.
Outro
ponto é o objetivo do Estado; qual a razão de diferentes indivíduos se reunirem
e proporem uma sociedade fundada na lei? “A finalidade do Estado é a felicidade
na vida”, responde o autor. Para além da dificuldade de definir a felicidade,
outra questão se coloca: como atender da melhor forma possível os cidadãos? É o
momento no qual Aristóteles discute algumas formas de governo, entre elas a
tirania, a oligarquia e a democracia. Nesse ponto o leitor perceberá como o
livro A república, do seu mestre Platão, serviu de base para Aristóteles
construir os seus argumentos.
Além da
discussão sobre desigualdade e formas de governo, o livro se detém sobre a
formulação da constituição, a qual deveria priorizar o interesse coletivo em
detrimento do interesse particular; a importância da lei como referência para
os habitantes tomarem suas decisões – uma das mais antigas âncoras para o
comportamento humano; e a educação como método para a sustentabilidade dos
Estados. Educar os cidadãos para que estes saibam viver em sociedade,
permitindo que interesses individuais não entrem em colisão com o bem-estar
geral – a ênfase dada à educação lembra o foco dado a esse tema por Platão,
embora Aristóteles seja menos autoritário na maneira de realização do objetivo.
De uma
forma geral, o livro debate pontos relacionados com as sociedades na qual vivemos. O leitor perceberá como Aristóteles é pragmático em determinados
pontos, como na discussão dos efeitos do luxo, da busca do supérfluo, sobre os
indivíduos, ou como um déspota deveria se comportar para conseguir manter o seu
governo estável, e como também o autor se torna abstrato em outros pontos, como
na discussão dos governos. Em uma palavra, é uma obra que aponta dificuldades
para a formação do Estado e propõe medidas para ameniza-las. Leitura
recomendada para aqueles que gostam de discutir política e se aprofundar no
assunto – e não cair na armadilha do suposto conhecimento sobre política
adquirido em discussões de rede social, tão comum hoje em dia.
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