quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Dando adeus à Nova matriz econômica


Proposta de reduzir o gasto público é uma janela de oportunidade para o setor privado se tornar protagonista de um novo modelo de crescimento

Modelo com investimento privado

Foto de Carinhas pintadas


As medidas anunciadas pelo governo no final do ano passado – pacto federativo, reforma emergencial e desindexações - seguem a estratégia proposta pela reforma da previdência, de reduzir os gastos públicos e tornar o Estado viável financeiramente. Há preocupação de melhorar o gasto do dinheiro público, visto pela desvinculação de recursos, na qual a União aumentaria os repasses do erário para os estados e municípios. Vê-se que há dois objetivos simultâneos: gastar menos e gastar melhor.
Em um futuro não muito distante serão anunciadas medidas para aumentar a arrecadação tributária, com possíveis efeitos de facilitar o entendimento das regras do jogo fiscal pelas empresas que operam no Brasil. Também está a caminho a reforma administrativa, que irá endurecer o serviço público no sentido de dificultar a estabilidade dos servidores, reduzir a remuneração e alterar a forma como a progressão de carreira ocorre – em muitas carreiras ela decorre pelos anos de serviço, sem conexão com a produtividade do trabalhador. Novamente, essas medidas têm como escopo maior eficiência do gasto público – com o adicional de elevar a receita. 
Pensando um pouco mais adiante, caso a equipe econômica, os políticos e a sociedade continuem a apoiar o espírito dessas medidas, pode ser que os subsídios concedidos para o setor privado sofram queda significativa – algo que já vem ocorrendo desde o governo Temer, mas de forma lenta. Entretanto, formalizar tal mudança de atitude é importante para torná-la permanente: reduzir a margem de liberdade do Estado para conceder subsídios e impor regras para possíveis concessões desse tipo. Esse direcionamento, caso ocorra, deveria ser por lei, para ser transparente.
Algo do tipo foi realizado quando foi abolida a taxa de juros de longo prazo (TJLP) praticada pelo Banco nacional de desenvolvimento econômico e social (BNDES). A TJLP foi responsável por vários empréstimos concedidos pelo banco para transformar algumas poucas empresas em grandes players internacionais. O detalhe infeliz era a taxa de juros aplicada em patamar muito inferior à taxa de juros praticada no mercado de crédito privado. Para piorar, o banco tinha pouca transparência na escolha dos beneficiados. O fato do BNDES ter alimentado empresas como a JBS e a Odebrecht com verba pública já diz muita coisa sobre essas operações.
A consequência do enxugamento do gasto público proposto por essas medidas será a queda da taxa de juros de equilíbrio. Uma baixa taxa de juros permitirá que empresários tomem empréstimos no setor privado para viabilizar a abertura de novas empresas ou a expansão das existentes. Veremos o setor privado ocupar o espaço deixado pelo setor público por meio da expansão dos investimentos. Um novo modelo de crescimento está em fase de maturação, no qual o setor privado terá maior protagonismo.
Ao mesmo tempo, a economia brasileira se afasta da Nova matriz econômica, experimento malsucedido realizado durante o governo de Dilma Rousseff, no qual o Estado aumentou a sua participação na economia por meio de investimentos e subsídios públicos – coordenados por estatais e por bancos públicos, como o BNDES. A insistência nessa estratégia certamente foi um dos fatores que impulsionaram a derrocada de Dilma. No âmbito econômico, representou a estagnação do crescimento do Brasil com endividamento crescente. O novo direcionamento tomado pela economia é a resposta aos erros do passado.



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