domingo, 26 de janeiro de 2020

É preciso fugir da armadilha do “voo de galinha”


Mais importante do que superar a atual crise é pavimentar a estrada para o crescimento sustentado de longo prazo




Baixo crescimento e a galinha

                                          Foto de Daniel Lemes

A economia brasileira passa por severa crise econômica, mostrando dificuldades para recuperar o crescimento da produção e do emprego. Adicionalmente, as contas públicas se mostram em deterioração gradativa: o governo não tem conseguido equilibrar os níveis das receitas e despesas, com esta última se elevando anualmente em ritmo muito superior ao da receita. Aumento da informalidade e queda dos rendimentos dos assalariados são algumas das consequências desse quadro.
Enquanto esse diagnóstico é amplamente aceito pelo debate sobre essa conjuntura, as soluções divergem. Em geral, alguns analistas defendem o aumento do investimento público para retirar a economia da letargia, enquanto outros argumentam que o ajuste fiscal seria o melhor caminho para a recuperação.
Essa coluna não entrará nessa discussão. O foco desse texto é relacionado com a recuperação da economia, mas em um horizonte mais distante: o longo prazo. Imagine que o Brasil em 2020 volte a crescer de forma mais acelerada, mas aproximadamente em 2024 enfrente outra crise e passe anos com fraco crescimento – é algo rotineiro na história do nosso país esse tipo de comportamento, e o estamos vivenciando atualmente. É o famoso “voo de galinha”. O país cresce por um breve período, todavia pouco tempo depois enfrenta fraco crescimento. 
Nações com elevado padrão de vida, como os Estados Unidos, a Inglaterra e o Canadá não se tornaram ricos por causa de crescimento do tipo “voo de galinha”, muito pelo contrário, isso decorreu devido ao crescimento de longo prazo sustentado: aumento gradativo da produção por um longo período de tempo.
O debate sobre a crise econômica é importante por evidenciar deficiências na economia brasileira, mas é fundamental se ater ao motor do crescimento de longo prazo, aquele crescimento que gera prosperidade para as gerações atual e futura. Esse motor é o progresso tecnológico - termo muito bem discutido por autores como Schumpeter, Robert SolowGudin, entre outros.
Obviamente existem fatores que auxiliam o crescimento de longo prazo, como um adequado Estado de direito, investimento em infraestrutura e força de trabalho qualificada, entretanto, a força motriz é a criação de novos produtos e técnicas de produção – criação e utilização de tecnologias.
Dessa forma, componentes do ajuste fiscal – reforma da previdência, reforma tributária e reforma administrativa – são importantes não somente ao equilibrar as contas públicas, mas principalmente por melhorar o ambiente institucional e econômico do país. Idem para pautas prometidas pelo atual governo, como a abertura comercial e a desregulamentação e o desenvolvimento do sistema financeiro. Com um ambiente mais estável, as empresas investem, os indivíduos empreendem e a interação dos atores econômicos contribui para a geração de progresso tecnológico – e consequentemente para o surgimento de crescimento de longo prazo sustentado.

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