Mais importante do que superar a atual crise é pavimentar a estrada para o crescimento sustentado de longo prazo
Foto de Daniel Lemes
A
economia brasileira passa por severa crise econômica, mostrando dificuldades
para recuperar o crescimento da produção e do emprego. Adicionalmente, as
contas públicas se mostram em deterioração gradativa: o governo não tem
conseguido equilibrar os níveis das receitas e despesas, com esta última se
elevando anualmente em ritmo muito superior ao da receita. Aumento da
informalidade e queda dos rendimentos dos assalariados são algumas das
consequências desse quadro.
Enquanto
esse diagnóstico é amplamente aceito pelo debate sobre essa conjuntura, as
soluções divergem. Em geral, alguns analistas defendem o aumento do
investimento público para retirar a economia da letargia, enquanto outros
argumentam que o ajuste fiscal seria o melhor caminho para a recuperação.
Essa
coluna não entrará nessa discussão. O foco desse texto é relacionado com a
recuperação da economia, mas em um horizonte mais distante: o longo prazo.
Imagine que o Brasil em 2020 volte a crescer de forma mais acelerada, mas
aproximadamente em 2024 enfrente outra crise e passe anos com fraco crescimento
– é algo rotineiro na história do nosso país esse tipo de comportamento, e o
estamos vivenciando atualmente. É o famoso “voo de galinha”. O país cresce por
um breve período, todavia pouco tempo depois enfrenta fraco crescimento.
Nações
com elevado padrão de vida, como os Estados Unidos, a Inglaterra e o Canadá não
se tornaram ricos por causa de crescimento do tipo “voo de galinha”, muito pelo
contrário, isso decorreu devido ao crescimento de longo prazo sustentado:
aumento gradativo da produção por um longo período de tempo.
O debate
sobre a crise econômica é importante por evidenciar deficiências na economia
brasileira, mas é fundamental se ater ao motor do crescimento de longo prazo,
aquele crescimento que gera prosperidade para as gerações atual e futura. Esse
motor é o progresso tecnológico - termo muito bem discutido por autores como Schumpeter, Robert Solow, Gudin, entre outros.
Obviamente
existem fatores que auxiliam o crescimento de longo prazo, como um adequado
Estado de direito, investimento em infraestrutura e força de trabalho qualificada,
entretanto, a força motriz é a criação de novos produtos e técnicas de produção
– criação e utilização de tecnologias.
Dessa
forma, componentes do ajuste fiscal – reforma da previdência, reforma
tributária e reforma administrativa – são importantes não somente ao equilibrar
as contas públicas, mas principalmente por melhorar o ambiente institucional e
econômico do país. Idem para pautas prometidas pelo atual governo, como a
abertura comercial e a desregulamentação e o desenvolvimento do sistema
financeiro. Com um ambiente mais estável, as empresas investem, os indivíduos
empreendem e a interação dos atores econômicos contribui para a geração de
progresso tecnológico – e consequentemente para o surgimento de crescimento de
longo prazo sustentado.
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