Publicado
em 1931, esse livro reúne textos escritos por Keynes sobre os principais
problemas econômicos da época. Os artigos não se detêm apenas ao campo da
economia, relações internacionais, política e filosofia também recebem atenção.
Esse ecletismo é uma das principais marcas do economista britânico.
A
primeira parte discute as consequências do tratado de Versalhes (1919), acordo
assinado pelas potências envolvidas na primeira guerra mundial. A base dessa
parte é o livro As consequências econômicas da paz (1919), best-seller escrito
por Keynes – o cartão de entrada do autor para o hall da fama internacional.
Keynes alerta para o fortíssimo fardo imposto sobre a Alemanha, país
parcialmente destruído pelo conflito e, portanto, incapaz de honrar as dívidas de
guerra e de reparação. Chama a atenção sobre as consequências – trágicas para o
mundo - que poderiam se cristalizar em virtude do caráter opressor do acordo,
eliminando quaisquer resquícios de esperança em retomar o antigo padrão de vida
anterior à guerra.
Como
alternativa, propõe sanções mais brandas sobre a Alemanha e a realização de
empréstimos internacionais por parte dos EUA para auxiliar a retomada das
nações europeias – essa seria a ideia do Plano Marshall de 1948. A fama de
profeta de Keynes advém, em parte, desse livro, com a segunda guerra mundial
mostrando o resultado de um povo ressentido e oprimido ao mesmo tempo preso em
meio a dispositivos legais para uma possível virada da situação de miséria.
A
segunda parte dos Ensaios é dedicada à Grande Depressão de 1929. Keynes mostra
os fundamentos da sociedade capitalista, a sua dependência com contratos entre
devedor e credor, o papel da confiança na realização de investimentos e
evidencia como a deflação poderia solapar esses mecanismos. Segue-se daí que a
recomendação seja recolocar a economia na marcha do crescimento, com o gasto
público exercendo papel propulsor.
Ao
contrário do entendimento de muitos economistas brasileiros sobre Keynes, esse
gasto público não ocorreria de forma irresponsável e ilimitada. O autor analisa o orçamento do governo inglês e mostra como o gasto adicional seria financiado.
Keynes tinha conhecimento do fato óbvio de que o orçamento público é limitado,
e que a sua expansão forçada geraria inflação.
A
terceira parte tece vários ataques sobre a adoção da Inglaterra do padrão ouro
a uma taxa cambial valorizada. Novamente o autor acerta suas previsões: o país
perde competitividade no mercado externo e afunda em crise. O resultado termina
pela desvalorização do câmbio.
O restante
do livro trata de artigos sobre temas variados, como política e gerenciamento
da economia britânica para a segunda guerra mundial. Vale destacar o texto
Economic possibilities for our grandchildren, no qual Keynes questiona os
desdobramentos da sociedade em meio ao desenvolvimento do capitalismo. Como a
economia de mercado eleva o padrão de vida da população de forma gradativa,
chegaremos em um ponto no qual o problema econômico, isto é, a questão de
termos os meios de sobrevivência – alimentação, vestuário e moradia – será algo
superado. Nesse momento, iremos questionar nossos valores. Sob a égide do
capitalismo, nossos valores se concentram no amor ao dinheiro: razões
financeiras dominam quase todas as nossas decisões. Mas e quando o problema econômico
não mais existir? Qual será a moralidade para se seguir? O vácuo deixado pela
moralidade do amor ao dinheiro deverá ser substituído por algo. Esse algo para
Keynes é o verdadeiro problema, aquele que dará significado para nossa
existência.
Ensaios
em persuasão é leitura obrigatória para aqueles que querem conhecer melhor o
pensamento de Keynes. Perceberão que adjetivos como talentoso, eclético e
pragmático se reúnem nos seus textos. Mais importante, talvez, seja contrastar
a impressão dessa obra com a definição padrão – e muito pobre – que muitos têm
de Keynes. De gastador inescrupuloso surgirá um economista, na melhor definição
do termo.
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