Insucesso na contenção da Covid enfraquece argumento de trade-off entre saúde e economia
Nos últimos dias houve significativa melhora em relação ao entendimento da necessidade de vacinação em massa para superar a atual crise da pandemia e, por conseguinte, recolocar a economia brasileira na direção para recuperar a produção e o número de empregos perdidos durante esse intervalo. Parece que a noção de que só poderemos voltar ao "normal" quando estivermos vacinados se consolidou, ainda que existam divergências.
A revista The Economist apresentou excelente gráfico mostrando o efeito das vacinas sobre os casos de Covid-19 nos países mais adiantados nas campanhas de vacinação. No gráfico abaixo, percebe-se um pico de casos por 100 mil habitantes em janeiro, quando o total de infectados quase atingiu a marca de 80. Todavia, posteriormente há abrupta queda, uma redução superior a 50% dos infectados, com uma média de 18 infecções por 100 mil pessoas.
Escrevi em fevereiro que no futuro ficaria mais claro que tomamos o caminho mais oneroso para enfrentar a Covid. Utilizar auxílios emergenciais, seguidas pseudo-restrições e afrouxamentos e confiar na imunidade de rebanho não somente estava se mostrando inócuo, como contribuindo para elevar os gastos públicos, com baixo retorno sobre o objetivo de superar a crise sanitária. Outra evidência, amplamente discutida no ano passado, foi o estudo realizado nos Estados Unidos durante a gripe espanhola de 1918, a qual, segundo algumas estimativas, foi responsável pela morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas. Esse trabalho mostrava que não existia trade-off entre restrições mais rígidas e crescimento econômico, isto é, a medida recomendada para enfrentar pandemias era conter a circulação de pessoas. Os pesquisadores concluíram que os estados que adotaram tais medidas foram os que mais cresceram após a gripe. Escrevi sobre esse estudo em abril de 2020.
Ainda que a equipe econômica realize reformas durante esse período - algo extremamente recomendável -, ou que o otimismo de empresários e consumidores se eleve, não teremos aumento da atividade econômica de forma a impulsionar o dinamismo produtivo. Sem a difusão das vacinas, esses esforços serão insuficientes. A boa notícia é que aprendemos essa lição, ainda que de forma dura e com profundas consequências sobre nossas vidas. Em livro escrito pelo Prêmio Nobel de Economia de 2015, Angus Denton, A Grande Saída (farei sua resenha em breve), o autor argumenta que analisar o bem estar da população observando apenas a renda é incompleto, temos de também prestar atenção para a saúde, segmento que interfere diretamente sobre o funcionamento de economias, e sobre a vida individual dos cidadãos. A Covid-19 tem mostrado o acerto do argumento.
Ei professor, já pensou em publicar seus blogs em plataformas com um pouco mais de alcance como por exemplo o Reddit? Eu não sei com qual objetivo o senhor criou o blog, mas por exemplo se você for numa comunidade chamada R/Brasil, os seus posts vão ter mais visibilidade e vai poder engajar em discussões, ajudar leigos e et cetera.
ResponderExcluirhttps://www.reddit.com/r/brasil/
Lá também tem lugares bem legais com economistas/estudantes da área tipo o Ask Economics e Bad Economics, você pode ter umas discussões interessantes por lá.
https://www.reddit.com/r/AskEconomics/
https://www.reddit.com/r/badeconomics/
Obrigado pelas dicas, Vitor!
ExcluirEstou pensando em expandir o alcance mesmo.
Vou verificar esse site para ver como ele funciona.