quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Quando preços, câmbio, juros e mercado de trabalho irão melhorar?

Normalização do ambiente macroeconômico requer medidas duras

ambiente macroeconomico


As últimas notícias não foram nem um pouco alvissareiras para a economia brasileira. Os preços parecem não parar de subir, com a taxa de inflação atingindo dois dígitos, e o mercado de trabalho mostra fraqueza renitente, com taxa de desemprego por volta de 14%. Em um ambiente desse tipo, propostas e argumentos ruins abundam para tentar minimizar os problemas, como impor a culpa sobre empresas por causa dos preços. 

Esse espaço que escrevo parece repetitivo quando começo a citar o termo "ambiente macroeconômico", e as consequências negativas de ignorá-lo. Bem, estamos presenciando algumas delas atualmente. Não é coincidência que a taxa de câmbio permaneça em níveis elevados (ou dizendo a mesma coisa de forma diferente, que o real se destaque como uma das moedas com maior perda de valor em relação ao dólar), preços crescentes, juros em ascensão, mercado de trabalho fraco, e revisões sucessivas de crescimento do PIB para baixo. Uma economia fraca, com dificuldade de se recuperar, apresentando vários problemas é uma construção gradual, feita aos poucos, pelo acúmulo de omissões e/ou medidas inadequadas para tratar questões estruturais. 

Ainda há como evitar o pior - desacelerar a piora do cenário econômico e criar as condições para a sua recuperação. Entretanto, essa estrada envolve reformas pouco populares, discussões amplas e consenso entre os poderes Executivo e Legislativo. Uma rápida inspeção do clima entre os políticos envolvidos torna qualquer analista pessimista quanto ao objetivo de reformar a economia. 

Por vezes sou questionado sobre a tributação sobre fortunas. Respondo sempre que essa medida criaria fonte adicional de receitas, mas que não resolveria nossos problemas. No máximo, facilitaria o financiamento de programas, como o Bolsa Família. Mas para um governo perdulário, com gasto historicamente crescente, esse imposto rapidamente seria consumido pela máquina estatal. Novas rodadas de impostos seriam necessárias para continuar financiando outros programas. Lembre-se: vivemos numa época em que apenas um clique no celular basta para deslocar grandes somas de dinheiro para outras localidades. A abrangência de um imposto sobre fortunas sofre com essa característica. E não, controlar a entrada e a saída de capitais não é uma opção boa. Seria impor mais complexidade (e burocracia) para consertar uma política pública (e confirmaria a velha máxima de que novas intervenções públicas passam a justificar antigas intervenções).

Claro que a melhora do ambiente externo irá contribuir para produzir melhores condições econômicas no Brasil. Todavia, além de ficarmos dependentes de ventos estrangeiros, nossos problemas voltariam tão logo as boas condições se dissipassem. A solução continua sendo a realização de reformas, aquelas que retiram privilégios, incomodam interesses bem estabelecidos.


PS: Fortunas aplicadas em offshores é outra forma de contornar essa tributação, como ilustrado pelo recente episódio envolvendo Paulo Guedes, o que reduz ainda mais o potencial de receita por meio desse tipo de imposto.




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