sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Semana nebulosa para o Brasil

Políticas ruins poderão atrasar recuperação da economia 

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Essa semana foi um show de horrores no noticiário econômico. O fuzilado teto do gastos parece que finalmente será abandonado em meio a uma crise fiscal e de endividamento para ceder espaço para despesas de cunho eleitoral. Para piorar, após vetar a distribuição de absorventes, sob o argumento de verbas insuficientes, o mesmo indivíduo sinalizou que irá incluir 750 mil caminhoneiros no Auxílio Brasil - programa que irá furar o teto para ser financiado.

Este programa, por sua vez, turbinará o Bolsa Família, trocando o seu nome para afastar a imagem do PT. Lula não se intimidou e afirmou que 400 reais de auxílio é pouco. Valor mais adequado seria 600 reais (!). A convicção demonstrada por Lula de que é possível distribuir benefícios nesse valor me lembrou a mesma certeza vista em Boulos durante o debate para a prefeitura de São Paulo, quando foi questionado sobre a solução para os déficits na previdência estadual, e respondeu com a pérola de que bastaria aumentar a contratação de servidores públicos, pois estes gerariam receitas para a previdência, um típico esquema Ponzi. 

Se para as eleições presidenciais de 2022 os principais candidatos são Bolsonaro e Lula, a economia brasileira passará por momentos difíceis, com os efeitos negativos caindo sobre a população mais vulnerável, aquela parcela do povo na qual programas que ignoram restrições fiscais são justificados.

Uma das melhores definições de populismo que li é a de Dornbusch e Edwards, no livro A Macroeconomia do Populismo na América Latina, segundo a qual populismo econômico é a busca de crescimento e redistribuição de renda ignorando restrições fiscais e riscos macroeconômicos. Bom, Bolsonaro mostrou esse comportamento nessa semana (na verdade, muito antes, mas nos últimos dias esse comportamento se acentuou). A queda do mercado de ações, a subida do dólar, taxa de juros Selic crescente e o aumento no custo de financiamento da dívida pública não deixam dúvidas.

Na história econômica brasileira, nada de novo, ele se junta a um elenco de políticos que visam apenas ganhos de curto prazo, comprometendo o longo prazo - para citar alguns poucos, temos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Sarney, Lula, Dilma. Como não é muito claro para o público leigo a causalidade entre a irresponsabilidade financeira e o que vemos nos próximos meses e anos, tais atitudes costumam não ser atreladas aos seus responsáveis. É muita politicagem e pouca economia.

Para as pessoas (eu incluso) que imaginaram que Paulo Guedes teria liberdade para realizar reformas estruturais, que aproximariam o Brasil das melhores práticas internacionais, essa semana evidenciou o desacerto da expectativa. Integrantes de sua equipe (corretamente) pediram demissão. Me surpreende que Guedes ainda não tenha tomado essa decisão.  

Caso essa guinada continue no decorrer do ano, a recuperação econômica brasileira será prejudicada (talvez abortada?). Uma economia dinâmica é incompatível com desequilíbrio macroeconômico. Também continua sendo precisa a afirmação de que para auxiliar famílias pobres com assistência social é necessário existir responsabilidade fiscal, caso contrário nenhum programa ou avanço nessa pauta se mantém, este é perdido tão logo a economia inicie o processo de cobrar o preço de medidas inadequadas (todo sistema econômico sempre pune populismo e medidas insustentáveis). Continuo cético com o otimismo de Gustavo Franco e Pedro Malan, de que o Brasil e os brasileiros aprenderam que responsabilidade fiscal não pode ser ignorada na condução do país.



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