Políticas resultantes dessa questão podem enfraquecer progresso material e de ideias
Desde a aquisição do Twitter, pelo bilionário Elon Musk, pelo valor de 44 bilhões de dólares, muito se tem discutido sobre os efeitos de bilionários sobre a sociedade e, principalmente, sobre a economia. Lendo algumas discussões em redes sociais e em grupos de WhatsApp, minha impressão é a de que o debate é muito pobre, com diversas lacunas. Muita emoção e pouca razão. Aproveitando o tempo de 10 a 15 minutos que o modelo econométrico que construí para minha tese de doutorado leva para gerar resultados, tenho aproveitado esse período para escrever mais nesse blog - e também para desestressar dos vários resultados incertos que esse modelo tem gerado. Um verdadeiro teste de paciência.
Adianto que esse artigo não irá exaurir o tema. Não por sua complexidade - pois não há muito o que discutir sobre bilionários. Minha intenção é apenas fornecer algumas dicas para guiar a reflexão antes de apontar o dedo e julgar precipitadamente essas pessoas.
Começarei pelo lado positivo. Nomes como Bill Gates e Jeff Bezos nos perseguem até quando pensamos estar totalmente isolados. No meu caso, meu notebook utiliza o sistema operacional Windows 11, desdobramento da contribuição de Gates para o mundo da tecnologia, quando ele ainda era muito jovem. Foi o ponto de partida para se tornar um bilionário. Bezos tem a Amazon como fonte de ascensão. Aqui em São Paulo, capital, a Amazon entrega produtos que compro de seu site em menos de 24 horas. Tanto Gates quanto Bezos revolucionaram as formas operacionais do setor da informática e do transporte/logística.
Para o consumidor o impacto dessas "revoluções" é muito nítido. Hoje computadores fornecem diversos serviços. O barateamento promovido no frete pela Amazon contribuiu para forçar os demais concorrentes a também buscarem reduções em seus preços. Há diversos outros exemplos, como os criadores de redes sociais (ex: Facebook) e canais de entretenimento (ex: Youtube). Se tornaram bilionários fornecendo benefícios para a população.
Isso não significa que toda pessoa que se torna bilionária acarreta em ganhos para o mundo. Nosso país produz bilionários com contribuições questionáveis, como Eike Batista e Marcelo Odebrecht. Eike elevou sua riqueza enganando diversos investidores com falsas promessas de ganhos potenciais no futuro por meio de suas empresas. Marcelo foi o líder de uma empresa (Odebrecht) que somente conseguia contratos por meio de práticas ilícitas. Adicionalmente, esses dois bilionários sugavam dinheiro público para auxiliar na manutenção de suas riquezas. A conhecida prática do capitalismo de compadres: a junção de políticos com empresários para gerar ganhos para os dois, em detrimento de todo o país. Portanto, tenho ceticismo com os bilionários daqui do Brasil, mas apoio totalmente os bilionários que criam novas formas de trabalhar, produzir, que conseguem proporcionar benefícios para a população.
E o lado negativo? Antecipei um ponto negativo ao descrever brevemente como Eike Batista e Marcelo Odebrecht conseguiram crescer financeiramente - há muitos outros exemplos que poderiam ter sido citados, como os oligarcas russos, ou o mexicano Carlos Slim. Todavia, não é todo bilionário que se utiliza da burocracia e do governo para se tornar rico.
Por outro lado, o acúmulo de poder econômico pode gerar o acúmulo de poder político, com a utilização da nova posição para subverter instituições e/ou criar leis para benefício próprio. Essa é uma das explicações da piora da política nos Estados Unidos, segundo Rajan e Zingales no livro Salvando o Capitalismo dos Capitalistas. Um dos ícones do liberalismo do século passado, Milton Friedman, alertava para essa questão: todo acúmulo de poder é nocivo, pois nós humanos somos imperfeitos, com vários vícios.
Atualmente, a preocupação com o acúmulo de poder é combatida pelas agências de regulamentação. As atenções estão voltadas para a Europa, no combate ao monopólio/oligopólio das empresas de tecnologia (big tech): Google, Facebook, entre outras. Note a diferença. O combate é realizado à forma de operar da empresa, e não ao proprietário ou fundador dela. Nada de tornar a questão em algo pessoal.
Talvez a ausência de análises pró e contra bilionários acarrete em recomendações absurdas de políticas para lidar com esse contingente. Já li a defesa de que os "44 bilhões de dólares gastos para adquirir o Twitter eliminariam a fome mundial". É uma proposição absurda. Não resiste a simples matemática. Segundo a ONU, a estimativa de pessoas famintas é de 800 milhões. Dividindo 44 bilhões por 800 milhões, o resultado são 55 dólares, ou seja, cada indivíduo na faixa da fome receberia 55 dólares. Quantia suficiente para matar a fome por ... uma semana? Duas no máximo? E depois?
Outro absurdo é argumentar que as transferências de herança deveriam receber tributação total, isto é, tudo fluiria para o governo, o qual repassaria a quantia para a população. Nesse caso, como empresas também fazem parte da herança, principalmente no caso de bilionários, estas seriam totalmente liquidadas. Deixariam de existir (?), sendo o valor da venda distribuído para a população (um governo que adotasse esse tipo de política conseguiria vender empresas bilionárias?!). Vamos novamente às contas. Suponha que a Vale, uma das principais produtoras de commodities do mundo, tenha a infelicidade de cair nessa política. Atualmente, o seu valor de mercado é algo em torno de 60 a 70 bilhões de dólares. Todo esse valor seria liquidado e distribuído para os brasileiros, com população por volta de 210 milhões. Cada brasileiro receberia algo em torno de 334 dólares. Pela taxa de câmbio de 5 reais por dólar, a conversão dessa quantia daria 1.670 reais. Esse valor resolveria os problemas do país? Pobreza, fome, saneamento básico? Não se esqueça de que com a liquidação da Vale os seus 120 mil empregados perderiam os seus empregos. Também o país perderia uma empresa de produção elevada, logo, o PIB cairia. Menor produção com menor renda para todos. A velha receita infalível, defendida principalmente por socialistas, para destruir uma economia.
Espero que apenas com essas observações que levantei, eu tenha conseguido mostrar que a questão dos bilionários não é tão branco ou preto como se tem desenhado. Como quase tudo que envolve matérias econômicas, há benefícios e custos. Eu particularmente não tenho nada contra eles - exceto os made in Brasil que eu realcei. O progresso material seria reduzido caso excluíssemos as contribuições de bilionários. Será que a birra direcionada a eles não seja somente puro ressentimento e inveja pela posição de destaque que ocupam? Quanto mais tenho estudado livros de autores que procuram esmiuçar o comportamento humano, cada vez mais essas forças têm aparecido. É bom não desconsiderá-las.
Para fechar o texto, levanto outro ponto comum de reclamação de que os bilionários não pagam impostos suficientes. Na verdade, em valores absolutos, eles pagam muito imposto. Imagino que a reclamação seja em termos de valores relativos, atribuídos ao percentual da renda que é destinada aos cofres públicos. Algumas pessoas consideram que, se o percentual máximo de imposto de renda é de 30%, bilionários deveriam pagar algo próximo a 70% ou 80%. Eu sou contra esse tipo de política. Não acho que bilionários, aqueles que assim se tornaram por conta de contribuições valorosas para toda a população, deveriam ser pesadamente penalizados por terem acumulado riqueza pela remuneração advinda do mercado privado. Nesse caso, vejo como uma recompensa por terem praticado uma ação altamente valorizada por investidores e consumidores.
Enfim, vou parar por aqui, caso contrário o texto ficaria muito grande. E também vou dar uma pausa de 10 minutos nos estudos - meu modelo continua não funcionando. Se continuar dando os problemas que tenho visto nas últimas semanas, continuarei escrevendo com mais frequência nesse espaço. Por fim, talvez compense pensar um pouquinho mais sobre os bilionários antes de sair julgando-os.
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