terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Resenha: Livre para Escolher (Milton Friedman e Rose Friedman)

Família Friedman constrói argumentos em prol do governo limitado e de uma economia com poucas amarras

livre para escolher


Essa é a segunda resenha de Milton Friedman. A primeira foi do livro Capitalismo e Liberdade, obra na qual o autor mostrou como a liberdade comercial se associa com a liberdade política: como o liberalismo econômico propicia condições para o surgimento de regimes democráticos. Livre para Escolher segue caminho parecido, argumentando e ponderando as vantagens e desvantagens de uma sociedade com menor participação coerciva do governo. 

Uma frase que resume bem a obra é a que nos diz que "a maior ameaça à liberdade humana é a concentração de poder, seja nas mãos do governo, seja na de qualquer outra pessoa". Friedman se posiciona contra a formação de monopólios, uma vez que na existência destes não temos a realização de trocas voluntárias

Trocas voluntárias é o cerne de uma economia com poucas amarras. Nela, o consumidor opta onde comprar, ao passo que os vendedores disputam o mercado. Ninguém é obrigado a efetuar a compra. Por isso o termo troca voluntária. Com monopólios, os consumidores não mais possuem escolhas, sendo obrigados a comprarem de uma única empresa. Nesse caso, temos concentração de poder - característica sempre prejudicial na visão de Friedman. 

Parte do efeito nocivo decorre do fato de não existirem indivíduos perfeitos, desprovidos de vícios; pelo contrário, a história mostra que o poder tende a ser usado para subverter a ordem, beneficiando poucos e prejudicando os demais grupos: "A perfeição não é para este mundo".  O argumento de indivíduos imperfeitos se encaixa na defesa do regime político democrático, o qual possui como principal vantagem a limitação de poder de quem governa

Partindo das trocas voluntárias, estas propiciam geração de renda (prosperidade), pela melhor alocação de capital, fortalecem a liberdade humana, e fornecem ganhos de bem estar para os envolvidos. Fundamental nesse processo é a existência de preços de mercado. Esses preços desempenham 3 funções: i) informação (preços mostram escassez e preferências da sociedade), ii) melhoram alocações e ajudam a reduzir os custos; iii) distribuição (pelas trocas de bens e serviços por dinheiro. Essas funções dos preços ajudam a entender a oposição que economistas (incluindo quem vos escreve) demonstram quando governos procuram controlá-los - a economia perde a sua principal âncora. 

Ponto relevante do livro é a diferenciação entre interesse próprio e egoísmo: "Interesse próprio não é um egoísmo míope. É o que interessa aos participantes, seja lá o que for, o que quer que eles valorizem, quaisquer que sejam os objetivos que busquem. O cientista que procura alargar as fronteiras de sua disciplina, o missionário que procura converter infiéis à verdadeira fé, o filantropo que procura levar conforto ao necessitado — todos estão em busca de seus interesses, do seu ponto de vista, conforme avaliam a partir de seus valores pessoais". O desejo de atingir objetivos pessoais, de desenvolver habilidades e buscar metas são coisas inteiramente legítimas para qualquer indivíduo. Talvez o ressentimento dos que não conseguiram seguir caminho parecido possa explicar as acusações de egoísmo.

O contraste entre governo intervencionista e economia com poucas restrições permeia toda a obra. As vantagens de um governo limitado (não inexistente, tampouco mínimo, cuidado com os termos) podem ser vistas em dois blocos. O primeiro concernente à economia, como melhor alocação dos fatores de produção (capital e trabalho), adequado funcionamento dos preços e maior dinamismo produtivo. O segundo eixo é o político, com a redução de concentração de poder, maior campo de escolhas para os indivíduos e respeito às individualidades. Leitores que procuram refletir sobre esse tipo de discussão deveriam ler essa obra. 

Prêmio Nobel de Economia em 1976, Friedman realizou importantes contribuições para o avanço da Ciência Econômica. Não se limitou a ficar no campo puramente acadêmico. Buscou transmitir conhecimento para o público , o que gerou esse livro e alguns vídeos que podem ser vistos no Youtube. Outra vantagem de maior contato com suas obras é a de não cair em equívocos, como o que afirma que Friedman defendia uma sociedade sem governo - asserção desprovida de veracidade e despropositada. 




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