quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Economia tem melhorado?

Comparativo com 30 países mostra que crescimento do PIB deixará novamente a desejar

previsão pib


Toda semana eu tenho o costume de buscar o meu almoço no restaurante próximo de minha casa. Compro minha marmita, volto para casa, almoço e continuo os trabalhos. Outras vezes almoço na universidade. Nesta semana, quando fui pegar minha marmita, encontrei amigos discutindo política e economia. Me colocaram na roda (sempre para ouvir, nunca para discordar deles) e me informaram que a economia brasileira estava "voando", uma clara derivação do prometido "decolar" do ministro Paulo Guedes. 

Claro que imaginei que fosse piada ou ironia da parte deles. Fixei o olhar em seus rostos buscando um sorriso carregado de ironia ou de sentido cômico. Mas não! Estavam falando sério! Perceberam minha perplexidade e complementaram afirmando que atualmente o Brasil é a "melhor economia do mundo". Isso mesmo, do mundo!   

Imagino que esse otimismo (e miopia) decorra das fontes que utilizam para se informarem. Por outro lado, há sinais leves de melhora na economia, como a queda da taxa de desemprego e o enfraquecimento da taxa de inflação. Todavia, o caminho ainda é muito longo para recuperar os prejuízos advindos de pelo menos 3 fatores. O primeiro é o desarranjo promovido pela pandemia. O segundo decorre da falta de vontade e habilidade do atual governo em realizar as reformas estruturais que poderiam gerar ganhos tanto no curto quanto no longo prazo (neste texto aqui escrevi 10 reformas que são necessárias). O terceiro são os próprios erros da política econômica, como os furos no teto do gasto (o mais recente foi a PEC "kamikaze"), e o não cumprimento de promessas, como as ondas de privatizações e a redução do déficit público para zero. O governo que se eleger nas eleições deste ano irá herdar os efeitos deletérios do terceiro fator que apontei, além, como sempre defendo, da necessidade e imperiosidade de avançar reformas econômicas.

Fui no site do FMI (Fundo Monetário Internacional) e coletei os dados mais recentes de uma amostra das principais economias do mundo. É uma forma de verificar como o Brasil tem se comportado e compará-lo com outros países. A tabela abaixo apresenta o crescimento da produção (retirando o efeito dos preços) nos anos de 2020 e 2021 (coluna rosa), as projeções de crescimento deste ano e para o próximo ano (coluna amarela) e antigas projeções do PIB de 2022 e 2023 (coluna azul). As duas últimas linhas mostram a média das 30 economias (linha MÉDIA) e a última mostra a posição do Brasil em relação aos demais países (coluna POSIÇÃO).  Eu tentei buscar dados dos mais de 150 países que existem, mas o FMI disponibilizou dados para apenas 30 economias.


pandemia voando economia

O crescimento do PIB em 2020 e 2021 já elimina outra famosa afirmação que meus companheiros do restaurante gostam de afirmar: "o Brasil foi uma das melhores economias do mundo durante a pandemia". No quesito PIB, isso é muito questionável. No ano de 2020, ficamos em 14º lugar entre essas 30 economias. No ano passado, caímos algumas posições, se posicionando como 18º economia com maior crescimento do produto. 

Nas colunas projeções, observe, antes de mais nada, que as atuais projeções melhoraram para o Brasil. Portanto, é verdade que nossa economia surpreendeu analistas. Entretanto, e essa é uma grande ressalva, essa surpresa foi generalizada, ocorreu em praticamente todos os países. Vá para a última linha da tabela e veja a posição do Brasil. Estávamos melhor ranqueados nas antigas projeções. Nas projeções atuais, embora tenhamos avançado no aumento esperado do PIB, relativamente aos demais países, nosso avanço foi muito pequeno, gerando posições baixas (27º e 23º).

Os dados dessa tabela não me surpreendem. Como tivemos uma forte queda do PIB na pandemia, devido a fatores não estritamente relacionados à economia, tão logo os efeitos do distanciamento social e confinamentos perdessem força, a tendência seria de recuperação. Mais do que isso, como economia emergente, com problemas estruturais, e pela aversão e má vontade política em realizar reformas econômicas que corrigiriam entraves ao desenvolvimento econômico, nosso país está condenado a apresentar voos de galinha: se crescer de forma forte, será muito brevemente, tendendo a voltar para baixos níveis de crescimento. Ou então (como sugerido pela tabela nas projeções atuais para 2022 e 2023), o crescimento permanecerá baixo por longo período. Não há muito o que se fazer. A minha surpresa decorreu do fato de sentenças exaltando a economia brasileira. Voando! 

Nos próximos artigos posso trazer mais informações deste tipo. Imagino que outras tabelas com as taxas de inflação e de desemprego de vários países podem ser úteis para esclarecer desinformação. Voando! (jamais esquecerei daquela conversa).





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