segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Resenha: Os Filósofos Mundanos (Robert L. Heilbroner)

Começando por Adam Smith, livro expõe a evolução do pensamento econômico desde suas origens

economia capitalismo


Os Filósofos Mundanos: As vidas, os tempos e as ideias dos grandes pensadores econômicos é daqueles livros que te apresentam o desenvolvimento da Ciência Econômica desde os primeiros autores que propuseram teorias para explicar o funcionamento dos mercados. Mostra a evolução dos primeiros passos até os dias atuais. Sem dúvidas um livro agradável de ser lido; não somente por fornecer esse mapa histórico dos grandes economistas, mas por principalmente apontar como as teorias que utilizamos foram produzidas e as transformações subsequentes pelas quais passaram.

No início da obra, Robert Heilbroner nos diz que após a fase tribal e grupal da humanidade, quando a reciprocidade e o parentesco ditavam as formas de organização social, a tarefa de reunir milhares de pessoas, com diferentes objetivos e perspectivas se torna muito mais difícil - torna-se, em uma palavra, uma arte. É aqui onde opera o "truque" das economias de mercado: instituição impessoal que, por meio do sistema de preços, consegue aliar as tarefas e trabalhos de indivíduos, de forma a gerar um resultado que beneficia a maioria da população. Para quem tem certa dose de leitura econômica já sabe o nome do autor que nos mostrou esse resultado: Adam Smith. Mas estou me adiantando. Antes disso, Heilbroner questiona como surgiu a ideia do ganho monetário na vida das pessoas. Uma ideia moderna. Em desacordo com a maior parte da vida do homo sapiens

De acordo com o autor, 4 motivos se destacam como potenciais explicações. O primeiro foi a ascensão das unidades políticas na Europa, a formação dos Estados. O segundo foi o enfraquecimento da igreja católica, juntamente com o questionamento de alguns de seus dogmas. O terceiro foram as mudanças materiais que se operavam, como a abertura de estradas e o maior fluxo entre pessoas e produtos. Por fim, a crescente curiosidade científica. Não somente no mundo econômico, bem como em outras áreas do conhecimento. Passou-se a buscar teorias que explicassem o mundo.

Daí temos o surgimento dos grandes autores. O livro começa com Adam Smith (não entrarei em muitos detalhes por conta do tamanho desta resenha). Como mencionei anteriormente, Smith mostrou como o mercado se auto regula quando cada indivíduo se preocupa em melhorar sua posição. Há um ganho de bem estar na provisão de bens e serviços para a população - o padeiro não levanta às 4 horas da manhã para te ajudar, mas primordialmente para o seu próprio ganho, todavia, procedendo desta forma ele oferta valioso serviço para a comunidade. Agora generalize esse comportamento para todos os ramos da economia. Smith chamou esse processo de mão invisível.

Após Smith, o livro destaca Thomas Malthus e David Ricardo. Amigos próximos na vida pessoal e rivais na vida intelectual. Indubitavelmente Ricardo foi mais bem sucedido nesta disputa, com o seu esquema abstrato que mostrava que o capitalista (com a função de gerente, investidor) se daria mal quando os salários e os preços da terra subissem, culminando na atrofia de seu lucro. Malthus, famoso por sua previsão pessimista em relação ao crescimento da população, a qual se depararia com a escassez de alimentos, tendo de reduzir o número de pessoas por eventos trágicos como guerras, fomes e doenças, teve enorme perspicácia (do conhecimento de poucos) sobre o problema do auto ajuste do mercado. Keynes faria fama ao aprofundar na falha indicada por Malthus. 

Um ponto fortíssimo do livro é que ele não somente apresenta as teorias dos grandes autores. Ele faz a contextualização com os problemas vividos na época, e como o autor interagiu com eles. Mais do que isso, Heilbroner argumenta que as experiências sofridas por estes autores influenciaram significativamente as teorias que foram criadas. Dois exemplos são Karl Marx e John Maynard Keynes. Marx teve uma vida de miséria, dependendo do dinheiro de seu companheiro intelectual Engels para não passar fome. Portanto, Marx tinha uma visão pessimista dos mercados. E isso entrou em sua teoria com previsões trágicas para o capitalismo. Por outro lado, Keynes, bem sucedido como investidor, como empresário (como David Ricardo, Keynes fez fortuna operando nos mercados financeiros), como escritor e como alto funcionário do Estado, não fuzilou o sistema de mercados, defendeu a sua reforma. Reformar para possibilitar a sobrevivência do capitalismo. Sem dúvidas, Keynes tinha uma visão mais otimista com a vida (há detalhes da vida dos autores na obra, muitas vezes contada de forma cômica). 

Gostei deste traço porque reforçou que não estamos isentos do ambiente e das influências que nos cercam: eles nos moldam. Contudo, este viés não significa a desqualificação completa das teorias erguidas. Novamente tomando Marx como exemplo, há méritos em sua obra, especialmente no livro O Capital. Marx foi um dos primeiros a teorizar e indicar que o sistema capitalista é marcado por booms e depressões, que existe a tendência de queda dos lucros, e que para que isso seja evitado, há a necessidade constante e imperiosa de progressos tecnológicos. Não bastasse esses acertos, ao apontar as práticas desumanas realizadas nas fábricas contra crianças, mulheres, e trabalhadores em geral, Marx prestou importante papel para o fortalecimento de regulações e regras trabalhistas. 

Há capítulos dedicados a John Stuart Mill, Alfred Marshall, Thorstein Veblen, entre outros. Pularei estes pelos motivos que apontei no início desta resenha. Assim chegamos a Keynes, economista que ofereceu a saída para a maior crise do sistema capitalista, a crise de 1929, conhecida como a Grande Depressão

Com desemprego próximo de 30%, e anos seguidos de recessão, analistas e autoridades políticas não tinham muita ideia do que fazer, até que Keynes indicou o caminho: o governo deveria preencher, por meio do gasto e investimento público, o espaço desocupado pelo setor privado. Uma vez que a economia voltasse a rodar suas engrenagens, o governo poderia reduzir este gasto, permitindo que o setor privado voltasse a operar. Quanto desentendimento vejo em relação à Keynes! (minha hipótese é que há insuficiente nível de leitura por parte dos críticos).

Malthus já havia indicado este problema da economia de mercado: às vezes a poupança pode não ser revertida em investimento. Se ninguém investe, como há criação de emprego? A economia ficaria emperrada. 

Após Keynes, o último autor é Joseph Schumpeter, famoso pelo conceito da destruição criativa. Segundo Schumpeter, a economia de mercado avança por meio da incessante inovação por parte de empreendedores e empresas. Novas tecnologias permitem que novos produtos substituam os antigos, realizando uma destruição das antigas formas de produção para dar espaço às novas formas, com melhor custo-benefício e maior lucratividade. Este novo produto fica na dianteira até que nova inovação o derrube, em jogo incessante pela busca da liderança do mercado. Schumpeter explicaria a recorrência de crises e booms por esta dinâmica. 

Imagino que devido à data de publicação do livro, Milton Friedman não foi incluído na discussão. Uma pena, pois Friedman teve relevante influência no pensamento econômico nos anos pós Segunda Guerra Mundial. De qualquer forma, esta omissão não compromete o livro.

Para leitores que desejam entender a evolução da Ciência Econômica, Os Filósofos Mundanos é leitura obrigatória. A leitura é fluente, agradável, e a exposição das teorias dos grandes autores é realizada de forma didática. E como falei, considerar o contexto dos autores e relacioná-lo com as teorias defendidas enriquece ainda mais a leitura.







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