Japão é o caso clássico de uma estagnação secular
Continuando
a discutir sobre o tema estagnação secular (tópico abordado na última coluna, veja aqui), hoje volto a atenção para o Japão. Após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), e o traumático episódio das bombas nucleares lançadas sobre
Hiroshima e Nagasaki, a economia japonesa se recuperou de forma estrondosa.
Analisando a tabela abaixo, veja que o Japão chegou a apresentar taxa de
crescimento do PIB per capita da ordem de 8% ao ano. Crescimento parecido com o
que vemos hoje na China.
O modelo
de crescimento japonês passou a ser admirado pelo mundo. A ética de dedicação
ao trabalho, a participação do governo em financiar e apoiar o surgimento de
grandes empresas, como a Toyota, e a sofisticação de seus produtos que invadiam
os mercados internacionais, passaram a fazer parte das explicações para
compreender o sucesso japonês. Abundavam previsões de que o Japão ultrapassaria
os Estados Unidos e se tornaria a principal potência econômica. Até que aconteceu algo estranho.
No final
dos anos de 1980, os preços do mercado imobiliário japonês cresceram de forma
assustadora para as pessoas que viviam e assistiam de forma próxima o evento.
Em poucos anos, os preços das moradias subiram 180%. O prêmio Nobel de
economia, Paul Krugman, explicou que isso decorreu do comportamento dos bancos
japoneses, que emprestavam vastas somas para os devedores (uma consequência da abertura financeira que o país realizou). E estes devedores
não pensavam duas vezes em adquirir ativos e rapidamente vendê-los, para assim
se aproveitar dos preços ascendentes. Esse comportamento também ocorreu no
mercado de ações. Havia duas bolhas ocorrendo no país, uma no mercado de ações
e outra no mercado imobiliário.
Como
ocorre com toda bolha financeira, ela teve um final. O banco central japonês,
percebendo os riscos da bolha, resolveu elevar a taxa de juros, acarretando não
somente no fim da bolha, mas também desencadeando forte crise econômica –
consequência invariável da maior parte das bolhas.
Todavia,
a recuperação do crescimento econômico, que era esperada pelos analistas, não
ocorreu. Em geral, após alguns anos de crise, as economias se recuperam e voltam a
expandir as suas estruturas produtivas, mas isso não ocorreu com o Japão. As autoridades de política pública tentaram
chacoalhar a economia dessa letargia: elevou-se o gasto público (política
fiscal expansionista) e reduziu-se a taxa de juros para níveis baixíssimos
(política monetária frouxa). E o resultado foi o aumento significativo da
dívida pública japonesa sem, no entanto, recuperar o famoso dinamismo que
apresentou após a Segunda guerra. O gráfico abaixo confirma o quadro. A dívida
japonesa/PIB é a maior do mundo, ultrapassou a marca de 200%.
Parece
que o país atingiu um estágio no qual a produção não se expande de forma rápida
(volte para a tabela do início do texto e compare o crescimento ao longo do tempo). Ainda que o
governo gaste dinheiro, a demanda não se eleva, o crescimento não aparece,
apenas a dívida se eleva. Dessa forma, o Japão é o caso clássico de uma estagnação
secular. Mas por que logo o Japão?
O meu
palpite é o de que o avanço tecnológico do país se desacelerou ao longo do
tempo. Sabemos que para uma economia crescer, ela precisa de mão de obra
qualificada, estoque de máquinas e equipamentos modernos (capital físico) e,
principalmente, conseguir conjugar tecnologia avançada com esses insumos, ou
seja, balancear o uso do capital com os trabalhadores, em meio a tecnologia
utilizada. Acontece que o Japão está na fronteira tecnológica (o mesmo é válido
para os Estados Unidos e outras economias avançadas). Avançar para além dessa fronteira é difícil.
Essa dificuldade pode ser exemplificada por uma taxa mais lenta de progresso
tecnológico, e este interfere sobre o dinamismo da produção. Então, há a
hipótese de que os países avançados, ao atingirem determinado nível de
crescimento, passem a crescer de forma mais lenta, pois estão restringidos pelo
avanço da tecnologia empregada.
Essa
justificativa também fornece a saída para a armadilha japonesa de crescimento.
Inovação tecnológica. Se essa explicação está adequada, ela tornaria compreensível a
inocuidade das políticas fiscal e monetária japonesas. Alongando o raciocínio,
conseguiríamos igualmente explicar a letargia atual das economias avançadas. Esses
países parecem atingir um equilíbrio no qual o crescimento se torna lento. Talvez
esse será o futuro da China, quando esta economia atingir maior patamar de
capital e tecnologia.
Olá professor, mesmo não sendo um especialista em economia gostaria de dar a opinião sbre o assunto:
ResponderExcluirEu não acho que o culpado pelo baixo crescimento do Japão seja a tecnologia, da época em que o Japão "parou de crescer" até aqui, houve uma intensa modernização com o advento da internet, inteligência artificial, automatização e processamento computacional. Os paises de primeiro mundo, incluindo o Japão, absroveram bem o novo paradigma no tecnológico, ao contrario de outros países como nosso Brasil que usou isso como uma desculpa para aumentar o protecionismo em nome da "industria nacional", mas mesmo países retrogados como o nosso apresentaram um crescimento economico satisfatorio.
Tendo isso em mente o que atrasou o Japão? Ao meu ver três coisas:
1° - As Zaibatsu, os conglomerados industrias japoneses são empresas que atrapalham a economia japonesa, não necessariamente por serem grandes, mas por serem intimamente ligados ao governo, os subsídios, resgates e beneficios em relação as demais empresas no territorio nacional, exterminam e sufocam os pequenos e medios negócios que se veem incapazes de competir contra os conglomerados.
2° - Apesar de não ter PIB batendo recordes ano após ano, o Japão já é um país desenvolvido, mesmo nas zonas mais interioranas do país é possivel observar uma boa qualidade de vida, tendo varias regiões já desenvolvidas e em plenitude, dificulta o crescimento. Um bom contraste é a China, que apesar de ter melhorado muito nas ultimas decadas, ainda sofre com pobreza endêmica fora das grandes cidades.
3° - A política fiscal e monetaria japonesa; Emprestimos faceis e crédito farto não elevam necessariamente a demanda do país, tanto porque bancos privados relutam em emprestar o dinheiro para investimentos dúbios como carros, lanchas e imoveis, a população decide a prioridade de gasto, como o Japão é um país acometido regularmente por desastres naturais o povo tem o habito de poupar e vale notar que em economias estáveis com inflação mais ou menos baixas a criação de poupança é o ideal.
Gostei do seu ponto número 1. Faz sentido para mim. É uma hipótese muito razoável que os Zaibatsu tenham perdido produtividade ao longo do tempo. Vou verificar se há trabalhos discutindo esse tipo de coisa. Alguns economistas, inclusive, dizem que a China poderá perder dinamismo produtivo em virtude da proximidade de suas empresas com políticos, culminando em queda da produtividade ao longo do tempo.
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