quinta-feira, 1 de julho de 2021

Corrigindo a economia brasileira (parte 8)

Todos defendem a melhora da educação; questão é saber como melhorá-la

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O antepenúltimo texto de reformas para recuperar o vigor da economia brasileira, com efeitos positivos sobre o mercado de trabalho e redução da desigualdade de renda, se concentrará na reforma da educação. É uma área sensível, às vezes sendo alvo de controvérsias, mas que possui enorme potencial econômico.

Escrevi recentemente sobre as principais fontes de crescimento pelo lado da oferta, e destaquei que a educação era um desses fatores. Quando o assunto é crescimento, salta a imagem dos tigres asiáticos (Coreia, Taiwan, Hong Kong e Cingapura), nações que conseguiram avançar rapidamente no quesito padrão de renda por causa do aumento de acumulação de fatores de produção, entre eles a difusão da educação de qualidade. A educação também funciona como poderoso elemento para combater a desigualdade, dado que indivíduos qualificados conseguem mais rápida inserção no mercado de trabalho com altos salários. Adicionalmente, ao contrário das pessoas de baixa qualificação, o aumento da escolaridade reduz a probabilidade de sofrer com o desemprego. Talvez a qualificação seja o principal motor para quebrar o ciclo intergeracional da pobreza de famílias de baixa renda. Por fim, a educação faz parte das 4 falhas de mercado discutidas no passado, externalidades. Neste caso, o setor público pode intervir para melhorar o resultado de mercado - a tendência seria um quadro de insuficiente provisão de educação para a sociedade, pois os ganhos sociais superam os ganhos de mercado, culminando em subfinanciamento desta pelo mercado. O governo complementaria o financiamento com o acréscimo de sua parte.

A primeira medida seria a reversão de prioridade que o país adotou no passado. O Brasil priorizou o ensino superior em detrimento do ensino básico, quando na verdade é a educação básica que apresenta maiores ganhos ao longo do tempo tanto para indivíduos quanto para o país como um todo. Além do aumento de financiamento para a educação básica, há medidas eficazes para melhorar o rendimento dos alunos. 

Alguns trabalhos mostraram que a redução do número de alunos por sala de aula é acompanhada pela melhora de desempenho em testes estudantis. De forma parecida, tutoria e acompanhamento para os alunos enfrentando dificuldades também gera resultados positivos sobre estes. Veja, portanto, que o problema da educação não se resolve necessariamente apenas elevando os salários de professores e/ou promovendo a valorização destes profissionais. É necessário melhorar o espaço do serviço e a forma como este é realizado. 

Fornecimento de creches, ensino integral e merendas no caso de famílias de baixa renda é uma forma de proteger a criança de um lar possivelmente instável, e garantir que esta não sofra subnutrição e esteja exposta a conflitos domésticos.  

Obviamente que essas medidas não são triviais no caso brasileiro, dado que o governo sofre forte restrição fiscal. Estas medidas implicariam no aumento da despesa pública. Para reduzir o número de alunos por sala, dever-se-ia construir novas salas. Tutorias para alunos com dificuldade seriam acompanhadas pela contratação de novos trabalhadores. Creches e ensino integral também exigiriam gastos adicionais. Daí a importância das reformas elencadas nos textos anteriores, entre elas o ajuste fiscal e a reforma do setor público, pois ambas gerariam economia de dinheiro público, o qual poderia ser alocado para a educação. Regra de bolso sobre o gasto do governo: apenas expandir o gasto é insatisfatório e sujeito a desperdício, o ideal é direcioná-lo para áreas com grande potencial de retorno em termos de bem estar, sendo uma destas a educação, ao passo que gastos canalizados para o alto funcionalismo público e elevados benefícios previdenciários são puramente contra intuitivos dada a necessidade do país em reduzir a desigualdade de renda e potencializar o seu crescimento. 

Outra medida para a reforma educacional seria aproximar o que é ensinado nas escolas e universidades com as necessidades do mercado de trabalho. Me limitarei ao curso de Ciências Econômicas, dado que estudo e trabalho nessa área. Atualmente o mercado procura por economistas que dominam softwares de programação, como stata, r, eviews, saiba trabalhar com amplas bases de dados e tenha sólido conhecimento em estimações (econometria). Cursos de economia que ignorarem essa tendência ficarão desatualizados. Algumas universidades já iniciaram o movimento neste sentido, como a USP.  

No caso do ensino médio, como discuti na semana passada, disciplinas de educação financeira são necessárias para que o brasileiro saiba melhor manusear o seu dinheiro, alocá-lo em aplicações mais vantajosas e que consiga se proteger do aumento de preços. Também ajudá-lo a evitar juros implícitos em financiamentos residenciais, cheque especial e prestações. O acréscimo dessa disciplina conjugaria conhecimento útil tanto para o mercado de trabalho quanto para a vida prática. Estudo de nossa Constituição e dos Direitos do Consumidor poderia também ser avaliado nesse sentido.

A última recomendação é inserir o ensino técnico como opção durante os estudos, para que pessoas menos inclinadas ao estudo teórico possam seguir caminho diferente. Uma opção seria incluí-lo no ensino médio conjugado com disciplinas.

Em resumo, a focalização no ensino básico acompanhada pelas medidas citadas juntamente com maior proximidade entre o que é ensinado com o que é exigido no mercado de trabalho teria potencial para alavancar o crescimento brasileiro. Na discussão do ensino, essa reforma educacional que descrevi é tímida, mas já representaria significativo avanço no caminho dos países que seguiram essa estratégia, e que hoje se posicionam no primeiro escalão em testes educacionais de nível internacional, como o PISA. 






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