Por outro lado, crescimento puxado pela demanda se depara com aumento dos preços
Na literatura de crescimento econômico, há a distinção entre fatores de oferta e de demanda que podem acarretar a expansão da produção. No debate econômico, principalmente o veiculado pelos grandes jornais, esses elementos costumam aparecer de forma misturada. Não está incorreto, porém, prejudica melhor compreensão sobre qual política econômica é a mais recomendável para a situação presente.
Temos 4 fatores clássicos de crescimento econômico pelo lado da oferta: i) estoque de capital; ii) mão-de-obra pouco qualificada; iii) mão-de-obra qualificada; iv) tecnologia. Esses fatores interagem entre si gerando a produção nacional (PIB). Entre economistas, essa relação é retratada pela função de produção Cobb-Douglas.
O estoque de capital é a acumulação de capital, toda a malha tangível e intangível que serve para produzir. Tipicamente, são as máquinas, equipamentos, patentes e computadores. Quanto maior o nível desse estoque de capital, maior será o padrão de vida desfrutado pelo país.
Os pontos ii) e iii) podem ser considerados de forma conjunta, pois englobam os trabalhadores. A diferenciação concernente à qualificação se justifica para entender os setores nos quais a mão-de-obra atua. Trabalhadores mais qualificados, cientistas, pesquisadores e engenheiros tendem a gerar produção de novos produtos, ideias e métodos produtivos mais eficazes, ao passo que os trabalhadores com menor qualificação atuam diretamente no setor produtivo. Países com mão-de-obra mais qualificada tendem a ser mais ricos.
O principal componente do crescimento pela oferta é a tecnologia. Com inovações tecnológicas, a produtividade se eleva, culminando no aumento do volume da produção com a utilização de menor quantidade de insumos e mão-de-obra. O custo de produzir se reduz, com reflexos sobre os preços das mercadorias, os quais são pressionados para baixo.
Para distinguir esses elementos com os do crescimento pelo lado da demanda, esta última é composta pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelo investimento (público e privado) e pela diferença entre exportações e importações. Observe que há um link direto entre oferta e demanda, pois o aumento do investimento (lado da demanda) contribui para elevar o estoque de capital (lado da oferta) - não espanta a defesa pelo mercado da importância de um adequado ambiente de negócios, fator crucial para a eclosão de investimentos e de acumulação de capital.
A importância de saber distinguir entre fatores de oferta e de demanda é que os componentes da demanda, em geral, conseguem elevar o crescimento do PIB apenas no curto prazo. No longo prazo, são os componentes da oferta que desempenham papel primordial no aumento sustentado da produção, sem causar descontrole do ambiente macroeconômico, em particular, sem elevar a taxa de inflação para patamares perigosos.
Sabendo dessa distinção, políticas econômicas podem ser traçadas para que possam contribuir para o aumento da produção sem prejudicar a estabilidade econômica. Tome por exemplo a economia brasileira. Defender o aumento do gasto público para incentivar a recuperação do PIB não parece ser o melhor caminho, pois é uma política que aumentaria a demanda (consumo do governo pertence ao lado da demanda) com possíveis repiques sobre os preços (taxa de inflação esperada para 2021 já está acima da meta de inflação do Banco Central). Além disso, fugindo um pouco do arcabouço discutido até aqui e incorporando a dívida pública, temos como maior argumento contrário a essa política o fato de que o Brasil se encontra em situação altamente endividada, com prêmios de risco (taxa de juros exigida pelo mercado para financiar os gastos do governo) crescendo mensalmente.
Todavia, há situações nas quais a demanda pode (e talvez deve) ser incentivada para amenizar o choque recessivo de crises. Na última grande crise financeira, a de 2008 nos Estados Unidos, o seu Banco Central incentivou a demanda pela redução drástica das taxas de juros tanto de curto quanto de longo prazo, com a intenção de promover o aumento do consumo das famílias e do investimento (note que os Estados Unidos não sofriam de crônico endividamento público).
A história econômica aponta que países que conseguiram conciliar o aumento do estoque de capital, da mão de obra qualificada e da tecnologia conseguiram elevar o padrão de vida de sua população, mesmo que tais economias não contassem com forte industrialização, como é o caso da Austrália. O essencial é o aumento contínuo da produtividade, seja produzindo bens industriais, de serviços ou agrícolas.
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