Perda de rendimento faz com que milhares de brasileiros saiam da classe média
Ignorando a dificuldade em definir e delimitar pessoas pertencentes à classe média, a Covid-19 e os seus efeitos deletérios sobre a atividade econômica empurraram vários indivíduos pertencentes a essa categoria para patamares inferiores. Muitos caíram para o nível de miséria, ou extrema pobreza.
Essa informação evidencia que a expansão da classe média, embora bem-vinda e salutar para o desenvolvimento econômico do país, ocorreu em bases frágeis - dada a rapidez da queda com que se efetuou.
O principal, entretanto, é que, utilizando a teoria de Marcos Mendes de que a conjugação entre desigualdade de renda e democracia gera crescentes demandas por gastos públicos, culminando em sua expansão descontrolada, a ascensão da classe média é uma forma de fugir desse ciclo vicioso, pois esta demandaria melhores serviços públicos, em detrimento de políticas públicas pontuais, caracterizadas por concederem privilégios específicos para pequenos grupos. Economistas aprendem, e percebem na prática, que a melhor provisão de bem público pelo Estado fornece ganhos para a totalidade da população. Não é por menos que os bens públicos são considerados uma "falha de mercado", necessitando do governo para complementar sua provisão.
Dessa forma, caso a essência do problema econômico brasileiro esteja corretamente especificada por Mendes, os próximos anos se mostrarão desafiadores, tanto em relação à procriação de grupos de interesse (advindos do rent-seeking) quanto à pressão pelo aumento do gasto público. Também vale refletir o porquê da queda da classe média. Obviamente a Covid-19 foi um choque fortíssimo, por outro lado, temos vários programas fiscais destinados a aliviar adversidades. Um palpite é o de que muitos desses programas sofrem de inadequada focalização (não acertam o público almejado).
Outra reiterada crítica que sempre realizo é a de que o governo brasileiro é dissipador de recursos. A poupança pública é negativa - mesmo nos bons momentos do país, quando o crescimento do PIB é elevado. Assim, quando tempos ruins chegam (e eles sempre chegam), temos pouco poder de fogo, isto é, o gasto público não consegue se expandir de forma adequada para conter ou amortecer a crise, e quando se expande mesmo assim, assistimos crescente deterioração de indicadores econômicos, como estamos experimentando atualmente.
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