segunda-feira, 3 de maio de 2021

Winners take all é um problema?

Grandes empresas (monopolistas) podem prejudicar o crescimento de longo prazo

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Na discussão dos motivos que estão contribuindo para o menor dinamismo econômico de alguns países, como os Estados Unidos (EUA), destaca-se o termo "winners take all" (vencedores levam tudo). Além de influenciar sobre o crescimento da produção, alguns autores atribuem a ele papel relevante para explicar o aumento da desigualdade de renda.

Esse termo pode ser usado para se referir a grandes empresas, como a Google, o Facebook, ou a Amazon, em que essas empresas, além de crescerem e se expandirem, se tornariam as únicas opções utilizadas pelos consumidores. Veja o Facebook, por exemplo. Se a maioria das pessoas utiliza essa rede social, a tendência é que novos usuários também recorram a ela. É como se o Facebook tomasse todo o mercado. Talvez o caso da Google seja mais nítido. Por ser o principal motor de busca da internet, ele concentra praticamente todos os usuários. Não sobra espaço para pequenas e novas empresas disputarem o segmento, pois ele está totalmente tomado por essas firmas. 

Winners take all pode ser visto nos esportes, como no tênis. Há poucos anos o tenista Tiger Woods dominava as competições mundiais. Se tornou recordista de renda obtida por meio do esporte, quando atingiu a marca de 1 bilhão de dólares. Outros exemplos são facilmente vistos, como os de Cristiano Ronaldo, Messi e Lebron James. Nesse caso, a globalização, a abertura dos mercados, bem como a penetração desses em várias partes do mundo, fizeram com que esses atletas se tornassem mercadorias cobiçadíssimas - passaram de celebridades nacionais para mundiais. Consequentemente, o preço pago para tê-los disparou. Marcas famosas os procuram para realizarem estratégias de marketing

No primeiro caso, quando winners take all se relaciona com empresas, a preocupação é a de que eles prejudicam a inovação. Por dificultarem a entrada de novas firmas, talvez com boas ideias, que poderiam melhorar a prestação do serviço ofertado aos consumidores, essas grandes empresas desacelerariam o progresso tecnológico. Mesmo que o leitor questione esse raciocínio afirmando que a Google revolucionou a internet com o seu motor de busca, o que elevou o bem estar de bilhões de pessoas (a informação se tornou muito mais acessível), deveríamos questionar, como economistas, qual cenário teríamos com um mercado não somente com a Google, mas também com outras empresas, com empreendedores ávidos por inovar. Certamente a Google forneceu válidas contribuições para a sociedade, todavia, tal contribuição não seria maior com outros concorrentes? Os processos de concentração de mercado contra essas empresas, ocorrendo na Europa e nos EUA, sugerem que muitos estão céticos quando ao benefício dessas grandes empresas.  

Em relação à desigualdade de renda, há questionamentos que os salários desses astros deveriam se deparar com tetos, ou mesmo com impostos elevados. Por outro lado, é um salário financiado pelo setor privado, e como o talento é um dos bens mais escassos que existem, essas pessoas são remuneradas devido ao espetáculo que proporcionam. Esses atletas atraem público, marketing, influenciam milhões de indivíduos e ajudam a elevar a rentabilidade de seus clubes. Seria de fato necessário interferir nesse tipo de arranjo? É uma questão em aberto. 

Talvez no caso das empresas seja mais fácil decidir qual lado tomar porque há vários trabalhos científicos mostrando os efeitos de monopólios sobre o longo prazo. Esses trabalhos sugerem que embora monopólios/oligopólios acarretem em inovações, pois possuem maior espaço para tomar riscos, estes tendem a arrefecer a competição nos mercados, prejudicando os consumidores (escrevi um texto sobre essa situação, conhecida como falha de mercado). O ideal é conseguir conciliar um mercado razoavelmente competitivo com a existência dessas grandes firmas. Tarefa difícil. Mas que parece ser o caminho tomado pelos reguladores da Europa e dos EUA.


RECOMENDAÇÃO:

Para aqueles que têm interesse em programação, assunto que tem crescido em importância ao longo do tempo, recomendo o site opencodecom.net, projeto levantado por um grupo qualificado de pesquisadores que tem como objetivo divulgar códigos do R. 


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