FMI e externalidades

Covid-19 realça importância do conceito de externalidades

A solução proposta pelo FMI, na qual um pacote de 50 bilhões de dólares (por volta de 260 bilhões de reais) seria suficiente para conter a pandemia ainda nesse ano, se aplica ao conceito de externalidades. Externalidades é um tópico que faz parte das 4 falhas de mercado (informação assimétrica, poder de mercado, bens públicos e a própria externalidade - escrevi um texto explicando cada uma dessas falhas). 

Quando a ação de indivíduos ou empresas extrapola a esfera do mercado e atinge terceiros, temos o problema da externalidade. O ponto é que o mercado não consegue precificar o efeito dessa ação sobre a outra parte, gerando um resultado ineficiente. Atualmente, a externalidade que tomou conta de nossas vidas é o vírus Covid-19. 

Ainda que determinado país vacine significativa parte de sua população e tome as precauções necessárias (como tem sido os casos dos Estados Unidos e de Israel), esse esforço pode ser perdido caso outras localidades não realizem a mesma medida (casos da Índia e do Brasil). O vírus sofre várias mutações quando em estágio descontrolado, tirando eficácia das vacinas na imunização. Dessa forma, o ótimo seria que todas as partes do mundo realizassem política parecida na contenção do vírus, pois reduzia tanto suas mutações quanto infecções - daria vida mais longa para a imunização proveniente das vacinas.

Retomando o termo externalidade, então veja que a ação do Brasil e da Índia prejudica terceiros, no caso, os Estados Unidos e Israel, por isso, a política recomendada é a coordenação dos esforços para que o vírus seja contido. É justamente nesse ponto que o FMI se encontra. Juntamente com outras instituições, como o G20, a ONU e o Banco Mundial, esses grupos planejam orçar algo próximo a 35 bilhões de dólares para financiar a vacinação nas partes mais atrasadas do planeta (países pobres e em desenvolvimento). Não há tanto altruísmo (caso o leitor tenha interpretado por esse lado) nessa opção, sendo muito mais do próprio interesse das nações avançadas que o vírus seja fortemente combatido nessas partes do mundo. Por fim, essa proposta é solução clássica do problema de externalidades, quando o governo, ou instituições supranacionais interferem no mercado para melhorar o seu resultado.