segunda-feira, 19 de abril de 2021

Fazer país crescer a qualquer custo é perigoso, leviano e prejudicial

Crescer abaixo do PIB potencial mostra perda de oportunidade, enquanto crescer acima dele pode gerar desequilíbrios

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Um dos principais índices para avaliar o desempenho de economias é o PIB (produto interno bruto). Indicador adicional, um pouco mais técnico - usado especialmente por analistas e pesquisadores -, é o PIB potencial ou produto potencial. Este retrata a capacidade de aumento da produção sem que esta elevação pressione os preços para cima.

É uma variável que mostra os limites de crescimento para o país. De acordo com suas dotações, a saber, o estoque de capital físico, o nível de tecnologia empregado e a qualidade de sua mão de obra, conhecidos como fatores de oferta, o país crescerá mais ou menos. Tome por exemplo um produto potencial de 3%. Isso significa que caso o país cresça até 3% ao ano, ele não aumentará a taxa de inflação. Por outro lado, caso o crescimento supere o patamar de 3%, para, digamos, 4%, esse crescimento será acompanhado pelo aumento dos preços. 

Qual a utilidade desse conceito? Em primeiro lugar, ele serve de diretriz para avaliar o quão bem a economia está se apresentando. Caso ela esteja muito abaixo do seu crescimento potencial, alguma coisa (ou várias coisas) não está correta. Esse é o caso de economias ricas e desenvolvidas, as quais, após a crise financeira de 2008, têm apresentado lentidão para crescer ao nível do produto potencial, mesmo com a utilização de políticas que fomentam o crescimento, como uma política monetária frouxa, isto é, o estabelecimento de juros baixíssimos, próximos de 0%. Essa persistente dificuldade em voltar a crescer ao patamar do PIB potencial tem sido chamada de estagnação secular

Um segundo ponto importante do conceito de PIB potencial é que ele funciona como bússola para políticas públicas. Uma economia que seja vista como crescendo abaixo do seu produto potencial poderá receber incentivos por meio de políticas para que volte à trajetória esperada de crescimento. Tais incentivos se consubstanciam nas políticas fiscal e monetária expansionistas: elevar o gasto público e/ou reduzir impostos no caso da esfera fiscal, e reduzir a taxa de juros na esfera monetária. 

Países que crescem, de forma persistente e duradoura, abaixo do seu nível potencial, como é o caso do Brasil, perdem oportunidades. Precisamos de elevar a produção para gerar empregos e renda para os milhares de brasileiros que vivem em condição material vulnerável. Igualmente, maior produção gera maiores receitas tributárias para o governo, o qual pode convertê-las em transferências e programas sociais para aqueles segmentos da população próximos da extrema pobreza. Uma economia vibrante e dinâmica consegue absorver indivíduos recém formados, aptos, ávidos e dispostos a entrarem no mercado de trabalho para exercerem suas profissões. PIB crescendo abaixo do seu nível potencial não oferece boas condições para esses indivíduos. 

Esse raciocínio não nos deveria levar a crer que crescer acima do PIB potencial seja algo benéfico, pois não é. Como disse anteriormente, o crescimento acima do PIB potencial é acompanhado pelo aumento dos preços. A teimosa inflação. Que corrói o poder de compra das pessoas, especialmente dos mais pobres. Países que "forçam" o crescimento, como Dilma Rousseff em 2013 e 2014, geram desequilíbrios macroeconômicos, com o aumento dos preços retirando competitividade internacional, culminando em déficit das contas externas. Se esse crescimento forçado é acompanhado pelo aumento dos gastos públicos (como foi o nosso caso no biênio 2013/2014), teremos também déficit nas contas públicas. Veja que esses dois déficits causam a piora dos endividamentos externo e interno. A persistência desse cenário fará com que dólares saiam da economia, acarretando a desvalorização da taxa de câmbio e o aumento da taxa de juros de longo prazo.

Agora vem a charada. O leitor pode questionar: atualmente a economia brasileira apresenta exatamente os sintomas elencados no parágrafo anterior: piora da dívida interna, moeda desvalorizada, elevação dos juros de longo prazo e crescente taxa de inflação. Todos sintomas de economias que forçaram o crescimento, expandiram a produção acima do nível potencial. Mas nosso crescimento está abaixo do PIB potencial. Como isso é possível?



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