terça-feira, 6 de abril de 2021

Por que o socialismo fracassou?

3 razões para compreender o fracasso socialista

socialismo capitalismo


Em discussões entre capitalismo (prefiro o termo "economia de mercado", mas abrirei exceção e usarei capitalismo nesse artigo) e socialismo, por vezes os defensores do primeiro citam os fracassos da União Soviética, da Venezuela, da Coreia do Norte, a queda do muro de Berlim e a experiência cubana para mostrarem a superioridade do método capitalista. Embora esse argumento não esteja errado, é incompleto, muito vago e, portanto, incapaz de fornecer maior claridade sobre o porquê dos desastres socialistas. 

Outro argumento é afirmar que o socialismo não funcionou porque não concedia liberdade para os indivíduos. De novo, muito vago e impreciso (talvez quem justifique o capitalismo dessa forma também não saiba muito bem como esse sistema se tornou predominante ante a queda do socialismo).

Nesse artigo apontarei 3 razões para entendermos essa questão. A primeira são os incentivos. Um dos livros referências para os iniciantes em economia, Introdução à Economia, de Mankiw, afirma que um dos principais princípios da Economia são os incentivos. Muitas de nossas ações são guiadas por eles, ainda que não possamos ter total consciência. Trabalhadores almejando ganhos superiores, crescimento na carreira e a realização de metas se esforçam mais, pois há incentivos para tal conduta. O mesmo é válido para empresários, empreendedores e investidores. A possibilidade de aumentar os lucros e elevar os rendimentos é um incentivo que está subjacente às suas ações. Em um cenário no qual, não importando o esforço empreendido, todos terão a mesma recompensa, não somente mina os incentivos, como o esforço individual da população. No agregado, a falta de incentivos emperra o aumento da produção e da produtividade, enfraquecendo a economia ao longo do tempo. O socialismo pecou nesse quesito.

A segunda razão, destacada e explicada por Mises, é que os preços deixam de existir em uma economia totalmente planificada. Como as forças da oferta e da demanda desaparecem, não há a ascensão dos preços de mercado. Sem os preços, que funcionam como âncoras tanto para consumidores quanto para produtores, estes perdem o mecanismo de descentralização de economias capitalistas que permite uma tomada de decisão com maior nível de informação. Produtores terão dificuldades em calcular os seus lucros, uma vez que será difícil distinguir os preços de insumos, matérias-primas e mão de obra. Consumidores perderão a capacidade de discriminar entre mercadorias de acordo com os preços. A perda do sistema de preços culmina em um cenário com menos informações sobre os desejos dos consumidores, logo, há forte desconexão entre demanda e oferta nessa economia. Essa desorganização é deletéria para o desempenho da economia, sendo outro ponto negativo do socialismo. 

A terceira e última razão do fracasso socialista é uma economia formada apenas por empresas estatais. Uma das características marcantes do capitalismo é a entrada e saída de empresas, isto é, é normal que firmas não consigam sobreviver e fechem as portas, dando espaço para que outras ocupem esse espaço. Dado o reconhecimento da necessidade de manter o mercado, empresas buscam aperfeiçoar métodos e serviços. Buscam, de forma resumida, inovar. Empresas estatais, por outro lado, não sofrem com essa ameaça, consequentemente, não há essa pressão de sempre buscar o aperfeiçoamento em sua inserção no mercado. 

Não quero dizer com isso que empresas estatais são inerentemente problemáticas. Meu ponto é que uma economia apenas com empresas estatais perde o mecanismo de expulsar as firmas ineficientes e abrir espaço para as competitivas. O denominador desse processo é o ganho progressivo de produtividade, de melhora no serviço para os consumidores. Nesse raciocínio, Mises estava correto quando afirmava que o consumidor é o verdadeiro patrão em economias capitalistas. Caso as empresas não o agradem, este pode buscar outras opções. A contínua perda de clientes inviabilizará, mais cedo ou mais tarde, a permanência dessa empresa. Percebendo essa tendência, ela terá de se adaptar, evoluir e melhorar a sua relação com os consumidores. Quando não há empresa privada, somente estatais, não temos esse mecanismo. Daí o socialismo gera uma economia com produtividade estagnada, com problemas crônicos na oferta de serviços e mercadorias, com gargalos em produtos essenciais, como papel higiênico. Economias socialistas não têm mecanismos para expulsar empresas ineficientes.

Esses 3 mecanismos são centrais para entender a superioridade do capitalismo (economia de mercado) sobre o socialismo. Há outros fatores, como a liberdade econômica e a liberdade política. No futuro descreverei também como funcionam esses dois conceitos. Por ora, recomendo apenas se ater aos mecanismos técnicos que viabilizaram o capitalismo, e evitar argumentos vagos e imprecisos. Enquanto economias socialistas não alterarem os pontos elencados ao longo do texto, a tendência é que fracassem e não consigam organizar de forma satisfatória os mercados. A China percebeu isso, e implementou várias reformas no país em 1978, aceitando empresas privadas, garantindo a propriedade privada e atraindo multinacionais. Foi a forma que achou de fugir das consequências dos 3 fatores que citei. 


GOSTOU? Então leia a continuação do texto:

Por que o socialismo fracassou? (parte 2) aqui


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