Desaceleração do crescimento nas últimas décadas levanta dúvidas sobre a trajetória produtiva da economia mundial
O
gráfico mostra a taxa de crescimento do PIB por habitante da economia mundial
entre os anos de 1961 e 2018. Sabemos que boa parte desse crescimento, nas
últimas décadas, tem sido puxado pela China. Ela se tornou a oficina do mundo –
termo que caracteriza a disseminação de seus produtos para todo canto do planeta,
não importando o quão remoto este possa estar localizado. Isso não retira
traços questionáveis de seu modelo de crescimento, como o autoritarismo do
governo, o tratamento que a mão de obra recebe (idem para a sua população) e a
política de forte participação do governo na atividade produtiva.
Veja que há 3 quedas significativas no gráfico. A primeira ocorreu nos anos de 1970, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) resolveu quadruplicar o preço do petróleo em 1973. Foi um golpe fortíssimo sobre a matriz produtiva de várias economias, pois estas dependiam desse insumo para produzir. O mesmo ocorreu em 1979, sem tanto sucesso, mas mesmo assim avassalador para o custo de produção das nações. Mas o tempo é um grande aprendiz.
Percebendo
a vulnerabilidade com a importação do petróleo, muitos países passaram a
investir com o objetivo de também o produzirem. Foi o que ocorreu. Outro fator
é o fato do petróleo ser um produto inelástico no curto prazo, mas ser elástico
no longo prazo. Isso significa que quando o seu preço se eleva, o consumo desse
produto pouco se altera, resultando em vastos lucros para os produtores (curto
prazo). Todavia, no longo prazo, os indivíduos passam a trocar o consumo de
petróleo. Seja pelo consumo de álcool, ou mesmo vendendo o automóvel que
possuía e passando a utilizar serviços de transporte coletivo. Acontece que no
longo prazo a OPEP perdeu a força que mostrou no primeiro choque. Um último
fator a explicar a perda de força do cartel é a dificuldade dos seus membros
respeitarem os acordos. Há um ganho para quem se desviar (estudantes de teoria dos jogos conhecem bem esse cenário)
A
segunda grande queda do crescimento ocorreu nos anos de 1980, conhecida como a
década perdida, quando os países da América Latina não conseguiram honrar os
pagamentos levantados em moeda estrangeira – Brasil também mergulhou nessa
profunda crise. Parte da crise advém por conta da OPEP, outra parte por causa
dos empréstimos tomados com taxas de juros flutuantes. Quando o banco central dos
EUA, comandado por Paul Volcker, elevou a taxa de juros, o pagamento da dívida
se tornou abruptamente em um grande fardo.
Foi
nesse contexto que surgiu a proposta do Consenso de Washington e o Plano Brady.
O primeiro era um conjunto de medidas para estruturar o setor público de forma
a torná-lo viável financeiramente. Em resumo, redução do gasto, aumento da
tributação e políticas de abertura econômica. O Plano Brady reestruturou as
dívidas do países endividados, com o FMI e o tesouro dos EUA trabalhando como
árbitros entre credores e devedores. O acordo representou uma redução média das
dívidas em 35%. Esses fatores contribuíram para a economia mundial voltar a
crescer.
A última
grande queda do crescimento é conhecida e recente, foi a eclosão da crise
financeira de 2007 nos EUA, e a sua disseminação nos países da Europa, com
destaque para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, jocosamente chamados
de PIIGS (no inglês, o plural de porcos é PIGS). O setor financeiro entrou em
colapso rapidamente, com bolsas mergulhando em grandes quedas. Não fosse a
atuação rápida dos governos, fornecendo pacotes de auxílio, e dos bancos
centrais, estabilizando ativos financeiros e injetando liquidez, o resultado
teria sido muito pior. Como nada é de graça na economia, todos países
envolvidos viram os níveis de suas dívidas se elevarem significativamente.
Atualmente
estamos vivenciando a quarta grande queda – futuramente esse gráfico irá
retratá-la no ano de 2020. Como em 2007, governos e bancos centrais estão
agindo rapidamente e pragmaticamente. Teremos maior nível de dívida. Mas o pior
terá passado. Entretanto, não é esse o ponto que desejo chamar a atenção.
Observe
que há uma tendência decrescente do crescimento ao longo das décadas. Parece
que após grandes colapsos da economia, ela volta a crescer, mas não com a mesma
intensidade de antes. Há economistas estudando esse fato. Tem até nome:
estagnação secular. Esta seria caracterizada pela perda de ímpeto produtivo das economias, ou pela dificuldade de se recuperarem após crises, mesmo com a adoção de políticas expansionistas. As
economias não conseguem crescer de forma acelerada, se tornam letárgicas, com
crescimento anêmico. O Japão é o grande exemplo. Vive nesse contexto desde a
década de 1990. Nas próximas colunas irei abordar em mais detalhes esse tema.
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