quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Informação assimétrica

Nem sempre possuir mais informações garante o melhor resultado. O mercado pode deixar de funcionar

seguro, negociar, carros


Dando prosseguimento à série sobre falhas de mercado, o presente texto discutirá informação assimétrica - na semana passada escrevi o primeiro artigo dessa série, sobre externalidades. Temos na economia 4 falhas de mercado, todas envolvendo equilíbrios e alocações subótimas. Nesse contexto, o governo pode interferir para melhorar o bem estar de todos os envolvidos. Na ausência de falhas de mercado, todavia, tais intervenções são desnecessárias, e em muitos casos, prejudiciais ao funcionamento dos mercados. 

Quando temos informação assimétrica em transações, como o próprio termo revela, uma das partes possui mais informações sobre a mercadoria do que a outra. Dependendo do contexto, pode ser que todas as transações deixem de ocorrer. Tome por exemplo o mercado de carros usados. Os proprietários dos automóveis sabem com maior precisão o estado do carro. Se este terá problemas futuros, se foi bem preservado, enquanto potenciais compradores estão desprovidos dessas informações. Em alguns casos, consumidores deixarão de comprar os carros velhos, com receio da qualidade do produto que irão adquirir. Proprietários de carros bem preservados serão prejudicados, pois os consumidores colocarão na mesma cesta tanto carros em bom estado quanto carros em mal estado de preservação. No final das contas, não há vendas. Todos perdem. 

Há formas de mitigar problemas do tipo, como a utilização de marketing, fornecimento de garantias estendidas e franquias - ou comprovantes de que o automóvel recebeu revisões periódicas, para voltar ao exemplo anterior. Quando estamos viajando em regiões desconhecidas, podemos ter receio de parar a viagem e alimentarmos em lanchonetes desconhecidas, de "beiras de estrada". A franquia resolve esse problema, pois se por um lado não temos ideia da qualidade dos produtos que a lanchonete do "seu Zé" pode vender, temos maior noção de um McDonald's. Há sinalização nessas situações. Quando empresas de eletrodomésticos fornecem garantias com maior prazo do que as concorrentes, está sinalizando que o seu produto é de melhor qualidade. 

De fato, a sinalização é um poderoso instrumento para reduzir a informação assimétrica. Entretanto, não está isenta de complicações. No mercado de trabalho, firmas que desejam contratar trabalhadores gostariam de saber, de antemão, quais são os mais produtivos. Estes, por sua vez, também gostariam de serem vistos como produtivos, mas é igualmente difícil "mostrar produtividade". Pessoas pouco produtivas podem tentar se passar por produtivas - superestimar qualidades em currículos é um caminho. Como distinguir entre trabalhadores produtivos e não produtivos? Seria o diploma uma sinalização precisa?

No mercado de seguros, temos o risco moral. Quando uma pessoa contrata um seguro para o seu carro, sabe que receberá indenização em caso de acidentes. Imagine que ela não precisasse de pagar franquia nesses casos. Dessa forma, todo o custo de futuros acidentes cairiam sobre as seguradoras. A experiência mostra, no caso de seguros contra incêndios, que a incidência de sinistros aumenta significativamente quando o custo não é compartilhado: motoristas segurados precisam também arcar com custos para que passem a tomar cuidado após a compra do seguro. Daí o nome risco moral. 

A crise financeira de 2007 evidenciou essa falha de mercado quando empresas entraram à beira da falência, ao mesmo tempo em que os seus gerentes (CEOs) recebiam bônus e remunerações adicionais. Paradoxal? É que acionistas têm poucas informações do que ocorre na empresa, ao passo que gerentes são mais bem informados. Estes podem tomar decisões que os beneficiem em detrimento da saúde financeira de longo prazo da firma. Pense na conta corrente de seu banco. Você sabe sobre as contas financeiras desse banco? Compare o seu estoque de informação com a diretoria desse banco. Há informação assimétrica? Esse tipo de exercício também ajuda a entender a crise financeira de 2007.

O governo pode melhorar alguns cenários por meio de regulações e subsídios. Na área de saúde, idosos oferecem maiores custos para as seguradoras de planos de saúde. Em alguns casos, pode não existir justificativa econômica para incorporá-los nos planos - mas veja que há justificativa humanitária. O governo pode fornecer subsídios para que esse grupo de maior risco entre no plano da seguradora. No conflito acionistas e gestores, regulações para melhores práticas de transparência, governança e participação de acionistas nas decisões são formas de evitar conflitos de interesse.

Essa falha de mercado permeia vários eixos da economia. É difícil, talvez impossível, equalizar as informações entre as partes envolvidas. Quando o mercado se mostra inoperante por conta de tais disparidades, cabe ao governo intervir para fazê-lo funcionar e fornecer melhor resultado para os participantes. 



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