sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Covid e a estagnação secular

Pandemia pode ter acelerado taxa de inovação tecnológica



Consta entre as principais discussões na Ciência Econômica a tese da "estagnação secular". Segundo esta, fatores estruturais colocariam economias avançadas em uma trajetória de baixo crescimento. Conforme outras economias, incluindo as emergentes, se aproximassem das características dos países europeus, também apresentariam declínio na taxa de crescimento. 

O Japão é o caso típico. Após apresentar elevadíssimo crescimento nas décadas de 1960-1980, nos anos 90 esse dinamismo se evaporou. Mesmo nos anos recentes os japoneses não conseguiram retirar a economia da letargia. 

A literatura é vasta sobre esse tema. Há fatores do lado da oferta e da demanda que poderiam explicar a queda do crescimento de longo prazo. Dos fatores de oferta, temos o envelhecimento da população e a maior dificuldade de descobrir novas ideias (inovação). Pela demanda, baixo (ou insuficiente) investimento em infraestrutura e em capital humano, aumento da poupança mundial e elevação da aversão ao risco. Ainda não temos consenso a respeito de quais desses fatores são os mais relevantes. 

Alguns trabalhos apontam para a inovação como fator primordial (concordo com essa linha de raciocínio). Sabe-se que, no longo prazo, o principal elemento para gerar crescimento é o avanço tecnológico. Formalmente, essa conexão (por meio da modelagem) foi realizada em 1956 pelo Prêmio Nobel de Economia, Robert Solow. Partindo desse ponto, temos dois caminhos para pensar: i) as inovações não estão ocorrendo a taxas suficientemente altas; e/ou ii) as inovações estão ocorrendo, mas não estão se traduzindo em maior crescimento, embora elevem o padrão de vida (pense nos benefícios dos smartphones de última geração. Melhoram a vida dos consumidores, todavia, não parecem elevar a produtividade da economia). 

Em meio a essa discussão, a nova edição da The Economist mostrou que podemos testemunhar um breve período de inovações, o qual se traduziria em maior crescimento e, por conseguinte, elevação do padrão de vida da população. A Covid-19, apesar dos efeitos perniciosos sobre o planeta, acelerou as inovações de empresas. Estas tiveram que se adaptar ao novo cenário, e isso representou a adoção (ou aprimoramento, otimização) de novos métodos de produção. Os próximos anos confirmarão a precisão desse prognóstico. 

Para finalizar, veja que esse "breve período de inovações" seria algo passageiro, de curto prazo, não alterando o lado estrutural da possível estagnação secular, a saber, a tendência declinante tanto da taxa de inovação quanto do crescimento. Se a tese da estagnação secular estiver correta, também poderemos esperar avanços mais tímidos do padrão de vida.








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