quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Custo de oportunidade de subsídios e da pandemia

Trajetória escolhida pode elevar o fardo fiscal para o país

dúvida, restrição, covid


A superação da Covid-19 deixará campo fértil para trabalhos acadêmicos. Um dos ramos que receberá a atenção de inúmeros cientistas é a existência ou não de um trade-off entre medidas mais rígidas de controle do fluxo da população e o impacto do vírus sobre a economia, tema tratado por alguns pesquisadores para a gripe espanhola de 1918 nos Estados Unidos. A julgar pelos resultados do artigo, não há trade-off: quanto maior o rigor em conter a pandemia, mais rápida é a recuperação econômica. Certamente a Covid-19 ajudará a fortalecer essa proposiçãoou a colocá-la em dúvida, dado que a atual amostra de países é mais ampla do que a de 1918.

A revista The Economist exibiu uma estimativa do PIB perdido devido à Covid e aos seus custos relacionados. O valor girou por volta de 10 trilhões de dólares. Para termos uma ideia dessa soma, apenas em 2019 o PIB brasileiro, em dólares, ficou em aproximadamente 2 trilhões de dólares. É como se a Covid tivesse paralisado a produção de 5 países do tamanho do Brasil. Como afirmei em texto passado, a Covid nos empobreceu.

É importante termos em mente cenários paralelos porque estes ajudam a pensarmos políticas econômicas. Na semana passada a Ford anunciou o fechamento de fábricas no país. O noticiário rapidamente escreveu manchetes sobre os efeitos negativos sobre o emprego (perda de 5 a 6 mil empregos). E o cenário alternativo? Sabe-se que a Ford recebeu subsídios públicos por décadas. Vamos chamar o total de subsídios de x. E se x fosse aplicado em outro ramo? Teríamos mais empregos? Maior produção? Simplesmente não sabemos, porque, salvo engano, não há trabalhos que se dedicaram a responder esse tipo de questionamento.

Essa questão está na essência do estudo de economia. É o famoso custo de oportunidade. O custo de oportunidade mostra qual o rendimento que teríamos caso realizássemos aplicações alternativas. Poderíamos lamentar ou se sentir aliviados com a saída da Ford caso tivéssemos informações do custo de oportunidade desses subsídios. Dado que a economia brasileira vive crônico endividamento fiscal, com recursos escassos para áreas com grande impacto social, como a educação e a saúde, e apresenta baixa produtividade, há evidências de que esses subsídios estejam saindo excessivamente caros aos brasileiros. Todavia, como dito anteriormente, melhor precisão teríamos caso estudos sobre o retorno social de subsídios fossem realizados. 






2 comentários:

  1. Aqui na minha região, Ilhéus-BA, o governo está construindo um porto de exportação de minério. São bilhões de reais do dinheiro dos pagadores de impostos. Falo pras pessoas q esse dinheiro seria melhor gasto se fosse para infraestrutura dos municípios da região, saúde, educação e segurança pública. Mais o brasileiro, infelizmente, é totalmente analfabeto em economia, até os que possuem nível superior. Falar de custo de oportunidade com as pessoas é como falar chinês.

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    1. De fato, Marcel. Há enorme carência no nosso país de estudos que mostrem diferentes aplicações e rendimentos com as políticas públicas. No seu exemplo, há vários estudos realçando os efeitos positivos de investimento em educação e infraestrutura tanto no curto quanto no longo prazo. Provavelmente o seu palpite está correto. Mas como saber de fato? Sobre custo de oportunidade, seria benéfico se muitas pessoas tivessem a noção dele.

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