quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Resenha: Economia numa Única Lição (Henry Hazlitt)

Obra fornece lições de economia de forma simples e intuitiva

economia numa única lição


O livro Economia numa Única Lição tem o objetivo de mostrar que o funcionamento dos mercados não é algo trivial de se entender - por vezes erramos ao olharmos apenas para os efeitos iniciais de determinada política econômica, esquecendo que há inúmeros efeitos secundários. Nessa tomada, a obra discute e ilumina algumas das principais falácias no campo econômico.

O ponto principal, como elucidado anteriormente, é a miopia em perceber não somente os efeitos pretendidos de políticas, mas sobretudo os não pretendidos, não intencionais. Eis um ponto fortíssimo do livro. Ele é muito feliz em argumentar e demonstrar que ações de agentes em uma parte da economia podem interferir com outros participantes do mercado, mesmo que estes não se comuniquem diretamente um com o outro: "A arte da economia está em considerar não só os efeitos imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos; está em descobrir as consequências dessa política, não somente para um único grupo, mas para todos eles". 

Subjacente a essa discursão há a separação entre o curto e o longo prazo. Em geral, o público se atenta apenas aos efeitos imediatos, os de curto prazo. Esse tipo de visão é prejudicial porque amplo campo econômico é negligenciado, talvez com efeitos que mais do que compensem os de curto prazo. Já dizia Paul Krugman: "A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo". Hazlitt não se detém ao crescimento econômico, como faz Krugman em sua assertiva; o interesse do autor está na interferência, em sua maioria prejudicial, do governo sobre a economia. 

Para Henry Hazlitt, a tarefa prioritária do governo deveria ser manter o livre mercado: "A principal função do governo é estimular e preservar o mercado livre". Dessa forma, políticas públicas que prejudicam a dinâmica dos mercados são criticadas. E aqui o livro novamente mostra precisão e acerto em suas teorias. Hazlitt consegue explicar temas complexos com facilidade e simplicidade.

Um exemplo é o financiamento do governo: "todos os gastos governamentais terão, praticamente, que ser pagos com o produto líquido da tributação". Essa é uma forma de anunciar a relação de que todo gasto público é igual ao imposto arrecadado. Benefícios previdenciários, remunerações do funcionalismo, programas sociais, e auxílio emergencial - para contextualizar com nossa realidade imediata - são ocorrem em um vácuo. São financiados por impostos. E esses impostos se originam da transferência de renda privada para o governo. Caso o governo gaste mais do que arrecada, ele precisa se endividar com a emissão de títulos públicos - vivemos essa situação nos últimos anos.

Outra questão que merece ser citada é a relação entre salários e produtividade: "Discutem-se salários e emprego, como se eles não tivessem relação alguma com a produtividade e a produção". Hazlitt acerta novamente ao colocar o aumento da produtividade como fator fundamental para a elevação dos salários, do padrão de vida. Quanto maior a produção, conjugada com maior técnica e eficiência, isto é, produtividade, maior tenderá a ser o poder de compra dessa população. A confusão ocorre quando, e infelizmente é um problema presente no Brasil, pensa-se que o principal motor para o aumento do poder de compra e bem estar da população não decorre de sucessivos incrementos à produtividade, mas do gasto público (decorre desse equívoco a percepção de que o teto do gasto público é "crueldade com os pobres").

É um livro simples e de fácil leitura, ideal para iniciantes ou leigos em Economia. Ao mesmo tempo transmite importantes mensagens da Ciência Econômica. Eu apenas recomendaria atenção em dois pontos, que precisariam de ser atualizados na obra. O primeiro é o papel simplista denotado para o governo. Os avanços da teoria econômica mostraram que a interferência do governo é essencial quando temos falhas de mercado. O segundo é um cuidado em afirmar que tributação é roubo. Não gosto desse tipo de raciocínio. Em sociedade modernas o governo precisa de receitas para funcionar, para garantir o cumprimento das leis e dos contratos, para fornecer segurança para a população e, para dar um exemplo de cunho econômico, para corrigir falhas de mercado. Consequentemente, a tributação faz parte do "contrato social" em que vivemos. Dizer que imposto é roubo é ignorar importantes funções públicas. Por outro lado, compreendo o mal estar de viver em um país que tributa de forma regressiva, onerosa e disfuncional para o adequado funcionamento dos mercados, caso do nosso país, entretanto, isso não justifica deturpar a função do imposto, vital para o funcionamento de economias modernas. 



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