Hume proporciona reflexões e fornece primeiros passos da teoria quantitativa da moeda
Contemporâneo de Adam Smith, David Hume integra o grupo de autores que propagaram o iluminismo e as ideias liberais durante o século XVIII. Na obra Ensaios Morais, Políticos e Literários, como o próprio título indica, temos um conjunto de artigos discutindo variados temas, com destaque para os de economia.
Nesse fronte, Hume é famoso por ter contribuído para a formação da teoria quantitativa da moeda, proposição que aponta para a correlação positiva entre a quantidade de moeda e o nível de preços: "os preços dos produtos são sempre proporcionais ao volume de dinheiro". Ainda sobre a moeda, o autor nos diz que "o dinheiro não é senão a representação do trabalho e dos produtos, e serve somente como um método de ordená-los e avaliá-los" - asserção precisa, elucidando o fato de que a moeda, por si só, não têm valor, depende da confiança dos agentes.
Hume defendeu o comércio internacional, a troca de mercadorias com outras nações. Percebeu que a intensidade desse fluxo apresentava determinada correspondência com a prosperidade da economia. Ademais, relacionou o comércio entre as nações com efeitos secundários, como a troca de cultura, educação e valores.
Saindo da órbita econômica e caminhando para a do indivíduo, Hume identificou os fatores que explicavam o nosso comportamento. Segundo o filósofo, "os homens são movidos pelas paixões da ambição, da competição e da avareza". Outro trecho que reforça essa percepção é o seguinte: "A avareza ou o desejo do ganho é uma paixão universal que age em todos os tempos e lugares e sobre todas as pessoas". Avareza e desejo de se destacar entre os pares são qualidades vistas como negativas, de acordo com as regras sociais. Todavia, é difícil encontrar indivíduos desprovidos desses traços - tendemos a escondê-los ou negá-los. Como realizado por Smith no livro Teoria dos Sentimentos Morais, Hume procede da mesma forma, desmascarando o que nos impulsiona.
Como proponente do liberalismo, passagens argumentando a favor da liberdade individual e dos direitos de propriedade podem ser encontradas durante a obra. Sobre a liberdade, Hume consegue mostrar sua importância de forma sucinta: "a liberdade constitui a base da perfeição da sociedade civil". É por meio da concessão de espaços individuais que os agentes conseguem realizar empreendimentos. No tocante aos direitos de propriedade, o autor mostra como a segurança advinda desse princípio propicia a geração de riqueza: "A grandeza de um estado e a felicidade de seus súditos, por mais independentes que sejam em alguns aspectos, costumam ser indissociáveis do comércio; e, na medida em que os homens privados têm maior segurança, no controle de seu comércio e de suas riquezas, o povo se torna mais poderoso em proporção à opulência e ao comércio extenso desses homens".
No final das contas, o que de fato buscamos é a felicidade: "O grande objetivo de todo trabalho humano é alcançar a felicidade". Ocorre que às vezes nos perdemos nesse caminho, confundindo o objetivo com outras metas, as quais podem nos conduzir para o oposto do almejado.
Temas adicionais são debatidos, como religião, morte e escravidão. Dependendo da edição do livro, poderemos ler uma carta de Hume para Adam Smith, prevendo, corretamente como o tempo demonstrou, o sucesso que seria a obra A Riqueza das Nações. Também vale a leitura do artigo que Hume escreveu pouco antes de morrer, questionando o que o faria querer viver por mais tempo. A resposta desse questionamento permeou todo o ano de 2020, e continuará nos perseguindo no atual ano. Isso apenas mostra a atualidade de Hume.
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