segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Quando a redução da competição prejudica o crescimento

Agentes seguem incentivos, e a competição é um dos principais que existe

concorrência


A saída formal da Inglaterra do bloco de economias europeias, a União Europeia, processo taxado de Brexit, trará inúmeros trabalhos e discussões no futuro. A revista The Economist utilizou tom pessimista em relação à produtividade e ao crescimento do PIB inglês

Após a segunda Guerra Mundial (1939-1945), Alemanha e França, em maior dimensão, seguidos pela Inglaterra, estavam parcialmente destruídos, com máquinas, instalações e empresas prejudicados pelo conflito. Como sabemos hoje, os alemães mostraram impressionante recuperação da produção logo após o conflito, recebendo a alcunha de "milagre alemão".

Todavia, a Inglaterra não mostrou o mesmo ritmo - durante as décadas de 1950, 1960 e 1970 o crescimento ficou aquém ao dos vizinhos. Segundo analistas, uma explicação é a de que a economia inglesa atrasou o seu ingresso no Mercado Comum Europeu, embrião da atual União Europeia. Em termos práticos, a Inglaterra entrou nesse mercado somente em 1973, enquanto a maioria dos países em 1957. 

A diferença de período significou menor competição na Inglaterra. Essa economia era marcada por carteis e poucas empresas nos diferentes ramos de produção. Nesse tipo de conjuntura, a inovação, a produtividade e o crescimento ficam comprometidos. Como empresas e empresários não se chocam com outros agentes mais produtivos, o risco de perder renda e mercado são menores, logo, os incentivos para aprimorar métodos de produção não são pujantes, como seria o caso em um ambiente de maior competição. Em resumo, a economia inglesa era pouco dinâmica. 

Ainda de acordo com a reportagem da revista, os méritos da "ressurreição" da economia foram dados à dama de ferro, Margaret Thatcher. O governo de Thatcher durou de 1979 a 1990, o qual representou uma inflexão na forma de organização da economia, com maior empenho para desenvolver a competição doméstica. Por outro lado, e esse é um dos maiores desafios da Ciência Econômica, esse mesmo governo se beneficiou dos efeitos do acordo comercial de 1973. Como separar os efeitos?

No Brasil, podemos destacar a abertura comercial promovida pelo presidente Fernando Collor no início da década de 1990. Essa política viria a auxiliar o Plano Real na estabilização dos preços. O mecanismo é o de que a competição doméstica foi incrementada, fazendo com que a remarcação de preços se tornasse mais difícil, com maiores custos - o concorrente poderia não elevar os preços, fazendo com que a empresa rival perdesse renda e mercado. De forma análoga com a experiência inglesa, é difícil separar os efeitos. É uma das características da economia: os efeitos de políticas realizadas hoje não se restringem somente ao presente, mas se propagam ao longo dos anos

Por fim, há o prognóstico de que a Inglaterra terá menor crescimento com o Brexit, uma vez que a competição doméstica tenderá a ser mais fraca. Nesse sentido, cito o Brasil como caso típico do que os ingleses podem sofrer. Temos uma economia com monopólios, oligopólios (e carteis?), com baixa competição doméstica, insuficiente exposição ao ambiente internacional, portanto, parcos incentivos para as firmas inovarem. Essa descrição é um dos fatores do porquê nosso país cresce a taxas inferiores aos demais.

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