Ricardo ajuda a sepultar teorias mercantilistas e mostra a estrada para a evolução da Ciência Econômica
Ricardo
é um dos grandes nomes da economia, com teorias ainda hoje sendo aplicadas,
como é o caso da famosa teoria das vantagens comparativas. É um autor clássico,
tendo ajudado a desmistificar as práticas mercantilistas e auxiliado na
pavimentação e fundamentação da economia de livre mercado.
Assim
como Say e Adam Smith (resenhas aqui e aqui), Ricardo considera o intervencionismo do Estado nos
negócios produtivos como prática contraproducente, reduzindo a margem de
liberdade dos empresários e, consequentemente, as aplicações de capital mais
vantajosas que ocorreriam, culminando em uma economia com menor produção. O
autor fornece a raiz do raciocínio que daria origem à teoria da Equivalência
Ricardiana, trabalhada pelo economista Robert Barro no final do século XX. De
acordo com ela, todo o gasto público não geraria maior crescimento, pois os
agentes perceberiam que esse gasto seria financiado por maior tributação
futura. Mesmo se o Estado sustentar o gasto adicional por meio do financiamento
de títulos públicos, o resultado seria inócuo, uma vez que os agentes também
compreenderiam que tal dívida deveria um dia ser sanada. Cabendo talvez às
gerações futuras o fardo do endividamento público.
É
interessante a preocupação de Ricardo com as gerações futuras, algo pouco
compreendido atualmente em relação à reforma da previdência do Brasil e da
França. Como o Estado distribui o pagamento dos benefícios para os aposentados
de forma desproporcional à arrecadação, e a composição demográfica indica que o
número de idosos irá se elevar em relação ao dos trabalhadores ativos, o único
resultado possível é a geração de déficits, os quais seriam financiados pela
geração futura, por meio de maior tributação. Ao evidenciar essa transferência
intertemporal de impostos, Ricardo contribuiu para as teorias que trabalhariam
com a distribuição de recursos ao longo do tempo.
A teoria
da vantagem comparativa mostraria que não há soma zero no comércio
internacional – todos os países se beneficiariam da troca de mercadorias,
embora alguns poucos indivíduos saíssem perdendo. Mesmo se determinada economia
é menos produtiva do que alguma outra, o comércio é vantajoso para a primeira
na medida em que esta pode se especializar na produção do bem no qual a segunda
economia é menos produtiva – resultado pouco intuitivo em um primeiro olhar,
mas perceptível ao verificar os dados e pesquisas sobre comércio internacional.
O tempo mostraria que a teoria passaria no teste empírico, evidenciando a
relação positiva do comércio internacional com a prosperidade e a riqueza das
nações.
David
Ricardo utiliza em vários momentos os sinais do mercado para construir o seu
raciocínio. Em particular, a taxa de lucro é essencial para fornecer as
informações para os produtores, indicando quais setores o capital seria mais
bem investido, gerando maior retorno e, portanto, maior produção de mercadorias
– e empregando maior contingente de pessoas. Implicitamente o argumento da
liberdade econômica é utilizado – lugar comum nas obras de Smith e Say.
Há
equívocos que seriam apontados e superados ao longo do tempo, como a limitação
do crescimento populacional com a disponibilidade de fundos destinados ao seu
emprego e a remuneração dos trabalhadores atrelada à subsistência. Outro
escorregão seria visto no temor de Ricardo com os efeitos da crescente
mecanização da produção, a qual poderia acarretar em vultoso desemprego –
parece que nas edições iniciais Ricardo era otimista nesse ponto, mas alterou o
seu argumento com o passar dos anos. Todavia, esses pequenos erros não
atrapalham as contribuições que o Princípios proporcionou para a Ciência
Econômica, principalmente ao antecipar problemas que seriam enfrentados na
atualidade, como o deslocamento do fardo fiscal sobre as gerações futuras.
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