Sistema econômico é formado pela interdependência de suas variáveis
A recente elevação da taxa de câmbio para próximo de 6 reais por dólar suscitou discussões sobre a estabilidade do ambiente macroeconômico. Em geral, observar abruptos aumentos dessa taxa é indício de possíveis desequilíbrios na economia, todavia, como discuti em outra oportunidade, olhar apenas para ela pode nos levar a cometer equívocos sobre a conjuntura da economia. Como regra, o todo vale mais do que apenas partes dele. Explicarei essa frase no decorrer do texto.
Começarei com um exemplo de um vizinho latino. O México em 1994 enfrentou uma das crises financeiras mais fortes de sua história. Além de forte entrada de capital externo, sem a devida correspondência na melhora dos fundamentos da economia, o país sofria com instabilidade política, com o ápice ocorrendo com o assassinato de um dos seus principais líderes políticos. Os investidores não tardaram em responder a esses eventos, retirando de forma maciça o capital outrora investido. O termo conhecido para essa rápida e volumosa saída de capitais na literatura é capital flight (fuga de capitais).
O importante para nosso interesse é como essa fuga de capitais impactou o equilíbrio macroeconômico mexicano. Conforme dólares saíam da economia, a taxa de câmbio se depreciou (entre novembro de 1994 e março de 1995, a desvalorização foi de quase 50%). Essa saída de dólares representou menor quantidade de poupança, consequentemente, a taxa de juros também subiu (partiu de 14% e atingiu 70% no mesmo período especificado). Menor poupança e juros elevados (e também maior incerteza geral) culminaram no mergulho do investimento, acarretando a queda da produção e do emprego.
Observe que bastou um evento para ativar toda a cascata de alterações nas variáveis. Com o receio de investidores, tanto as taxas de câmbio quanto de juros subiram. O equilíbrio foi perdido, dando origem a uma economia instável.
Podemos facilmente fazer uma analogia com esses acontecimentos com a situação atual do Brasil. O crescente endividamento público com trajetória explosiva, aliado com a inépcia para realizar reformas que possam melhorar o gerenciamento dessa dívida e a piora da pandemia, são elementos que podem, no futuro breve, ativar maciça saída de capital do país. Caso esse cenário se concretize, perceberíamos consequências semelhantes com as do México: rápida desvalorização do câmbio, aumento da taxa de juros e quedas do investimento e da produção. É uma hipótese que tem se tornado cada vez mais crível conforme o tempo passa e os fundamentos da economia pioram.
Voltando à frase: "o todo vale mais do que apenas partes dele", e considerando a experiência mexicana, perceba que analisar apenas a taxa de câmbio forneceria imagem incompleta de tudo o que estava ocorrendo. Um retrato mais fidedigno consideraria outros preços, como a taxa de juros. Economias são formadas por vários preços, sendo a taxa de câmbio um deles.
Oscilações da taxa de câmbio geram vencedores e perdedores. Em uma depreciação, os exportadores saem ganhando, pois têm maior facilidade em vender os seus produtos. Por outro lado, consumidores perdem, uma vez que mercadorias importadas se tornaram mais caras. Seria imprudente apontar qual o melhor comportamento, ou o valor ideal que a taxa de câmbio poderia apresentar. Há, todavia, uma recomendação de política econômica: permitir que o câmbio varie, com poucas ou nenhuma intervenção, dado que ele auxilia os mercados a se equilibrarem. A taxa de câmbio reflete, em última instância, diferenciais entre moedas estrangeiras e os respectivos preços nacionais.
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