terça-feira, 30 de março de 2021

Resenha: A Nova Era e a Revolução Cultural (Olavo de Carvalho)

Olavo mostra a influência ideológica sobre a sociedade brasileira, e discute suas consequências

nova era revolução cultural


Olavo de Carvalho é tido como um dos pensadores que ajudaram na ascensão da direita brasileira no campo político. No atual governo, suas ideias se fazem presente, influenciando nomeações e posições a serem tomadas. Ao mesmo tempo, sua postura, principalmente pelo uso de palavras de baixo escalão, o colocam como figura controversa no debate nacional. Com o interesse de entender melhor a evolução das correntes políticas do Brasil, decidi ler essa obra, tida como uma das principais de Olavo. 

O autor se encarrega de mostrar aos leitores a influência do discurso ideológico, com teor marxista, sobre os posicionamentos em várias instâncias de nossa vida. Esse discurso conseguiria influenciar a condução da política, da economia, normas sociais e interpretação dos fatos. É a mesma crítica que um dos mentores de Olavo de Carvalho, Roger Scruton, tece em sua obra. 

Esse discurso seria marcado pelo deslocamento da responsabilidade individual para a responsabilidade coletiva - tópico discutido por grandes nomes ao longo da história, como Mises, Milton Friedman, Hayek, Popper e John Stuart Mill. Com um exemplo usado pelo próprio autor, atos de criminalidade poderiam ser justificados devido ao contexto de pobreza, desigualdade e exclusão da sociedade brasileira. O criminoso poderia, com isso, se isentar de maior culpa moral, pois seria uma vítima da sociedade. Nós o "produzimos", logo, nós devemos arcar com a responsabilidade dos seus atos, não ele próprio.

Durante a obra, dois autores são analisados para mostrar como influenciaram o pensamento brasileiro. O primeiro é Fritjof Capra, e o segundo, de maior relevo, Gramsci. Este último seria responsável pela revolução cultural em andamento no país.

A estratégia de Gramsci consiste em influenciar as gerações novas por meio da educação e cultura, de forma sutil, sem explicitar o real motivo da intenção. Nesse sentido, a ideia de certo e errado perderia espaço para o objetivo maior: promover o ideário socialista. Logo, poder-se-ia realizar uma revolução nas mentes das pessoas, sem a necessidade do uso de violência física. Nas palavras do autor: "amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. Assim, quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior naturalidade".

O livro afirma que o Partido dos Trabalhadores (PT) estaria fazendo uso dessa estratégia, e que o mesmo conseguiria se alçar no poder em breve (o livro foi escrito em 1994), com poucas barreiras para limitar o seu poder, uma vez que a população já estaria, parcialmente, convertida para suas ideias por meio de Gramsci. De novo, é a questão do "politicamente correto", pauta quente nos dias de hoje. 

Em meio a essa "revolução cultural", a religião perderia espaço, vista como instituição burguesa. Para o autor, isso colocaria toda a sociedade em risco, pois uma das principais funções do Catolicismo é a imposição de regras e valores morais sobre comportamentos lesivos entre indivíduos. Podemos conectar esse ponto com a transferência da responsabilidade coletiva. As sanções católicas ocorrem pelo pensamento individual, pela consciência ao realizar o ato. Essas ponderações fazem parte da responsabilidade individual, portanto, com o seu enfraquecimento, esvazia-se, concomitantemente, o poder da religião sobre as pessoas. 

No geral, o livro se desenvolve com esse argumento e engloba outros tópicos, com ênfase na política do país. Sobre as ressalvas da obra. Posso apontar os ataques pessoais que Olavo realiza sobre algumas personalidades, ato desnecessário em uma obra com o objetivo de discutir ideias. Embora não exista uma regra formal, a recomendação é discutir, debater e questionar ideias, não a pessoa em si. Outro ponto é o uso de xingamentos, totalmente desnecessários em uma prosa bem desenvolvida e articulada, como é a de Olavo. 

Talvez a maior objeção à obra seja o escopo de sua teoria. Olavo acertou ao mostrar que a sociedade brasileira sofreu influência do pensamento de Gramsci, e que suas ideias alteraram o discurso político e econômico. Acertou ao apontar que o Foro de São Paulo era local de encontro de lideranças de partidos de esquerda - algo admitido posteriormente por Lula -, incluindo indivíduos marcados por atos criminosos, como líderes da FARC. Profetizou a ascensão do PT, ao mesmo tempo apontando os problemas que ela acarretaria (talvez essa previsão tenha angariado vários seguidores para ele quando o PT começou a decair, em meio a escândalos de corrupção). Todavia, parece que Olavo se empolgou com os seus acertos, e ampliou a abrangência de suas previsões. Daí temos algumas teorias da conspiração, exageradas em seus possíveis resultados. Por exemplo, é um exagero afirmar que o Brasil estava a um passo de se tornar um país socialista, que mentes e cabeças já pensavam dessa forma. O mesmo é válido para um suposto movimento articulado entre instituições internacionais, como ONU, FMI e Banco Mundial para implementar o socialismo. Foge da realidade esse tipo de afirmação. 

O Brasil é uma economia de mercado com várias deficiências. Temos regras e regulamentos que prejudicam o funcionamento dos mercados, ao mesmo tempo contribuindo para o aumento da desigualdade de renda e da disseminação de pobreza. Alguns de nossos mecanismos institucionais prejudicam a realização de reformas que poderiam mitigar esses problemas, como a facilidade de barrar reformas por grupos de pressão e/ou a existência de dezenas de partidos que operam para dificultar a ascensão de possíveis coalizações pró-reforma. Temos, em outras palavras, uma economia problemática, mas nada de socialista. 

No final das contas, vale a pena ler o livro A Nova Era e a Revolução Cultural? Sem dúvidas. É uma obra bem argumentada e com adequada contextualização com a realidade brasileira, a qual consegue explicar a ascensão da direita religiosa no país, o seu descontentamento e suas ambições sociais - pautas legítimas em um regime político democrático, no qual grupos têm espaço para reivindicarem os seus desejos. É verdade que peca nos pontos que citei anteriormente, mas não compromete o resultado final. Vale lembrar também que avaliei o Olavo de Carvalho que escreveu esse livro, não o Olavo dos vídeos de Youtube. Até porque não o acompanho em redes sociais; fico sabendo de alguns de seus posicionamentos por terceiros. Posicionamentos que me fazem questionar se o autor perdeu qualidade como intelectual ao longo do tempo, pois o que pode ser lido no livro dessa resenha são palavras de um autor erudito, em contraste com o que fico sabendo nos dias atuais. Talvez Olavo sucumbiu da doença que o craque Tostão disse que alguns gênios do futebol sofrem: a fama empobrece o ser humano. 






2 comentários:

  1. De acordo com a confissão do próprio comentarista do livro do professor Olavo, de que o conhece por comentários de terceiros, afirmo que, seu comentário não merece nenhuma credibilidade ou atenção, ou algum valor informativo.

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