Como realizar reformas mesmo quando grupos pressionam para não realizá-las?
O encontro de poucos cantores sertanejos com o presidente Jair Bolsonaro ilustra uma das principais dificuldades de realização de reformas e também explica a variedade de privilégios para grupos de interesse. Como se sabe, os cantores reivindicaram crédito para aliviar a situação atual. Embora o termo não tenha sido usado, o que solicitaram foi benefício e/ou privilégio creditício. Isto porque temos um sistema financeiro, por meio de bancos, que poderia provê-los nessa demanda. Pelo governo, por outro lado, há a possibilidade do crédito subsidiado.
Esse é um lado da moeda. O outro lado é que toda a sociedade financiaria esse privilégio. É a regra simples de privilégios: poucos se beneficiam, e o restante, os excluídos, pagam a conta. É uma das características marcantes do nosso país a concessão de benefícios para distintos grupos, os quais se reúnem, combinam pautas e a forma de reinvindicação, e finalmente formalizam o pedido, sempre sob o manto de "ajudar a sociedade" de alguma maneira. Em particular, no caso desse grupo sertanejo, a frase foi: "O segmento engloba milhões de pessoas, desde a senhorinha do camarim até a comunidade circense".
Esse encontro ilustra uma de nossas dificuldades porque, considerando os entraves em nossa economia, como uma insuficiente abertura comercial, a redução de impostos sobre importados, a maior facilidade na entrada de mercadorias estrangeiras e a desburocratização para o influxo de multinacionais representariam ganhos para a população brasileira em geral, entretanto, é uma tarefa hercúlea reunir o interesse de milhões de pessoas. Entretanto, empresas e grupos corporativos que se beneficiam de uma economia fechada, com baixa competição doméstica, conseguem se reunir e defender a continuidade de seus interesses. Interesses diametralmente opostos aos da população. Mas veja que esses grupos conseguem facilmente se reunirem e pressionarem o governo, enquanto os milhões de brasileiros, dispersos ao longo de vasto território, não têm a mesma facilidade.
Dessa forma, reformas que colidam com interesses de pequenos grupos sofrem para avançar. A reforma administrativa é emperrada por funcionários públicos, o respeito ao teto do funcionalismo sofre pressão do judiciário, a abertura comercial é dificultada pelos oligopólios e grandes empresas do país, privatizações são bloqueadas por partidos que utilizam cargos dessas empresas como moeda de troca em negociações políticas, entre outros casos.
O Brasil não é para amadores. É um país que apresenta enorme dificuldade para ser gerenciado. Conciliar a pressão desses grupos e avançar nas reformas continua sendo um dos principais obstáculos para a equipe econômica comandada por Paulo Guedes.
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