quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Resenha: Estabilizando uma Economia Instável (Hyman Minsky)

Minsky apresenta a teoria da instabilidade financeira

estabilizando uma economia instável


Hyman Minsky é considerado por muitos pesquisadores como um dos principais seguidores de John Maynard Keynes, economista que revolucionou o entendimento de recessões, "fundador" da macroeconomia e que mostrou o caminho de recuperação econômica após a Grande Depressão de 1929. Sem deixar de mencionar o seu excelente livro As Consequências Econômicas da Paz no qual profetizou o surgimento da Segunda Guerra Mundial em decorrência do Tratado de Versalhes e a subsequente imposição de um fardo desproporcional aos alemães (em breve farei resenha dessa obra). 

Minsky utiliza conceitos de Keynes, como o espírito animal, o apetite de investidores por oportunidades de valorização do capital e busca de lucros para construir sua famosa teoria da instabilidade financeira. Essa teoria nos diz que o sistema de economia de mercado (Minsky se refere a ele como capitalismo, eu prefiro o termo economia de mercado) possui inerente tendência para a criação de crises financeiras. Esses eventos ocorreriam de forma endógena, isto é, gerados pelo próprio sistema. De booms (períodos de forte crescimento) a economia caminharia para a eclosão dessas crises. Característica inevitável de economias de mercado. 

Durante a expansão da produção, firmas buscam financiamentos no mercado. Novas dívidas são levantadas na expectativa de que as receitas futuras compensem esse passivo. Diferentes produtos financeiros são criados, contribuindo para o aumento da demanda por eles, empurrando, consequentemente, os seus preços para cima. De tempos em tempos, os planos de produção e rentabilidade das firmas são frustrados, tornando não somente a realização do lucro projetado inexequível, como também dificultando o pagamento das dívidas que financiariam todo o processo.

Soma-se a essa engenharia alavancagens (algo parecido com o que ocorreu na Crise Financeira de 2007), ou seja, firmas tomam quantidade de capital emprestado superior aos seus patrimônios. O descasamento entre ativos e passivos financeiros desestabiliza o sistema. Outros participantes, que forneceram o capital para as firmas, se veem em dificuldades, enfrentando maior restrição de liquidez. Os preços dos ativos tendem a despencar nessa conjuntura. 

O importante dessa descrição é perceber que a formação de crises não dependeria de eventos exógenos ou extraordinários, como a chegada de um vírus desconhecido, mas da própria lógica de funcionamento do mercado. Empresas se endividam porque vislumbram oportunidades de lucros. A não realização desses lucros coloca o sistema em dificuldades, com as dívidas financeiras exercendo relevante papel na cascata que se forma e se desenrola sobre a economia. 

Implicitamente (ou nem tão implícito), Minsky interpreta a economia de mercado como sistema falho: "a capitalist economy is inherently flawed because its investment and financing processes introduce endogenous destabilizing forces". Essa visão é oposta à de Adam Smith, o qual, por meio da metáfora da Mão Invisível, afirmou que a economia de mercado, com cada agente buscando a otimização de suas preferências, gera harmonia entre produção e consumo, com a maximização do bem estar. De acordo com Minsky, "In a world with capitalist finance it is simply not true that the pursuit by each unit of its own self-interest will lead an economy to equilibrium. The self-interest of bankers, levered investors, and investment producers can lead the economy to inflationary expansions and unemployment-creating contractions". Enquanto Adam Smith analisou majoritariamente o lado real da economia (bens e serviços), Minsky observou o lado financeiro, o dos ativos e passivos financeiros, dívidas, títulos e derivativos. 

Vale dizer que o livro Estabilizando uma Economia Instável foi escrito muito antes da crise de 2007 - ao descrever antigas crises financeiras, terminou por fornecer subsídios para a compreensão da fortíssima crise que viria no século XXI, a qual abalaria as economias avançadas, com epicentro na Europa. A leitura desse livro ajuda a compreendermos os mecanismos de financiamento das firmas, bem como as consequências da frustração de projeções. Além disso, fornece uma visão um pouco mais crítica das economias de mercado - recomendado para aqueles que gostam de ler o contraditório. 




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