Mundo econômico não será o mesmo após a superação do covid-19
Conforme foi muito bem apontado por Alexandre Schwartsman (texto aqui), a dívida pública brasileira irá saltar de patamar após o fim do covid-19 (de 75,8% do PIB para algo próximo de 86,7%), e isso resultará em uma tarefa mais difícil ainda de ajustar as contas públicas - já não era fácil antes da eclosão do covid.
Na sua coluna, Samuel Pessoa alonga essa previsão e recomenda a realização, ou continuação, de reformas (texto aqui). O raciocínio é simples: como teremos maior dívida acumulada no combate à pandemia, tornar-se-á necessário medidas para conter o endividamento (reformas tributária, administrativa e emergencial).
Veja que medidas para sustentar a economia em meio a atual crise são totalmente conciliáveis com a agenda de reformas. O que não podemos perder de vista é o fato de que todo crédito e subsídio concedido pelo governo implica em maior endividamento público. E também que para pagar esse endividamento será necessário: i) redução de gastos, ou ii) aumento da tributação. Caso não aceitarmos nenhum desses dois caminhos, teremos iii) aumento da inflação (o que reduz o poder de compra de todos). No limite, se também recusarmos aumento da inflação, teremos moratória da dívida, e estaremos nos juntando ao time da Venezuela e Argentina. De fato, embora batida a frase, não existe almoço grátis.
Veja que medidas para sustentar a economia em meio a atual crise são totalmente conciliáveis com a agenda de reformas. O que não podemos perder de vista é o fato de que todo crédito e subsídio concedido pelo governo implica em maior endividamento público. E também que para pagar esse endividamento será necessário: i) redução de gastos, ou ii) aumento da tributação. Caso não aceitarmos nenhum desses dois caminhos, teremos iii) aumento da inflação (o que reduz o poder de compra de todos). No limite, se também recusarmos aumento da inflação, teremos moratória da dívida, e estaremos nos juntando ao time da Venezuela e Argentina. De fato, embora batida a frase, não existe almoço grátis.
Prosseguindo o raciocínio, Samuel Pessoa lembra o risco de que algumas medidas adotadas para conter a crise se tornem permanentes. Ele cita o exemplo do agigantamento do BNDES em 2009.
O mesmo receio foi afirmado pela revista The Economist (texto aqui). Nos últimos 500 anos, sempre que o governo teve de se envolver mais na economia para superar determinada situação caótica, o resultado foi, após a superação do evento, a continuidade de algumas medidas. Um dos argumentos é o de que "while it is easy to ratchet state spending up, it is much harder to push it down". A experiência mostra a veracidade dessa assertiva.
Destaco aqui algumas mudanças significativas no campo econômico:
i) banco central se tornou emprestador de última instância não somente de bancos ("too big to fail"), como também de empresas do setor produtivo, ou seja, a autoridade monetária está alargando sua política tanto para o setor financeiro quanto para o setor produtivo;
ii) governos estão se comprometendo a sustentar empregos e empresas;
iii) governos estão implementando esquemas de renda mínima universal;
Após o fim da pandemia, haverá grande pressão, por políticos e grupos, para a sustentação de algumas (ou parte) das medidas elencadas. No mais, o gráfico abaixo, da The Economist, resume todo o cenário. Veja que por volta de 1800 o gasto público/PIB era de 5%, e foi aumentando ao longo do tempo. Observe também que para sustentar o maior gasto foi necessário o crescimento da tributação. É a velha história do almoço grátis.
Excelente e preciso.
ResponderExcluirAinda corremos o risco de vivenciar medidas economicas desastrosas, como o controle de preços e confiscos de mercadorias.
Obrigado. Sim, esse risco existe. Denúncias de "preço abusivo" já estão ocorrendo. É uma incompreensão da lei da oferta e da demanda.
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