Hayek descreve a estrada para a servidão e mostra como superá-la
Laureado
com o prêmio Nobel de economia em 1974, Friedrich August von Hayek pertenceu à
geração de ouro da escola austríaca de economia, tendo dedicado a vida
acadêmica a combater doutrinas coletivistas. Sua influência atingiu, na
década de 1970, ninguém menos do que a Dama de ferro, Margaret Thatcher, ao
elaborar o plano de governo que representaria uma inflexão teórica e prática na
conduta do povo britânico, com um governo voltado para as ideias liberais –
após anos flertando com teorias socialistas.
Nesse
best-seller, Hayek mostra como a guinada em prol de políticas coletivistas
geraria uma sociedade dependente do governo: a mobilidade social e econômica
deixaria de ser perseguida no campo econômico, da concorrência, para se
deslocar para o campo dos privilégios, o campo da influência pessoal, dos
contatos privilegiados, do governo. É nessa diretriz que Hayek afirma que “a
mais importante transformação que um controle governamental amplo produz é de
ordem psicológica, é uma alteração no caráter do povo”.
O autor
argumenta que a causalidade historicamente retratada pelas nações é a de que a
liberdade econômica é pré-requisito para a liberdade política. Ao tentar
inverter a ordem desses fatores, o resultado poderá ser um povo desprovido de
ambas as liberdades, pois a esfera econômica protege os interesses dos
indivíduos na medida em que a propriedade privada é um dos principais alicerces
para a garantia e sustentação da liberdade individual. A propriedade privada
restringe o alcance do governo sobre a vida privada dos seus cidadãos: “o
sistema de propriedade privada é a mais importante garantia da liberdade”.
Na parte
seguinte, Hayek descreve o entendimento do individualismo na ótica liberal,
sendo uma defesa pelas características do indivíduo, a visão de que este, mais
do que ninguém, está habilitado para perseguir o que julgar melhor para sua
vida: “O individualismo (...) tem
como características essenciais o respeito pelo indivíduo como ser humano, isto
é, o reconhecimento da supremacia de suas preferências e opiniões na esfera
individual, por mais limitada que esta possa ser, e a convicção de que é
desejável que os indivíduos desenvolvam dotes e inclinações pessoais”. Em
outras palavras, é o tópico da responsabilidade individual, tema muito bem debatido
por outros autores liberais, como Ayn Rand e Milton Friedman.
Quanto
ao regime político, enfatiza que o principal traço que deveríamos observar não
é o processo per si de escolha dos representantes do povo, mas a limitação de
poder aos governantes que tal sistema carrega. De nada adiantaria uma
democracia que concedesse amplos poderes arbitrários para o governante; este se
tornaria um ditador. Portanto, é o mecanismo de freios institucionais que
importam. Não deixando de considerar o livre mercado como âncora para apoiar o
processo político.
Um dos
pontos altos do livro é a tese de que em regimes totalitários, em geral, o
indivíduo que consegue proeminência e se torna o detentor do poder centralizado
tende a ser uma pessoa com poucos princípios, inescrupulosa, inclinada a adotar
quaisquer métodos desde que se atinja determinado fim estabelecido: “Assim como
o estadista democrata que se propõe a planejar a vida econômica não tardará a
defrontar-se com o dilema de assumir poderes ditatoriais ou abandonar seu
plano, também o ditador totalitário logo teria de escolher entre o fracasso e o
desprezo à moral comum. É por essa razão que os homens inescrupulosos têm mais
probabilidades de êxito numa sociedade que tende ao totalitarismo”.
Provavelmente Hayek tinha Hitler, Mussolini e Stalin sob o olhar ao desenvolver
esse raciocínio – homens com poucas considerações pelos governados.
Esse
livro foi escrito em um período no qual o socialismo e a sua intrínseca
centralização de poder se expandia no globo (1944) – e os flagelos deixados por
esse sistema iniciariam a emergir, embora não tão evidente quanto nas décadas
seguintes. Hayek teve a preocupação de explicitar que a permissividade com o
crescimento dos controles governamentais sobre a vida privada tornaria a população
gradativamente mais refém dos ditames e caprichos de poucos homens. O austríaco
desejava alertar para os riscos que essa postura daria origem. Se atualmente
vivemos em democracias liberais, certa dose de crédito deveria ser concedida
para Hayek.
Um visionário?Um profeta? Estamos vivendo isso aqui no Brasil de hoje, 2023..
ResponderExcluirFantástico!
ResponderExcluirEstado mínimo para o povo e máximo para o capital em defesa da propriedade privada, ou seja privatização.
ResponderExcluirO individualismo da elite, que fatura bilhoes de dolares e deixa a população a ver navios. Primeiro mundo sequer consegue oferecer moradia pra seus habitantes e doentes sem fortuna são despejado nas ruas ainda com roupão de hospital. Parabéns, hayek!
ResponderExcluirO Hayek não defendia a concentração de renda na mão de poucos. O pensamento de Hayek foi pautado em alguns princípios como: i) incentivos para indivíduos buscarem suas ocupações, profissões, ii) baixo intervencionismo do governo, iii) liberdade para os preços da economia se ajustarem para que indivíduos tivessem uma espécie de bússola para guiar suas decisões, e iv) desenvolvimento e metamorfoses das instituições de acordo com os desafios da sociedade. Concordo que em alguns países temos alta concetração de renda (como o Brasil), e que mesmo em países ricos, há problemas sociais, como você especificou. Mas discordo que Hayek tenha responsabilidade teórica sobre o resultado. Alguns dos problemas existentes surgiram muito antes de Hayek: por exemplo, indivíduos sem moradia não é um produto da economia de mercado.
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